Por 28
"Você é um homem ou uma folha?"
Domingo, que já é um dia fuleiro, é o seguinte quando chove. A pior forma de solidão, que é a companhia de um paulista, conforme Nelson Rodrigues, parece a volta no tempo, no varandão da saudade molhada pela chuva. Um tempo em que havia ônibus caipira até na Teodoro, na invasão paulista de 76 contra a bambilândia. Reparem no pior dos mundos. Esse Flamengo que acabou de jogar, domingo de chuva e a overdose de arraial em torno da tal tapera. Basta abrir a geladeira em que se transforma a televisão. A temperatura cai aí nalguns Kfouris, Olivettos, Netos, Biro-Biros.
Falta pouco, mas ainda não é esclerose, é só diabetes. A pergunta entre aspas do início era feita pelo açoriano pai do Máximo, quando via o cara dizer uma coisa e fazer outra. Dá pra entender o ilhéu, que nunca jogou bola e vivia com saudade das touradas (hoje tava fodido, nessa praga do politicamente correto). Não entendia a gente chamar o Máximo, o cara descalçar o al latex e arrebentar os pés em calos de sangue que o coroa filtrava com uma agulha quente e uma linha deixada como um dreno. O Máximo ficava com os pés pra cima, aqueles linhas vermelhas de sangue, misturadas ao preto da carne dos calos abertos:
"Aí, pai, até carne rubro-negra."
E o coroa mandava aquela, na verdade meio cúmplice, porque não tinha limites pra paciência de cuidar dos pés do filho.
Na educação por tabela que também me alcançava, acabei um pouco mais ou menos daquele jeito. E, nesse domingo, aporrinhola de itaquera, o frio enregela os pés de uma maneira, com uma dormência que parece anestesia, que me lembro daquelas imagens que eu não sei onde o velho açoriano ia buscar, açougueiro pouco mais do que analfabeto. É que não sei dizer não a uma mulher. Nunca soube e são eles que sempre acabam por sair. Eu só acumulo.
Junto uma ligação antiga com o que tenho de específico nessa semana e concluo que muito pior do que uma folha que balança é uma folha solta sem saber onde vai cair. Tá tranquilo, a imagem é fraca. Mas, isso é de menos.
Valeu aí, Máximo.
É a colaboração que me pediu. Foi mal.
"Você é um homem ou uma folha?"
Domingo, que já é um dia fuleiro, é o seguinte quando chove. A pior forma de solidão, que é a companhia de um paulista, conforme Nelson Rodrigues, parece a volta no tempo, no varandão da saudade molhada pela chuva. Um tempo em que havia ônibus caipira até na Teodoro, na invasão paulista de 76 contra a bambilândia. Reparem no pior dos mundos. Esse Flamengo que acabou de jogar, domingo de chuva e a overdose de arraial em torno da tal tapera. Basta abrir a geladeira em que se transforma a televisão. A temperatura cai aí nalguns Kfouris, Olivettos, Netos, Biro-Biros.
Falta pouco, mas ainda não é esclerose, é só diabetes. A pergunta entre aspas do início era feita pelo açoriano pai do Máximo, quando via o cara dizer uma coisa e fazer outra. Dá pra entender o ilhéu, que nunca jogou bola e vivia com saudade das touradas (hoje tava fodido, nessa praga do politicamente correto). Não entendia a gente chamar o Máximo, o cara descalçar o al latex e arrebentar os pés em calos de sangue que o coroa filtrava com uma agulha quente e uma linha deixada como um dreno. O Máximo ficava com os pés pra cima, aqueles linhas vermelhas de sangue, misturadas ao preto da carne dos calos abertos:
"Aí, pai, até carne rubro-negra."
E o coroa mandava aquela, na verdade meio cúmplice, porque não tinha limites pra paciência de cuidar dos pés do filho.
Na educação por tabela que também me alcançava, acabei um pouco mais ou menos daquele jeito. E, nesse domingo, aporrinhola de itaquera, o frio enregela os pés de uma maneira, com uma dormência que parece anestesia, que me lembro daquelas imagens que eu não sei onde o velho açoriano ia buscar, açougueiro pouco mais do que analfabeto. É que não sei dizer não a uma mulher. Nunca soube e são eles que sempre acabam por sair. Eu só acumulo.
Junto uma ligação antiga com o que tenho de específico nessa semana e concluo que muito pior do que uma folha que balança é uma folha solta sem saber onde vai cair. Tá tranquilo, a imagem é fraca. Mas, isso é de menos.
Valeu aí, Máximo.
É a colaboração que me pediu. Foi mal.
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