Não bastasse a cumplicidade com a ditadura, a antipatia por Borges, que morreu no dia de hoje, há 29 anos (1986), só aumenta quando se lê o que ele dizia à Veja (quando esta ainda era um veículo de imprensa) na edição 509, de 7/06/1978. Borges desprezava o futebol com argumentos muito ralos.
Talvez um padrão para o desinteresse pelo que escreveu um literato partidário de uma das ditaduras mais sanguinárias da história latino-americana. Por preferir o diabo ao peronismo, sua cegueira física embotava-lhe o espírito:
“Estoy harto del mundial.” (p.52)
Assim termina a entrevista, para falar pela última vez do que considera um assunto tão chato.
Outro autor - provavelmente valorizado em excesso - o tricolor Nelson Rodrigues, que achava fantástico assistir ao lado de Médici - o radinho de pilha ao ouvido - futebol na tribuna do Maracanã, também não via nada do que ocorria em campo, a ponto de retrucar, quando contestado pela jogada mais tarde exibida na televisão, que “o videotape é burro”.
A cegueira de Borges, mais empedernida, livrou os argentinos de sua presença nos estádios. Nessa edição de Veja, Borges apenas assistiu a
uma única partida na vida e não teve mais "nenhuma vontade de ver outra” (p.52).
“O futebol é um jogo estúpido. Fomenta o nacionalismo e a rivalidade entre as pessoas e os países.” (p.52)
É paradoxal, no admirador do ditador militar Videla, desprezar as possibilidades táticas e estratégicas de contra-ataque, ataque, defesa e surpresa, contidas na movimentação de um time dentro de campo. Como é quase um paroxismo criticar o nacionalismo e, ao mesmo tempo, defender uma ditadura cuja xenofobia tornar-se-ia, já com todas as evidências mesmo pra todo tipo de cegueira, barulhenta e virulenta pelo clima ufanista de copa.
“O futebol é excessivamente frívolo e a frivolidade não importa. Não quero que isso tudo seja interpretado como uma crítica ao governo: eu sou partidário deste regime.”
SRN
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