quinta-feira, 31 de outubro de 2013

E.P.Thompson, zagueiro da seleção inglesa

Por Máximo



Perguntado agora sobre Thompson e as supostas consequências do que ele disse sobre as manifestações na Copa das confederações, o treinero foi incisivo:

"Não falo sobre nomes que não estejam na lista. Muito menos sobre declarações de atletas estrangeiros que querem perturbar o nosso ambiente interno."

SRN

Ao Invés de Canarinho, Galinha Verde

Por Máximo



Quando a situação aperta, costumo desenhar de parede de botequim à cartilha de evangélico. Uma plasticidade que ajuda muito, sobretudo pra desenhar orixás e caboclos, pelo colorido, pelas possibilidades de formas. Foi o que me valeu, durante algum tempo, uma loja de artigos religiosos aqui em Vila Isabel, perto da 28. Aliás, na 28 mesmo, quase esquina com a Souza Franco tem o caboclo Sete Flechas que não sei se poderia ajudar o treinero do 11 de setembro de 1973. O negócio é o treinero  sair da cbf , agora na Barra, descer o Alto, e vir aqui em Vila Isabel consultar um caboclo de confiança a fim de saber das condições e da disposição do plínio salgado em defender o time do marin e vírus anexos. Plínio e Hulk: não é uma maravilha de ataque pátrio pra copa?

SRN

O Cuco do Ufanismo

Por Máximo




Como se já não bastasse ajudar a implantar a Era do Caveirão, em que aprendemos a jogar sem bola, marcando pressão e fazendo falta, o treinero do 11 de setembro de 1973 faz a recidiva do ufanismo. Pede a cassação da cidadania de Diego Costa, que se recusa a jogar no time da cbf de blatter, marin e vírus anexos. 

Terá a literatura pátria perdido mais um poeta do silêncio?

SRN

À Simplicidade do Zagueiro Campeão de 74

Por Máximo



A simplicidade é, de fato, uma conquista. E Jaime não poderia ser senão Rubro-Negro. 

Não poderia ser tricolor, em meio à nostalgia de uma tradição inventada sem sequer ter lido Hobsbawm. A tricolagem me lembra aquela foto do Jânio Quadros trocando as pernas, trabalhada nesses programas de colorir por computador, muito pior do que de um pastel oleoso, mal feito à mão. 

Não poderia sofrer ser botafogo, pois, após certa idade, imunizamo-nos contra certas chorumelas e não choramos ouvindo Agnaldo Timóteo. Quanto ao resto, sobrou alguma coisa?

Pois é isso: Jaime sabe que está na simplicidade a sabedoria de enxugar o excesso de pernas criadas pelo "delfin boy" que já começara errado até nome e que atrapalhava conhecêssemos o futebol do Paulinho. Soube também ontem jogar com serenidade, sempre compacto, atrás da linha da bola, buscando os gols necessários, e um segundo tempo sem riscos. 

SRN, Zagueiro Campeão de 74

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Uso de Imagem na Sala de Aula de História

Por Máximo



Uma biografia, por exemplo, de Geraldo, "assobiador", meio-campo habilidoso do Flamengo, que surge com Zico, chega à seleção brasileira, dirigida por Oswaldo Brandão, em 1975, e morre de operação de amígdalas no ano seguinte, em 1976. Um personagem cujas contradições ajudariam a compreender um futebol de transição à pasteurização atual. Não só andava sobre a bola, na jogada famosa que Zidane imortalizaria, mas também pela sua morte, aos 22 anos, por todas as possibilidades ou, talvez, pelas que não se ensejariam, no confronto com sua concretude histórica, como se os personagens não pudessem ser diferentes do que foram, benzidos pelo destino e condenados ao heroísmo. 
Abordar Geraldo, como tema de uma biografia, já é uma escolha crítica. Impossível a ausência de paradoxos na trajetória deste mineiro que tinha até nome de personagem: Geraldo Cleofas. A um só tempo artista e desperdício, quando irritava a torcida com dribles e jogadas sem nenhum outro propósito senão o de simplesmente brincar em campo, como se estivesse numa pelada. Nessa hora éramos unânimes, no lado esquerdo da tribuna de honra: pedíamos em uníssono: Tadeu! Tadeu! -  meio-campo correto, vindo do América, que ainda existia e era um clube relevante a um ponto, até o ponto de ser considerado um dos “cinco grandes” do futebol carioca.
Geraldo também era completamente displicente em relação ao tipo de profissionalismo do futebol brasileiro. Pensamos que, neste ponto, de tudo o que já se disse sobre a sua estrutura profissional, semiprofissional, paternalista, até escravista (pela antiga lei do passe, em que o jogador era “vendido” e “comprado’, literalmente, como pé-de-obra compulsório), um modo de aproximação ao futebol brasileiro talvez esteja em considerar a incompletude das relações modernas um espaço conveniente com todas as condições objetivas e subjetivas para as questões pós-modernas, tais como, o acirramento do individualismo, a precarização do trabalho, de um lado (a maior parte dos jogadores profissionais no Brasil ganha muito mal e trabalha em condições piores ainda), do outro, a pasteurização dos estádios, a construção do espetáculo midiático, com jogadores produzidos concomitante em estúdio e no campo, “fenômenos” dados de antemão (exemplo evidente, recentíssimo, é o Pato. Quem paga o pato desse pobre-diabo inventado? O que importa, porém, é o cinismo que mói um pobre-diabo feito pelo departamento de propaganda pra ser um cracaço, quando não passa de uma atualização do Iranildo. Venderam dele o que puderam e esse craque de videogame agora é cobrado por não ter "consciência da importância e da gravidade do momento por que passa o Corínthians". E isso é dito como se o estúdio fosse o Palácio do Planalto, sem se considerar que o futebol é uma paixão que mobiliza aspectos coletivos ainda não suficientemente estudados.)
São questões que o professor pode trabalhar em sala, pois que o futebol é um tema da realidade de – podemos dizer – todos os alunos, gostem ou não de futebol.  A oportunidade de trabalhar a figura de Geraldo mobiliza a problematização de diversas categorias históricas: o tempo, a memória, a história dos “vencidos”, a relação passado-presente, além de discutir o ponto central do problema das biografias não autorizadas: os indivíduos não explicam a história, mas sem eles não há história, por isso, a importância de se conhecer-lhes as ações e como, e em que medida,  suas personalidades, características, gostos, comportamentos e idiossincrasias podem influenciar e produzir consequências históricas. Mostrar, no próprio exemplo do que o professor conhece do Geraldo e do que todos vemos e sabemos hoje do Pato, os interesses envolvidos na construção de personagens e dos problemas evidentes de uma versão autorizada, laudatória, panegírica.
SRN

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Saudações Rubro-Negras

Por Máximo




Rubro-Negro é ser todo dia. Mas, um registro e segue Mário Filho, Grande Rubro-Negro, autor do clássico "O Negro no futebol brasileiro", "Histórias do Flamengo'" e nome, pela sua contribuição ao futebol, do Maracanã, não este, pasteurizado, de blatter, marin, vírus anexos e do outro que já começou errado pelo nome: aqui no Rio, de resto, não é "mano", é meu irmão.


SRN

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Jaime sabe que a realidade existe e o Flamengo é um referente excelente

Por Máximo



Pensando na escrita, vem sempre os livros e os autores que insisto, mas, não consigo ler. Guimarães Rosa e "Grande Sertão Veredas" são exemplos. Minha atitude retoma a ilação com a entrevista de grandes cineastas, excelentes para serem lidos, a estética formando imagens com as palavras bem ditas, as ideias em estado de pureza, mas, cuja execução, quando boto o dvd, me dá sono e retorno ao futebol. Tanto o Flamengo de 81, quanto a seleção de 82, sob a direção de arte de Telê,  artefatos, de fato, visuais.Podem também virar texto. E aqui mais um exemplo: falar de Jaime é escrever uma crítica à imposição pós-moderna que trabalha a imagem antes de derivá-la  do lugar material que lhe cabe. Assim como um texto só pode produzir transformações porque extrapola sua própria materialidade, reduzindo-se a encerrar-se apenas no que é linguagem, Jaime não necessita de uma imagem prévia, com elementos compósitos de um MBA lato sensu típico desse mundo da bola de arrivismo de celebridade que nos dá blatter, marin e vírus anexos, além de um maracanã pasteurizado. 

Jaime soube ver do que o Flamengo precisa. No jogo contra o botafogo, um problema, uma hipótese e os 4 x 0. O lado direito deles improvisado, Jaime atacou ali, através de um Paulinho, a quem, de resto, também ensinou a deixar o excesso de pernas da época do cara que era errado até no nome: aqui no Rio não é mano, é meu irmão. 

Jaime sabe que a realidade existe e o Flamengo é um referente excelente.

SRN

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Quem paga o pato do pobre-diabo que inventaram?

Por Máximo




Pato é o exemplo mais bem acabado desse futebol adjetivado por esta palavra aporrinhola: "midiático". O que importa, porém, é o cinismo que mói um pobre-diabo feito pelo departamento de propaganda pra ser um cracaço, quando não passa de uma atualização do Iranildo. Venderam dele o que puderam e esse craque de videogame agora é cobrado por não ter "consciência da importância e da gravidade do momento por que passa o Corínthians". E isso é dito como se o estúdio fosse o Palácio do Planalto. Futebol é uma paixão que mobiliza aspectos ainda não suficientemente estudados. Mas, o que não pode é  esse pobre-diabo pagar o pato que lhe inventaram.

SRN

Sintoma "Delfin Boy"

Por Máximo




Quanto mais eu vejo essa torcida, menos vontade de ter aqui no Rio esses treineros "delfin boys" do milagre econômico da bola de celebridade arrivista. O sintoma desses tipos encontrou expressão exata no pedido de demissão do arremedo de lato sensu de MBA: o celular. O cara era errado até no nome: aqui no Rio não é "mano", é meu irmão. 


SRN

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Hernane que estais no céu, santificado seja o vosso Leo Moura...

 Por Máximo


...nesta data querida.


SRN


Leo Moura foi melhor do que o pastor

Por Máximo




Leo Moura faz hoje 35 anos, 8 de Flamengo. Certamente, superior ao pastor que quis mudar o símbolo do América porque era do capeta. Depois do Grande Leandro, Peixe Frito, o maior lateral direito da história do futebol mundial, nas palavras de ninguém mais ninguém menos do que Telê, diretor de arte da seleção de 82. Penso que a melhor maneira de lembrar do aniversário de Leo Moura é conjugá-lo à imagem do Grande Peixe-Frito.

SRN, Leo Moura.

"Eu disse circuladô, mas tem chororô?"

Por Máximo




"Eu disse circuladô, mas tem chororô? E os limites do público quando as lágrimas alvi-negras molham no privado? Aliás, por que me metem sempre nessas arengas?"

SRN

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Benjamin: "a barbárie está escondida no conceito mesmo de cultura."

Por Máximo




No esforço de elaborar um projeto, o problema do objeto também aparece na estética: a seleção brasileira de 82, um dos referentes do período da transição política, pelo contraste estético tão mais intenso quanto menor sua capacidade de ilustrar temporalidades distintas, da tortura à abertura (1970-85). 

Benjamin: "a barbárie está escondida no conceito mesmo de cultura." Um diálogo com Le Goff, "o documento na sua dimensão de monumento, instrumento de poder". 

E aí vejo as imagens da perimetral, o prefeito nela andando de jipe: quantos cadáveres, cujos restos revolveram, anônimos, a construção da Ponte Rio-Niterói?

SRN

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Possíveis herdeiros de Jesus teriam direito nas biografias lançadas por Macedo e Malafaia?

Por Máximo




Jesus, pelo que se sabe, não deixou herdeiros, mas pode, tranquilamente, usar um caboclo de confiança para encaminhar reivindicações no debate sobre biografias. Uma das vantagens seria retirar do mercado versões não autorizadas lançadas pelas editoras do Macedo e do Malafaia. E o que interessa para a história a recuperação da biografia nesses termos, termos, de resto, muito fuleiros se compararmos com a velha história positivista, da diplomacia, do Estado, das guerras?

 Mercadoria, tudo é mercadoria. 

SRN

O futebol é o referente da realidade que irrita os pós-modernos

Por Máximo




A jogada do Hernane ontem, a bola bate na trave, nas costas do Lomba, corre na linha, bate na outra trave, percorre de volta a linha, com o carrinho do Gabriel quase a alcançando, para que, ao final, termine nas mãos do Lomba. 

Estética Rubro-Negra.

SRN

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Jaime não merece ouvir palhaçada

Por Máximo




O zagueiro tranquilo, correto, cria da Gávea e campeão carioca de 74 não merece o que ouviu hoje quando tirou o Elias que pediu pra sair por cansaço. Adiantou as linhas no segundo tempo, o time sempre compacto. Golaço do Hernane numa jogada de bola longa pro Leo Moura. 

2 x 1

SRN, Jaime

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Puros da Taça

Por Máximo




O fundamento da ditadura era a lei de Segurança Nacional, do que tudo era tributário.O futebol, evidente, não escapava. Como é evidente também que havia a paixão que não admitia tamanho enquadramento, a extrapolar placebos. O tricampeonato no México também servia à ditadura e à História Política Clássica que adora prever o passado, como se os personagens não pudessem ser diferentes do que foram, benzidos pelo destino e condenados ao heroísmo. De Castelo a Geisel, passando por Golbery e Figueiredo, havia os puros da Taça que, de resto, acabou derretida pelo argentino argentário do ouro da rua da Alfândega, ao lado da CBF, em 1983, no ano seguinte à derrota da seleção de 82, estigmatizada, "jogar bonito não ganha Copa". 

É um prazer a ironia que vem deste time de 82, cuja arte tão mais intensa quanto menor sua capacidade de ilustrar temporalidades distintas: dos puros da Jules Rimet do "milagre econômico",  derretida, à Era do Caveirão em que aprendemos a jogar sem bola, marcando pressão e fazendo falta.

SRN 

Pacto Social?

Por Máximo



Brasília, São Paulo, Minas: retorna a porrada nas arquibancadas.

Alguma ilação com a "economia moral" das ruas?

SRN

domingo, 13 de outubro de 2013

SRN, Jaime

Por Máximo


SRN, Jaime. 

O time jogou com a simplicidade eficaz, saindo rápido pro jogo, que caracteriza a sua chegada no comando da Gávea. Poderíamos ter feito dois ou três gols, tranquilamente. Não foi à toa que, ao final do jogo, aplaudimos o time e o zagueiro tranquilo, correto, campeão carioca em 74. 

SRN, mais uma vez, Jaime

Totem e Tabu


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Le Goff sob a direção de arte de Telê

Por Máximo





Vendo a Alemanha agora há pouco, 3 x 0 na Irlanda, lembrei-me de Telê. Sua direção de arte também usava desenho semelhante, um losango e a bola no meio tocada com habilidade. A seleção de 82, aliás, é uma boa hipótese de excelência, mas necessita da crítica da seleção de 70 como documento. A ideia de mobilizar a concepção de crítica ao documento como monumento, instrumento de poder. Por que a seleção de 70 é tributária a Certeau, conforme Le Goff em "História e Memória", no ufanismo do "Ame-o ou Deixe-o", separada pra virar documento? 

A bola longa, esticada pra Benedict Anderson, a nação é imaginada e o futebol tem a escala afetiva de cobrir todo o território. Não faltam excelentes trabalhos sobre a seleção de 70 nessa relação com o poder. Haverá sobre a seleção de 82, tão mais artística quanto menor sua capacidade de ilustrar a decadência da ditadura?

SRN

Rubro-Negrir

Por Máximo




Um time compacto, defendendo e saindo pro jogo. Hernane, de fato, centroavante, Leo Moura excelente na lateral, Paulinho devagar diminuindo a quantidade de pernas - tudo certamente pela tranquilidade Rubro-Negra do zagueiro sereno, correto, que foi o Jaime. 

Torço pra que, na Gávea, não apareçam mais treineros "delfin boys" do milagre econômico arrivista do mundo da bola de blatter, marin e vírus anexos. 


2 x 1

SRN

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Não Havia Horas pra Ademir da Guia

Por Máximo




Quando li o conto, "O Relógio do Hospital", do Monstro Sagrado Graciliano Ramos, lembrei-me de Ademir da Guia, outro Monstro, a despeito de nunca ter vestido o Manto, embora carioca e filho de ninguém menos do que Domingos da Guia, junto com Mozer e Aldair, os três maiores zagueiros da história do futebol brasileiro. Escreveu Graciliano: 

"No tempo não havia horas."

De fato, bastava ver Ademir jogar. 

SRN

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

As Chuteiras do Mickey

Por Máximo




Acabo de ver na ESPN o final da entrevista do presidente do Atlético Paranaense. Várias questões. Em suma: alto rendimento é puro capital: instalações, dinheiro, pé-de-bola e tecnologia. A intensificação da lógica da mercadoria, com a vida produzida num período de obsolescência cada vez menor. Não pode ser taxado de ingênuo quem recusa tal lógica. Indispensável o reforço de condutas não econômicas que a contrarie. Imprescindíveis às críticas ao shopping da bola em que transformou-se o maracanã de blatter, marin e vírus anexos. Shopping, aliás, somente viável com dinheiro público, conforme o próprio presidente do Atlético afirmou, sobretudo estádio como o que a Fifa exige, inviável ao capital privado, entre outros motivos, pelo seguinte: o preço do ingresso seria insuportável. É o tal negócio: bancamos, no Brasil, onde o futebol é prática popular por excelência, o processo de seleção de clientes da Fifa. Só falta o Mickey.


SRN

Contradição sem Síntese

Por Máximo




Basta passar pela 28, em frente à casa que fora a sede da antiga editora Conquista, e olhar pra árvore com a plaqueta onde se lê a referência do lugar onde foi raptado para a morte, Stuart Angel. Ali era um ponto de ônibus. Impossível não pensar nas contradições, aparentemente impossíveis de síntese, do que se sabe na Comissão da Verdade.


SRN

terça-feira, 8 de outubro de 2013

A gaiola de ouro carioca de 2013 e o pão inglês do século XVIII

Por Máximo




"Costumes em Comum", do historiador marxista nada ortodoxo, E.P. Thompson, é uma leitura hoje muito útil antes de qualquer explicação jornalística ou de soluções típicas conhecidas. Seguinte:

Um folheto característico (de 1768) exclamava de modo indignado contra a suposta liberdade de cada fazendeiro fazer o que bem quisesse com o que era seu. Isso seria uma liberdade "natural", mas não "civil". Portanto, segundo Thompson, "não se pode dizer que isso seja a liberdade do cidadão, ou de quem vive sob a proteção de uma comunidade; é antes a liberdade de um selvagem; assim, quem tira partido dessa liberdade não merce a proteção conferida pelo poder da sociedade. (...) O modelo paternalista estava certamente se rompendo em muitos outros pontos. (...) Até que ponto as autoridades reconheciam que seu modelo estava se afastando da realidade?"

SRN

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Verde e Amarelo Rubro-Negro

Por Máximo




“A adesão às cores de uma instituição ocorre de acordo com as representações sociais que passam a compor a identidade de um clube de futebol.” (COUTINHO, 2013, p.8)

Este trecho, que me chama logo a atenção, é revelador de como o futebol mobiliza e condiciona o registro. Lembrei-me do cenotáfio de Benedict Anderson. Também de Freud, em “Escritos sobre a Guerra e a Morte”, sua desconfiança com o exagero do número dos homens transformados pela cultura. E não é levar muito longe considerar na força social rubro-negra condicionamentos anteriores à capacidade de escolha de um indivíduo, assim como não há, na Catalunha, outra alternativa para o moleque senão torcer para o Barcelona. Pularia, portanto, este trecho para ir direto à formulação do problema: o recorte, 1933-1955, e o argumento da popularização do Flamengo, encetado a partir do profissionalismo implantado no futebol nos anos 1930 e concomitante à modernização autoritária do estado brasileiro, no desdobramento do Estado Novo, na busca de fontes populares para a política cultural nacionalista. Trata-se da contribuição rubro-negra a uma questão que mobiliza diferentes autores, com concepções distintas, à direita e à esquerda no campo teórico.

Liberal, Ernest Gellner, enxergando na industrialização europeia a condição de existência do nacionalismo, considera que o capitalismo moderno, destarte, fornece a parafernália técnica integrativa a exigir um conteúdo de escala equivalente. Benedict Anderson concorda, falando em “capitalismo editorial” e “vernaculização”. A imprensa e a escola padronizam a língua de transmissão da história da nação, marcada por heroísmo e grandeza. A organização social passa a ser regida por referentes estabelecidos pela língua padrão, sem cujo uso ficam reduzidas as possibilidades de comunicação e entendimento. Em contrapartida, não à toa, na modernidade, a importância do código no reconhecimento identitário, com grupos buscando afirmação e distinção através de linguagem simbólica própria.

O nacionalismo buscava a homogeneização, relegando as especificidades, porque seu propósito era a unidade. Uma ação tão mais intolerante quanto maior os riscos à hegemonia, de que os períodos mais críticos podem ser observados no início da modernização industrial que, na Europa, no século XIX, se confunde com a formação e institucionalização do Estado nacional e, no Brasil, adiante, nos anos 30 do século passado, no Estado autoritário sob Vargas. Cabe, pois a pergunta: o combate ao nacionalismo, nesses termos, é uma luta por democracia, democracia compreendida como um meio de constituição de direitos?

A semelhança no pensamento de Gellner e Anderson termina antes de começar a resposta. Gellner tem razão, mas em parte. A força dos meios não é suficiente. Se fosse, qualquer conteúdo seria imposto. E o nacionalismo, conforme Anderson, é muito mais do que ideologia, guarda afinidade com a religião pelo aspecto que encerra. Futebol e nacionalismo,pelo sagrado que encerram, não se restringem, respectivamente, nem ao ópio do povo nem à classificação política.

O clube, quando transformado em símbolo, constitui um meio de influência sobre o imaginário. Ajuda a nos percebermos, como nos comportamos. A popularidade do Flamengo seria uma tradição inventada. Conforme Hobsbawm, uma prática inventada, ligada artificialmente a um passado que não existiu ou a um passado remoto e que se afirma através da invariabilidade e da repetição.

Na tese de Coutinho, até onde li, a reconstrução simbólica rubro-negra amadurece com o título de 1939. Surge o “campeão do povo”, reiterado pelos jornais. É o Flamengo retomando suas “tradições”, após 12 anos sem título. Uma década perdida muito conveniente, serviu à estratégia de preenchê-la com uma suposta ansiedade popular por conquistas. O Flamengo não era exatamente um instrumento nem estava a serviço do Estado em processo de modernização autoritária, mas inscrevia-se à perfeição no projeto nacionalista que buscava – vale repetir – as fontes de uma cultura popular. Um exemplo de consenso, da conciliação de interesses no interior do poder. A reconstrução simbólica ensejada pela direção do clube na década da profissionalização do futebol, buscando o povo.

“O fato é que dizer que as nações são inventadas não resolve problema algum. Como afirma o antropólogo Roy Wagner, não há como não inventar culturas, do mesmo modo que não há como manter as suas patentes intactas: elas estão aí para ser copiadas e modificadas” (SCHARWACZS, 2011, p.14)

A citação de Lilian Scharwaczs, na apresentação que escreve para o livro de Benedict Anderson, demonstra que a antropologia não é só o conforto do consenso. Também, através da imaginação, implica conflito, aproximando a cultura popular da ideia de E. P. Thompson em “situá-la no lugar material que lhe corresponde”.

Não seria uma bela pretensão, a partir do Flamengo, ser capaz de interpretar a contradição da paixão política?

SRN



Referências Bibliográficas

COUTINHO, Renato Soares. Um Flamengo grande, um Brasil maior: o Clube de Regatas do Flamengo e o imaginário político nacionalista popular (1933-1955). Rio de Janeiro: UFF (Tese de doutorado), 2013.

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.


THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

domingo, 6 de outubro de 2013

Sábado, Domingo, Segunda, divisão


Benedict Anderson, Hobsbawm, Freyre, Freud, Leandro, Júnior e Zico

Por Máximo



O futebol é um tema tão absorvente, com possibilidades diversas de justificação, que não extrapolarei além deste acréscimo. Seguinte:

No Brasil, o imbricamento entre futebol e imprensa favorece jogar o passado aos ombros do mito. A razoabilidade da assertiva pode ser verificada a partir das ideias centrais de Benedict Anderson, "capitalismo editorial" e "vernaculização", articuladas à produção da ciência social para a explicação de se pesquisar o futebol como um lugar e uma prática dos valores correntes das sociedades urbanas. 

A importância do papel da imprensa e do romance é destacada por Anderson por revisitar, revolver, permanentemente, uma história marcada por heroísmo e grandeza. Uma história que circula desejos e valores comunitários. Para Anderson, nenhum mal: inexistem, de resto, comunidades "verdadeiras", em oposição a outras, artificiais; todas são imaginadas e compartilhadas, por gosto, entre seus membros.

Ao contrário, Hobsbawm recomenda a crítica em "Sobre  História": "história não é memória ancestral ou tradição coletiva; mito e invenção são essenciais à política de identidade". E o que propões, tarefa fundamental do historiador, é "a história mitológica ou nacionalista criticada de dentro, resistir à formação de mitos nacionais, étnicos e outros, no momento em que estão sendo formados". Não li o livro de Hobsbawm sobre o jazz, de que ele tanto gostava. Lê-lo ajudaria, eventualmente, a esclarecer quanto do prazer que o motivou a escrevê-lo não contém da luta entre uma história que circula desejos e valores comunitários e uma outra - tarefa precípua do historiador, conforme prega - criticável "por dentro","à formação de mitos nacionais, étnicos", o que for.

No futebol, uma história mítica não precisa necessariamente ser pejorativa, desde que se abra ao enfoque da paixão nos termos da relação entre futebol e história política. Um caminho nada ortodoxo pareceu-me antevisto no prefácio de Gilberto Freyre, escrito em 1947 para o livro de Mário Filho, "O Negro no Futebol brasileiro". Cheguei a "Escritos sobre a Guerra e a Morte" e "O Mal-Estar da Civilização", textos profundamente políticos, escritos por Freud, nos termos das pulsões tributárias às "forças racionais e irracionais" que Freyre, naquele prefácio, considera mobilizáveis pelo futebol ainda em seus primeiros passos, ou na adolescência, que adiante, já maduro, nos daria Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Junior; Andrade, Adílio e Zico; tita, Nunes e Lico, a enumeração do Melhor Time do século passado.

SRN

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

SRN, Jaime

Por Máximo




O Flamengo decidiu começar pela história. Jaime foi um zagueiro correto, campeão carioca de 74, ao lado de Cantareli, goleiro, também campeão daquele ano na reserva de Renato, e, adiante, ocupando intermitente a camisa 1 até a chegada de Raul, em 78, o maior goleiro Rubro-Negro do Melhor Time do século passado. Constituem hoje a nossa comissão técnica. Mais do que isso, fazem parte da imaginação extensa em que nos reconhecemos e que dispensa, por afetação desnecessária, treineros "delfin boys" do milagre econômico da bola, blatter, marin e vírus anexos. 

Drummond dizia que a grande dificuldade é ser simples. Jaime não necessitou data-show nem laptop para o time organizado, as linhas bem postadas, compactas, atrás da bola do Coritiba, a saída rápida com a eficácia possível de um time limitado, de Carlos Eduardo a Paulinho.

 2 x 0. 

SRN, Jaime