terça-feira, 7 de setembro de 2010

Temperatura da Onda

Por Tadeu dos Santos


- E aí? Rola uma caroninha até o outro lado da lagoa?

O pedido foi feito sem que o escorpião permitisse que seu olhar cruzasse com o da rã. Há os que dizem que o olhar é o espelho da alma e o escorpião ainda que sem verbalizar o que havia ou não de profundo nesse ditado, seguia-o à risca.

- Sem chance. Disse a rã.

Também ela não conhecia a vetusta máxima. Mas o que até aqui se lhe dera aos olhos era suficiente pra viabilizar a compreensão que entre os de sua espécie e os daquele pedinte que a todo custo evitava mirar-lhe os olhos, não havia amizade entranhada e tampouco o hábito da concessão do mero bom dia.

E prosseguiu:

- Conheço os da sua espécie. Vais me dar uma ferroada. Vais me matar e eu, pródiga nadadora, irei ter ao fundo da lagoa.

- Não há aí qualquer razoabilidade. Não sei nadar e se morres, vou junto. Por que eu faria uma bobagem tão grande?

A rã matutou por alguns minutos. Pesou os prós e os contras, adicionou à toda a situação um boa pitada de racionalidade e ainda um tanto relutante disse:

- Tá bom. Vou te dar uma carona, mas olha lá, hein!

Já ia ali pelo meio da travessia quando sentiu uma pontada muito aguda. Ferroada das boas. Ela já desfalecendo, dirigiu o olhar marejado ao escorpião e perguntou:

- Mas... Por quê?

- Sinto muito. Lamento mesmo. Mas é a minha natureza. Não consigo evitar.

Essa fábula (não exatamente assim) é contada no filme “TRAÍDOS PELO DESEJO” (The Crying Game), de Neil Jordan.

A história é narrada pelo soldado britânico Jody (Forest Whitaker) ao militante do IRA, Ferguns (Stephen Rea) e revela que a fidelidade à nossa natureza supera o medo da morte.

Não há por aí quem desconheça a natureza que anima a maior e mais bonita torcida do Brasil. Já disse e vou repetir: não somos dados a marolas, somos das grandes ondas, quase tsunâmis.

Mas até mesmo pra que a onda grande vá ter à praia, faz-se necessário um ligeiro aumento na temperatura da água. Ponham a água ao fogo. Pode ser fogo pequeno, alguns gravetos e um ligeiro roçar de pedras já faz fagulha. Todo o resto fica por conta da Nação Maior.

Toda a metáfora está aí a dizer o seguinte: precisamos de um time minimamente confiável. Há que se dar o impulso inicial. Uma ou duas vitórias em sequência. Alguns gols, eis que já não mais aguentamos ver o grito morrer ainda na garganta.

Façam isso e seguiremos juntos (e misturados). Já à praia seremos onda grande. Daquelas que apequenam os adversários e maravilham a orla.

Fazendo Direito

28 – Seguinte, meu irmão. Ás vezes penso em seguir o exemplo do Máximo e fazer vestibular ou pra UERJ ou pra UFRJ. Direito é o que me ocorre, mas tenho uma má vontade: o formalismo, “data venia”, a ambiguidade, a representação, o caráter melífluo. È o tal negócio. Me diz aí alguma coisa.


Tadeu - Quanto ao curso de direito – falei outro dia isso pro Máximo - havia, anteriormente, passado pra direito na UFRJ, mas que preferi prosseguir na UERJ com ciências sociais. À época decidi dessa maneira porque pensava do curso de direito o mesmo que você pensa agora. Não é nada disso meu irmão. Há correntes avançadíssimas dentro do Direito. Há o direito alternativo, forte no Rio Grande do Sul e cujo maior expoente é HAMILTON BUENO DE CARVALHO. Aqui mesmo no Rio, há uma juíza sensacional chamada Maria Lúcia Karan. É dela o excelente livro “De Crimes, Penas e Fantasias”. Uma visão avançadíssima do Direito.

Há na Defensoria Pública, no Ministério Público e mesmo na Magistrtura espaço de sobra pra quem deseja o avanço das instituições. Não pense que o direito se limita a dar a cada um o que é seu. Máxima aristotélica. O bom direito dá a cada um o suficiente pra que se viva com dignidade. Há gente por aí decidindo nesse sentido. Não tem jeito meu irmão. Pra fazer algo em prol dos desfavorecidos há de se ter algum poder. O direito permite isso.

Uma hora dessas vou a UERJ. Encortrar-me-ei com antigos colegas revolucionários de carteirinha. Do tipo que iriam tranquilamente pra venezuela juntar-se às forças chavistas. Direito não faz de ninguém um sujeito de direita. Ao contrário, permite que um cara de esquerda transforme a realidade. Blá blá blá só faz bem pro ego daquele que fala. Se fosse um político ou empresário corrupto iria preferir ter do outro lado uma penca de prosélitos versados em bla bla bla do que um único membro do ministério público disposto a fazer a coisa certa. E perceba que até mesmo os destinatários do bla bla bla já perceberam isso.


28 – Valeu aí, meu irmão. Isso é revolução, de fato. Talvez eu vá nessa. Não vou mesmo mais pra botequim. Água mineral, o jogo do Flamengo na televisão, os livros no sofá, mas, não fossse isso, também perdi a paciência pra revolução feita pela cerveja de botequim. Vou ver se o Máximo publica lá no blog esse papo. Pode ser útil. Saudações Rubro-Negras.


Karam, Maria Lúcia, De Crimes, Penas e Fantasias, Rio de Janeiro: Ed. Luan, 1991.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A Pós-modernidade do Corrêa


28 - O período Vargas é certamente uma das coisas que mais me interessam em história. A ambiguidade de vargas era típica no período. O mundo vivia a pá-de-cal definitiva no liberalismo do tipo clássico. E, pra piorar, houvera 17. O ocidente capitalista tentava encaminhar a novidade da emergência das massas sem comprometer o regime da propriedade. O fascismo foi uma tentativa. Um corporativismo sob coordenação do estado. Roosevel, com o new deal, foi o Keynnesianismo corrigindo os estragos de 29 e preparando a conversão da capacidade produtiva americana pra guerra que se avizinhava. O Brasil não estava fora do mundo e Vargas foi uma resposta da história (acredito na corrente historiográfica que minimiza o voluntarismo em função da estrutura) ao encaminhamento nacional dessa questão: industrialização e urbanização. È verdade que tenho vontade de dar bico no rádio e na televisão quando vejo sordidez com velho, mulher e criança. Tenho uma gana particular em clínica de idosos (mas, isso é outro papo).É minha grande dificuldade de sentir politicamente, como personalidade humana, a figura de Getúlio. Compreendo e reconheço sua genialidade política, mas, não precisava pagar o preço do que fez à Olga. Discordo do cálculo político quando se trata de por em jogo vidas.


Tadeu - É verdade. Mas depois disso Prestes ainda fez aliança com Vargas.
Considero, até mesmo pela proximidade, que o sindicato é a instituição mais apta a viabilizar esse processo de conscientização do trabalhador (algo como faz atualmente o MST - que ainda que se discorde dos métodos, há de se reconhecer a preocupação na preparação de quadros). Ocorre que o atrelamento do sindicato ao Estado tirou-lhe toda a combatividade e autonomia. O imposto sindical é uma grande teta. Não há quem a queira largar. O mais grave é que o sindicato sequer precisa ser combatido. A contribuição está lá e vai ser desconcontada de todos os trabalhadores (até dos não sindicalizados) e vai bancar os sindicatos, federações e confederações. Devemos isso ao Vargas. Também acho inadmissível toda aquela dubiedade que lhe era peculiar num período em que havia o Nazismo e o Fascimo. Sou a favor do estado mínimo, você sabe, e assim não há como admirar alguém como Vargas. Ademais era ditador e ditador é como o tipo que não torce pelo Flamengo, pouco importa se é bambi, louco ou complexado, no fundo, no fundo, não presta (tou brincando - tenho um amigo vascaíno que além de tudo entende pra caralho de futebol). Sempre que o flamengo perde o puto liga aqui pra casa e diz: - porra torci pra cacete pro flamengo ontem. Podemos conversar com mais calma sobre Vargas, mas não gosto de políticos abraçadores, daqueles que impedem a expansão dos movimentos sociais. Vargas era assim e fez isso com o sindicalismo. A CLT e o atrelamento dos sindicatos ao Estado foram um grande mal para o processo de conscientização da classe trabalhadora. E tudo isso pra não levarmos pro nível mais pessoal como por exemplo, mandar mulher grávida pra campo de concentração. Há um livro muito bom chamado O Anti-semitismo na Era Vargas (1930/1945), de Maria Luiza Tucci Carneiro, Editora Brasiliense. Essa coisa de não respeitar o outro, sobretudo quando ele discorda de nossas posições é velha e acaso acreditasse em natureza humana diria que faz parte da mesma. O nazismo fez isso e o socialismo também. Antes deles também a inquisição o fizera. O pessoal do Cahis também faz, a VEJA e o PT também. Vem daí meu ceticismo, meu irmão. Acreditar no que quer que seja faz um mal do caralho. Tornamo-nos sectários. Não adianta, ao acreditarmos em algo, automaticamente nos embuímos de certezas e passamos a achar que o outro é uma besta quadrada cega que não consegue enxergar o que está a um palmo do nariz. Aos 52 anos ainda tem uma curiosidade juvenil. Tenho uma sede de conhecimento que não cessa, mas quanto mais leio, menos acredito. Engajamento nunca mais e só me movo pra defender o sagrado direito à imobilidade. Acreditar cega e o que é pior, nos tira o bom-humor.


28 - É um valor fundamental. Que direito tenho eu de obrigá-lo a considerar Vargas um gênio e prendê-lo por causa disso? Do mesmo modo o contrário. Transporte para o plano do Estado. Que direito tinha a kgb de perseguir seus cientistas e , mesmo, dissidentes? Que direito tinham os americanos de tratar esquerdistas como fizeram com o macarthismo, como fazem em guantánamo, como ainda é o clima em todas aquelas ligas fascistas-patrióticas que domonim aquela terra de esquizofrênicos (liberdade completa com moralismo e intolerância absolutas)? Da pós-modernidade, talvez a grande questão, pra mim, seja a estética, encarada como tem de ser. Basquiat, Picasso. Existe algo mais expressivo, praticamente uma identificação pessoal, do que uma pintura que combine a técnica, aprendida por qualquer um, portanto uniforme, com o gesto, o impulso, seja pra destruir ou construir? Isso, de fato, é arte, independente da qualidade que dependerá dos talentos envolvidos. Uns se tranformam em basquiat, outros não passam de Antônio Máximo, grande camarada, mas apenas um bom desenhista. Às vezes, acerta, como no desenho que fez pra tua postagem “Geraldo, Basquiat”. “Pós-moderno", pois combina técnica e impulso. Ou seja, só o cara poderia tê-la feito, assim como era preciso ser Basquiat pra fazer o que este fizera. Outra coisa, ainda sobre a pós-modernidade, que não me convence nem pelo caralho: Chega a conta da light, certamente e independente de qual "tribo" se pertença, não se tem que pagá-la?

Outra coisa: notou como aqule Correa tem jeito de babaca. Mal chegou dá esporro, tenta bancar o dono do time. Nem em pelada de rua se aje desse jeito. Quem chega, chega manso, respeitando os mais antigos. Três lances desse zé roela com cara de dunga: a bola veio da direita do ataque do cruzeiro, cruzada baixa na pequena área, ele termina a jogada e faz uma presepada, socando o vento, contra Angelim e Juan jogando pra arquibancada. Pra se foder, adiante veio um lance parecido e o babaca se atrapalha todo, dentro da pequena área e dá de bandeja pro cara fazer; Lomba defendeu á queima-ruopa. Fora o fato de ter perdido um gol na cara do Fábio, entrando por trás como faria um volante que soubesse alguma coisa.O babaca com cara de dunga não viu que o Flamengo se fodia justo pelo maio-campo, entre os quais ele era um dos merdas. Val baiano, correa, sem chance, meu irmão. Preferia o Zico de antes de 90.


Tadeu – Não vou aqui descer às minúcias do grupo que vargas representava e tampouco do papel que o país desempenhava em meio ao emaranhado que foram os anos 40 do século passado. Digo apenas que acho Vargas um porco. Um enorme atraso. Concordo com essas análises que negam o progresso. Elas também demolem com todos os ismos. O autor de que mais gosto é John Gray. A confirmá-la está aí a história. O século passado foi um período em que os ismos tentaram a redenção do homem. Deu no que deu. Daí a descrença e um meio que não sei pra onde vamos. Luc Ferry um filósofo francês afirma que devemos retornar aos valores familiares e começar dessa célula primeira. Ao cuidarmos bem da família, cuidamos bem do país e por aí vai.É uma teoria que nega o conflito e a própria luta de classes. Mas á certa altura ele também pergunta; quem nos dias de hoje está disposto a morrer por um grande ideal, pela ideia de pátria ou por um interesse da classe que eventualmente pertença? Ninguém.Se esses interesses não mais nos sensibilizam ou mobilizam talvez devamos deixá-los de lado. O que John Gray afirma é que em todas as oportunidades em que tentamos construir um novo homem. Seja através do Marxismo ou mesmo do Nazismo, produzimos montanhas de cadáveres. Afirma também que a inteira impossibilidade de construção do arianismo perfeito ou do homem comunitário disposto a tudo dividir, esbarra na nossa própria constituição. Somos extremamente imperfeitos. E aí todo o avanço recente (e olhe que é grande) da biologia vem em socorro à tese que ele esposa. Os ateus dizem que devemos nos situar melhor. Dizem que essa coisa toda de construído à semelhança de Deus não nos abandona nem pelo caralho. Nos consideramos mesmo criaturas especiais. Mas na realidade somos apenas uma espécie dentre muitas outras que já andaram por aqui e que se há algo de certo e inafastável é que assim como tantas outras antes de nós, também sucumbiremos e o planeta prosseguirá tranquilamente sem a nossa presença.

Você dizia que o Corrêa adora jogar pra torcida e nao pára de apontar os erros cometidos pelos companheiros. Ele é espalhafatoso e visivelmente confunde liderança com mandonismo. Mas não é só. O zagueiro Jean reclama à vera sempre que a bola chega à area. É como se dissesse:

- Que porra é essa que essa bola toda hora tá aqui na minha área. Cadê os meus volantes? E esses atacantes que não cercam os zagueiros na saída da bola? Que que tá havendo???

Já vi goleiros que comungavam dessa mesma "visão de futebol". Não estavam ali pra impedir os gols, mas apenas pra assistir o jogo. Tão logo a bola chega nas cercanias da área e ele já começa a comandar a marcação. E é um tal de cerca, cerca, vai, vai...quando ocorre a conclusão (chute, cabeçada) ele abre os braços, olha pros zagueiros, pros volantes, põe as mãos na cabeça e dá aquela espiada pro telão. Por trás de toda aquela panaceia fica a frase:

- Porra um jogão desses. Eu aqui numa posição privilegiada e lá vem esses zagueiros de merda a permitir chutes do adversário.

Jean é assim. Correia também. Quiçá a doença chegue ao Marcelo Lomba e teremos então um trio invejável. No mais, a certeza. A luta neste brasileirão é, apenas e tão somente, pra não cair. O que nos conforta é que a bambizada já começou a amarelar. Quanto àquele povo com complexo de anão vai ficar pelo caminho, como convém aos pequenos.


28 - Em torno dessa palavra gira toda uma grande reformulação da historiografia contemporânea. A história como progresso e lição de vida (aprender com o passado para não repeti-lo) é considerada um traço iluminista que ainda permanece em certo tipo de historiografia. Há um cruzamento com a linguística, para considerar todas grandes ideologias, notadamente o marxismo, como "grandes narrativas', de caráter teleológico para a realização de valores. O pós-modernismo que afirmam vivermos não tem missão alguma, não cabe a realização de nenhum valor. Justiça, igualdade, horizontalidade - tudo isso é anacronismo. A partir de Nietzche, há uma crise na modernidade e instaura-se uma espécie de fragmentação ecumênica, em que não cabe mais um objetivo social comum e, sim, uma justaposição sem síntese. Todos os gostos, tendências, valores, práticas, implicando uma historiografia que busque livrar-se da tradição da "grande narrativa' e passe a significar a estética e a valorizar formas de existência que representem o inconsciente e, até mesmo a ausência de técnica, ou seja, há um abandono do predomínio absoluto da razão e da evolução. Francamente, meu irmão, pode ser o mundo da garotada, mas, não é o meu, sobretudo com esses pés inchados, que não suportam uma longa caminhada. Já penso ter de seguir um novo Mao naquelas caminhadas?


domingo, 5 de setembro de 2010

Domingo desse Flamengo e santos

Por 28

"Você é um homem ou uma folha?"

Domingo, que já é um dia fuleiro, é o seguinte quando chove. A pior forma de solidão, que é a companhia de um paulista, conforme Nelson Rodrigues, parece a volta no tempo, no varandão da saudade molhada pela chuva. Um tempo em que havia ônibus caipira até na Teodoro, na invasão paulista de 76 contra a bambilândia. Reparem no pior dos mundos. Esse Flamengo que acabou de jogar, domingo de chuva e a overdose de arraial em torno da tal tapera. Basta abrir a geladeira em que se transforma a televisão. A temperatura cai aí nalguns Kfouris, Olivettos, Netos, Biro-Biros.

Falta pouco, mas ainda não é esclerose, é só diabetes. A pergunta entre aspas do início era feita pelo açoriano pai do Máximo, quando via o cara dizer uma coisa e fazer outra. Dá pra entender o ilhéu, que nunca jogou bola e vivia com saudade das touradas (hoje tava fodido, nessa praga do politicamente correto). Não entendia a gente chamar o Máximo, o cara descalçar o al latex e arrebentar os pés em calos de sangue que o coroa filtrava com uma agulha quente e uma linha deixada como um dreno. O Máximo ficava com os pés pra cima, aqueles linhas vermelhas de sangue, misturadas ao preto da carne dos calos abertos:

"Aí, pai, até carne rubro-negra."

E o coroa mandava aquela, na verdade meio cúmplice, porque não tinha limites pra paciência de cuidar dos pés do filho.
Na educação por tabela que também me alcançava, acabei um pouco mais ou menos daquele jeito. E, nesse domingo, aporrinhola de itaquera, o frio enregela os pés de uma maneira, com uma dormência que parece anestesia, que me lembro daquelas imagens que eu não sei onde o velho açoriano ia buscar, açougueiro pouco mais do que analfabeto. É que não sei dizer não a uma mulher. Nunca soube e são eles que sempre acabam por sair. Eu só acumulo.
Junto uma ligação antiga com o que tenho de específico nessa semana e concluo que muito pior do que uma folha que balança é uma folha solta sem saber onde vai cair. Tá tranquilo, a imagem é fraca. Mas, isso é de menos.

Valeu aí, Máximo.

É a colaboração que me pediu. Foi mal.



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ainda é melhor mudar de assunto


Por Tadeu dos Santos

- Aquela senhora de saia marron pegou duas senhas.

- Hein?

- Sim, ela pegou duas senhas, uma pra fila comum e outra pra destinada aos idosos. Acho isso errado, sabe? Você tem o direito de escolher. Pode pegar um ou outra, mas não é certo pegar as duas e depois ver qual fila anda mais rápido.

Aquela, bem o sabia, era uma terceira senha e destinava-se a tornar o andamento de ambas as filas suportável. Conheço filas e conheço conversas travadas em filas e assim mantive-me silente.

- Sou jornalista, sabe? Minha filha é funcionária da Justiça e está fazendo pós. Quando terminar já sai juíza ou promotora. Ela escolhe.

Bem sei que a coisa não funciona assim. No entanto, o desmentido representaria apenas e tão somente um passo dado em direção à arapuca que ele então me armava.

- Meu outro filho é engenheiro e o terceiro trabalha com eventos. Coisa fina, sabe? Já fez festa até pra Mayrink Veiga.

Ainda em silêncio lembrei-me de um recente encontro com colegas do antigo ginásio. Um deles disse que trabalhava com propaganda. Alguns goles depois a propaganda convolara-se em eventos. Mais alguns goles e os eventos foram ter às festas e daí aos meus salgadinhos são incomparáveis foi um pulo. À saideira ele maldizia as crianças e os velhos, seres dotados da capacidade de lançar por terra qualquer esforço festivo.

- Tenho uma sobrinha que passou recentemente pra advogada do BNDES. Saiba que não há nada melhor por aí do que trabalhar pro BNDES. Coisa fina, sabe? R$ 22.000,00 por mês. O marido também tentou mas não passou. Ela é superdotada, sabe? Pequenininha, olhando ninguém diz.

Ouvia tudo isso e pensava que à incapacidade de procriar segue-se um exacerbado cuidado com a prole. O homem tende a multiplicação. Há que se procriar. Se não mais o fazemos, lançamo-nos a garantir que nossos descendentes o façam. Talvez isso explique a cretinice do Nardoni-pai (e avô). No caso do “meu interlocutor” a procriação além de necessária era mais do que justa, afinal seus genes eram do caralho.

- Moro aqui perto, viu? Numa cobertura. Vejo todo o bairro lá de cima. Uma maravilha!

Imaginei o norteshopping, o Walmart, e o Engenhão. A periferia da minha visão buscava ler o número que a senha abrigava: 339. No painel lia-se: 335. Mais 4 números e as portas do Éden abrir-se-iam pra mim. Do outro lado, um homem com uma longa túnica branca cofiava a barba que de tão comprida não permitia que se divisasse seu término: Vês? Eis a bonança que se segue à tempestade...

- Trabalhei no Jornal do Brasil, no Correio da Manhã, na Rádio Mayrink Veiga. Montei o esquema da ...

Os lábios iam e vinham e eventualmente os dentes punham-se à mostra. As sobrancelhas pareciam acompanhar a narrativa. O inquieto olhar procurava pelos que estavam ao redor. Parecia querer saborear o efeito causado na assistência.

De minha parte nada tinha a contar. O dia de minha posse coincidiu com o início da contagem do tempo que demoraria para a aposentação. Tinha-a à conta de ideia fixa. Sonhava com o ócio, mas não o criativo de que fala Domenico de Masi. Queria o descompromisso, o nada fazer, o dormir e dormir e dormir. Morava no Méier, mas queria que fosse Paris. Não queria cobertura, mas a janela fechada que isola. Mais do que a imposição biológica a impor-me parentes, gostava do alvedrio da escolha dos amigos. Não tinha um sequer, mas ainda aí havia livre-arbítrio e isso não é pouco, não mesmo...

Amassei a senha que ainda trazia na mão que involuntariamente pôs-se lacrada, atirei-a à cesta de lixo e saí...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Melhor Falar de Música


Por Tadeu dos Santos

Vou lhe fazer uma indicação, Máximo. Há nas bancas um dvd com um show de Eric Clapton e amigos. O show foi realizado em 1983. Lá se vão, pois, 27 anos.

Os amigos são, dentre outros, Steve Winwood, companheiro de Eric no Blind Faith. Ano passado, 2009, os dois se reuniram nos EUA e fizeram um show antológico. É neste show (de 2009) que Eric canta a excepcional Rambling On My Mind, de Robert Johnson). Também estão entre os amigos Jeff Beck. Jeff substituiu Eric quando de sua saída do The Yardbirds. É um grande guitarrista. Acho, no entanto, que ele se acha mais importante do que a própria música. Um similar britânico do nosso Ed Motta e do americano Buddy Guy (um guitarrista do caralho, mas pretensioso além da conta).

O outro amigo é Jimmy Page. Se não me falha a memória o Jimmy Page substituiu o Jeff Beck quando este saiu do Yardbirds. Não tenho certeza.


Jimmy toca stairway to heaven.

Um show maravilhoso pra quem gosta de rock e de blues.

E três guitarristas que tranquilamente estão entre os 10 maiores de todos os tempos.


Ao contrário de tudo quanto é lista que circula na internet e que coloca Jimmy Hendrix como o maior de todos os tempos, a minha é diferente e já me xingaram pra caralho num desses sites. Acho que Stevie Ray Vaughan é o maior de todos. Também acho que Eric Clapton em decorrência de sua postura diante da música (e do blues) acaba por se tornar o mais importante de todos.

B. B. King é um monstro e Muddy Waters é outro, mas dentre os antigos acho Albert King simplesmente inigualável. Também acho que a gravação de Eric pra It Hurt me too é superior à original de Elmore James.


Ouço aqui e ali gente dizendo que nossa música é a melhor de todas. Não é. Vejo o concerto for George, organizado por Clapton (após a morte de George Harrisson) e constato que nunca vi show melhor e tampouco músicos superiores aos que estão no palco. Há um concerto em homenagem à Rainha e no palco tem mais gente relevante do que nossa mpb conseguiu reunir ao longo de toda a sua história. É triste, mas é verdade.

O dvd custa só R$ 14,90. Vale a pena.