sexta-feira, 30 de abril de 2010

28


28 já não mais atende quando lhe chamam pelo nome. Falta o hábito. Tem a ver com a avenida, o antigo “boulevard”.

Lembrem-se os que podem de quando havia a manobra do bonde, ali no ponto cem réis, esquina da Souza franco.

Mas, 28 não era desse tempo, ou “quase”, como noutro dia disse que era “quase avô”. Explica melhor?

Sem paciência, a voz tende a engrolar, trava-lhe o trecho da dentadura que a grana seca não deu para as laterais.

“Faltam o Leandro e o Júnior” – como também costuma dizer.

E a roda muda de assunto, pede mais uma, enquanto 28 vai no “quente”, junto com a porção de moela.

Às vezes uma espécie de Gentileza da Vila, às vezes um Marx da esquina, às vezes com pontos-de-vista curiosos sobre o futebol, quase nunca originais, em geral algo na base de um Saldanha de garrafa térmica.

“Meu pai me dizia pra tomar cuidado com camarada que vive mostrando os dentes."

Sem mais nem menos manda uma dessa, sempre se reportando ao pai, um açoriano, segundo ele, que viera direto de Angra do Heroísmo para um açougue perto do canteiro de obras em que se transformara o “turfe nas coxas” do terreno , ali onde hoje é o Maracanã.

28 apareceu anteontem, é claro. Está postado aí embaixo, logo após a vitória da Flamengo, na força para a travessia dos desvalidos.

Agora tem o seguinte:

Sem chance de encontrá-lo quando o Flamengo perde.

Dizem que desde moleque.

SRN

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Atravessa aí

Chamaram Noé, ele veio


O número da bicharada não dava na arca. Ainda considerem o lugar do Ronaldo e a fauna ia pegar pra Noé. Sem chance pela Praça da Bandeira; pela Radial só passa arca com autorização da defesa civil; o negócio era esperar. E o que Noé viu vai contar pra Deus que agora sabe porque Ele é Rubro-Negro.

A começar pela Nação Maior. Impressionava a Noé a força daquela Massa Compacta, vestida de Preto e Vermelho, com a força de um Mito Bíblico. Não entendia muito bem o que se passava embaixo, aqueles 11 discípulos com as mesmas cores, que, entretanto, compreendeu logo se tratar de uma espécie de Manto imantado do alto pela Força sagrada. Ainda buscou orientação, mas desistiu: de onde viera acontecia dessas coisas, sabia reconhecer a presença Divina.

Na verdade, se o tivéssemos visto, não teríamos o que dizer nem explicar. À oração de Raul a Lico era seguida da reza forte que exigia um Merica, um Liminha, no verbo feito carne agora chamado Willians. Mas, o que Noé viu, gostou e certamente será muito útil pro Nordeste, quando chegar lá em cima e for prestar contas, foi o Angelim. O que jogou deve ter enchido muito açude. Tranquilo, firme, sem jogar água em ninguém como fazia o “brucutu” da ditadura. Técnico, a chuva deve ter-lhe limpado a visão, pois fez dois ou três lançamentos que foram o seguinte, um dos quais meteu o Adriano quase na cara do gol.

O que vimos ontem não precisava (como não foi) ser futebol.

SRN

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Absolveremos logo mais a pior forma de história



Há problemas que, no futebol, limitam a um tipo de perfil.

Levantar a história-problema, aquilo que foi evitado, ou adotar um viés diacrônico, pelo qual investiga-se o processo responsável pelas coisas serem como são.

Sem chance.

Futebol é o Estado da Paixão. Do que se necessita é um historiador tradicionalista que irá recuperar a aura mítica de uma dimensão distante. Seu suporte, na fantasia que estimula, não se restringe aos que chegaram agora. Muitos dos contemporâneos dos fatos depuram-nos, com a aura conveniente da erosão do tempo.

Dispensa-se a genuflexão:

Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Junior; Andrade, Adílio e ZICO; Tita, Nunes e Lico.

Amém.

Entremos daqui há pouco em campo.

A Nação Maior é uma arquibancada imemorial à esquerda da tribuna.

E a República é federativa do Flamengo.

SRN

terça-feira, 27 de abril de 2010

Datafuleiro




Se vê muito isso em corredor de universidade. O esforço pela "pureza" científica, livre de "manchas" ideológicas. Em linguagem de cantina, da própria universidade, é mais ou menos como o cara que diz que não "gosta de política", que é "apolítico". Esquece-se o tricolor, vice e amarelo, porque isso só pode vir daí, que não fazer política já é fazer política. È tão neutro quanto quem vê, com imparcialidade, porrada entre o Mike Tyson e o Juninho Paulista.

Se vê muito também em rádio de paulista, como acabei de ouvir agora no tal cbn esporte club só pela "abordagem" do negócio. Meus camaradas, há coisas que só brotam às margens túrgidas do tietê. Um esforço pro cara do datafolha bancar a própria "cientificidade estatística" que acaba mais engraçado do que aquele arremedo marcelo tas.

"O datafolha está acima de qualquer suspeita."

Termina impávido o apresentador, provavelmente sob eflúvios já vindos da linha telefõnica ligada direto do lar do Prado.

A "ciência" já vem de algum tempo. "Tendências" detectadas desde 2006 apontam a estabilidade da Nação Maior, enquanto que os corintianos vem demonstrando "expansão".

Sabe-se da merda em que andam as empresas de comunicação. E no negócio pra garantir um levado vale tentar aumentar a venda de jornal, expandir a circulação que permita um índice que se traduza em publicidade, grana, muita grana, que pode ser conveniente tendo a simpatia da grande torcida do mercado paulista, que é o objetivo do datafuleiro.

Há coisa melhor pra dar uma aliviada no temporal da Gávea às vespéras da classificação para a próxima fase da Libertadores?

SRN

A culpa é do Juscelino

Aquele negócio de radinho de pilha, ao lado do Medici, na tribuna do Maracanã, já explicava por que Nelson Rodrigues era tricolor. De vez em quando, no entanto, acertava, como na clássica frase de que "a pior forma de solidão é a companhia de um paulista".

O problema no paulista fica ainda pior quando Juscelino resolve reforçar no capiau a grana e o resultado é uma espécie de argentino da feira dos paraíbas. Porque, com dinheiro, o paulista não compra só pick-up com chifre de berrante como para-choque nem vai a "New york" só pra comprar roupa pra usar nos finais de semana de visita ao aeroporto. Compra alguns livros também. Afinal, "nós vai nos vem" só combina com "orra louco, meu".

Resultado: datafolha.

Mas, não se é paulista impunemente: leram errado os livros que compraram, pois a "metodologia" do datafolha "descobriu" que corintianos e Rubro-Negros estão "tecnicamente" empatados em matéria de torcida.

Esta informação não veio de nenhum caboclo do lar do Prado, mas de um dos frequentadores assíduos do pai de santo da casa: Juca Kfouri.

ZICO


O mito explica a vida.

Representa um modo de excelência que permanece válido.

Zico superou o ídolo.

Alçou-se a mito porque representa uma forma de jogar que a massa rubro-negra sempre espera tornar a ter.

O mito é uma expressão de desejo, assim como Zico continua o dez com que a massa não cessamos de sonhar.

SRN

segunda-feira, 26 de abril de 2010

REPÚBLICA FEDERATIVA DO FLAMENGO

Somos 40 milhões. O território é carioca, com uns pedaços deixados por conta para os amarelos, vices, olaria, são cristovão, bonsucesso, madureira, etc.

Somos, na verdade, a salvação do Brasil. E sem a “moral e cívica” de um ufanismo de memória ruim, velho de quase meio século. O mundo agora é “pós-moderno”, a rejeição a qualquer tipo de mobilização coletiva, a ausência completa de qualquer referência comum. Mas, basta andar na Manoel de Abreu, cruzar a Francisco Xavier pra correr em volta do Maracanâ, que o que se vê é uma massa rubro-negra, dando volta pelo Célio de Barros.

Paulista é uma espécie de gringo capiau, forçando a barra o corintiano até que dá pra levar, sempre nos dão uma força lá, gratos que são, eternamente, pelo apoio da Nação, quando em 76, infestaram o Rio pra espremer, em pleno Maracanã, os bambis do campo do confiança das laranjeiras.

Não tenho dúvida da classificação. Porque, apesar da rua Alice em que virou a Praça Nossa Senhora, continuamos do jeito em que sempre rendemos e que me faz reivindicar a independência de Nossa República.

Vencemos sempre com a nossa própria gente, direto de nosso próprio Território. O Juvenil do Flamengo foi tetra campeão carioca, campeão da Libertadores e do Mundo. Outra leva, sob o comando do juvenil veterano, foi campeã em 92. Ano passado não era puro sangue, mas Adriano e Andrade, que fizeram a diferença, eram, sem contar o gringo, que só não era justo porque era gringo.

Francamente, Joel pode ser muito gente boa, mas tem todo o jeitão de amarelo, vice...

SRN

sábado, 24 de abril de 2010

Falta explicar

O mais difícil não é criticar a presidenta, mas a Patrícia. É possível, entretanto, ser suave sem deixar de dizer o que se precisa:

Andrade não perdeu a "humildade". Apenas se valorizou e usou os recursos comuns em qualquer negociação. O pior da crítica ao Andrade vem justo das "forças políticas" representadas pela presidenta e sustentadas por Leo Rabello. Quer dizer que o butim que é do urubu, satisfeito à vontade pelo Hexa, estava à espreita dos carniceiros, que só agora podem atacar como querem?

Isso é muito grave, Patrícia. Não se deixe manipular. Ao gordo de bufonaria não pode suceder a comissão de tintura interesseira.

É muito grave também, Patrícia, um fato que passou batido e que, se for verdade, cancela qualquer possibilidade de autoridade moral frente ao elenco, frente à Nação Maior Carioca. A "direção" não queria renovar com o Pet, mas, sem coragem de enfrentar a massa, queria jogar toda responsabilidade perante os ombros de Andrade, sem considerar a sordidez, não para com um dos maiores nomes do periodo mais honrado e vitorioso de Nossa História, mas com um ser humano, qualquer ser humano, que , de resto, não pode ser exposto a essa tipo de cilada covarde.

Isso, se ocorreu, foi muito grave e deve ser bem explicado, independente do que nos venha ocorrer na quarta.

SRN

Um terceiro, um quarto...

1- Não pise na grama.

2 - Desde que não saiba ler.

Iria emendar um terceiro, um quarto, mas estou sem saco pra fazer graça. Mas, o pior é quando a enumeração apresenta impressões que não chegam a constituir argumentos. Duas são o seguinte:

3 - Andrade perdeu a "humildade", após ter conquistado o Hexa, e voltou querendo a Gávea no lugar do riocard que ganhava. A "direção" não gostou, mas engoliu, não só pela popularidade de Andrade junto à massa , mas também por medo de perdê-lo para os arapetros os quais, segundo o próprio Andrade, haviam chegado junto com as sobras da ilha de Schumacher. É de emputecer essa turma da rua Alice em matéria de briga de comadre. O levado só pode ter um bolso certo. Andrade estava correto em se valorizar e utilizar de táticas tão dignas quanto as que usava quando jogava ; ou acaso as "forças políticas" que ajudaram a eleger a Presidenta só reconhecem as de que se vale Leo Rabello?

4 - Pra ser rápido: a função de Andrade era a de treinador ou de babá?

Francamente, melhor o ex-zagueiro do que o Joel. Sempre ganhamos com a tradição da casa.


"Política" e "Pragmatismo"

É assim que se faz futebol: forças políticas sustentadas por empresários. Leo Rabello não ajudaria na eleição de Patrícia não fosse pela "modernidade rubro-negra", uma nova fase da "gestão", cuja "metodologia" será pra ontem. O tempo exato pra fazer a venda, adiada alguns meses devido ao Hexa.

Pragmatismo é um eufemismo para a retranca que o Flamengo irá montar como tática para tentar colar os escombros da pressa com que demitiram o Andrade. É, pra isso, que o Joel serve.

SRN

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A nova "metodologia"

Patrícia:

"Eu tenho um convívio muito bom com todos no clube, mas também precisava dar uma resposta ao grupo político que me elegeu presidente. Eu não cheguei até aqui sozinha. "

Uma das grandes desvantagens de envelhecer é a de perder a ingenuidade. É possível conservar a boa-fé, mas sempre com um pé na frente, outro atrás.

Quando se trata de política do futebol, entretanto, só se pode ser pútrido.

Que "mensagem" representa uma Presidenta cujo suporte é só uma "tintura"?

Na nova fase da "gestão", a base da "metodologia" será pra ontem. O tempo exato pra fazer a venda.

O Urubu dispensa "tinturas"



Nessas horas, é o tal negócio: o futebol aproveita o que há de mais atrasado de nossa formação - escravismo, nepotismo, patrimonialismo, o diabo - ao arremedo de uma estrutura vulgar de novos-ricos. Tanto faz a afetação de "barrashopping" ou a cara do "saara". Só ilude
a pretensão de exclusividade, impossível a uma forma de consumo de massas como o futebol.

De vez em quando convém umas palavras melhores para ver se essa gente nos respeita. Esse é o objetivo. Deveria ter sido sempre. E parece ter sido quando da época do verdadeiro Márcio Braga. Do gol do Rondinelli, de um canto batido pelo Zico, em 78, até à saída do nosso Maior Monstro Sagrado pelo impronunciável, em 83, estivemos numa época mítica. Vai ver o mito do Manto Sagrado, uma Nação Maior Horizontal, Rubro-Negra.

De vez em quando é bom.

Aquele time ao final da década de 70 e primeira metade dos 80 era a expressão exata, perfeita, do grau de refinamento a que poderia chegar a alma popular. Quando tudo parecia não ser de outro modo, surgem Zico, Júnior, Leandro, Adílio. E a "era Hélio Maurício", de Merica, Paulinho, Rodrigues Neto cede à uma contradição que não impunha a raça como a única possibilidade para um time de massas.
Um alemão bem antes de Beckenbauer escreveu:

"Tudo aquilo que exerceu uma grande influência, em verdade, não pode ser julgado."

Goethe tinha razão. Aquele time de 81, campeão de tudo, foi tão influente - mais do que marcou uma época, definiu um modo de se jogar futebol - que nada resta senão cultuá-lo, como acaba de fazer o técnico do santos. Dorival Junior nunca viu nada melhor do que Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Junior; Andrade, Adílio e ZICO; Tita, Nunes e lico.

A enumeração acima deveria ser toda escrita em caixa alta. Só não o fiz porque exigiria, para ZICO, um corpo de letra maior, esculachando a diagramação. Mas, a resposta vai na veia:

Andrade pode viver no Flamengo do passado que quiser. Qualquer dia, fato, conjuntura o situa na estrutura da Nossa História de Honra. Sai da Gávea, vai da cuidar da vida, mas é só.

E Marcos Braz, Leo "comissão de tintura" Rabello, "Super-helinho (não fode...)?

Presidenta: muito cuidado com a companhia que prefere.