Dunga é um excelente objeto
de estudo biográfico. Assim como a biografia, modalidade durante muito tempo desvalorizada
pela importância excessiva que dava à ação individual, hoje recuperada justo pela
revalorização da vontade na compreensão do contexto, o meio-campo que, embora
estivesse longe de um Falcão, de um Cerezo, de um Andrade, não era nenhum
brucutu e sabia até fazer lançamentos de trivela. Dunga, entretanto, encarnou a
“Era Dunga” e aí foi o seu calvário, cujas chagas continuam até hoje. Tal como
nos anos 90 não era a encarnação da aridez pragmática que nos daria 94, hoje
também não é o Mal Absoluto. Vê-lo dessa maneira é espalhar a cortina de fumaça
que esconde problemas que não convém exame.
Dunga não é o responsável pela
falta de vínculo entre os jogadores e o futebol brasileiro. Talvez seja a nova
divisão do trabalho do futebol espetáculo em que os jogadores são vendidos
ainda na fralda (Messi, aliás, foi pra pra Espanha com 8 anos e também enfrenta
esse problema na Argentina). É certo que o problema de Dunga está na questão
conceitual de jogo, de que o melhor exemplo é o time do Chile, treinado pelo
Sampaoli, que é um treinador inquieto, criativo e que dá gosto ver o seu time jogar,
time também cheio de jogadores mercadorias de consumo externo.
Por isso, além
do contexto internacional, que afeta todo o mundo da bola, temos os nossos
problemas específicos, da grande política que nos deu e nos dá Havelange,
Otávio Pinto Guimarães, Nabi, Teixeira, Marin, Del Nero e Vírus anexos. E que
nada se parecem com a Branca de Neve.
SRN