segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Picanha na Brasa

Por 28 



Outra dia o Máximo publicou uma postagem interessante - o que é raro. "Nem a Igreja Católica Nem a Universal do Macedo".  Escreveu que nomes de destaque da bola se transformaram em grandes marcas publicitárias e necessitam mercados cuja extensão está na amplitude de sua comunicação e visibilidade. Tornam-se sócios dos clubes em "ações de marketing".

Ronaldo não foi para o corínthias para disputar os jogos. Basta entrar em campo, um gol aqui e ali que a amplificação conveniente sempre classifica de "fenômeno". De marketing, sem dúvida.

Entrasse em campo em Edson Passos, a gordura teria sido fritada e comida em alguma laje ali perto. 

O interior das quatro linhas, segundo a expressão de velhos como eu, talvez já não seja mais importante. 

O saudosismo também tão inútil, segundo outro velho ainda mais velho: Hobsbawm escreveu sobre as tradições inventadas. Como a tradição é um discurso pré-moderno e porque o capitalismo também queria grandeza, é o tal negócio. A tradição exigia uma comunidade com valores e práticas comuns, de pouca complexidade, cuja experiência podia ser transmitida oralmente pelos mais velhos. Mas surge a grande cidade, o aprofundamento da divisão do trabalho, a multiplicação de atividades. A vida fica complexa e a tradição que o camponês que vira operário na cidade traz não serve pra nada. Qual a utilidade de coisas de uma aldeia em meio ao dinamismo das novas relações de produção e da dramaticidade das inéditas relações humanas?

Qual a utilidade das histórias de um velho perneta e diabético, a bola "dente de leite", os pés descalços na pelada da rua de paralelepípedo, para a molecada do "play station"?

São coisas que me ocorrem, olhando pra minha perna pendurada no prego da parede, vendo a picanha na brasa que o Ronaldo "fenômeno" ( de marketing)  viraria e  o Flamengo jogando em Edson Passos contra um América; do Rio, o unico time do resto do Rio que eu tenho simpatia e que vi com talento a ponto de até meados da década de 80 chegar  a quarto lugar no campeonato brasileiro.

A menos que se trate de um insensato, o responsável pelo policiamento no sábado deve ter razão para impedir a entrada de pouco mais ou menos mil torcedores com ingresso na mão. Não tenho dúvida, a julgar pelas declarações, prestadas ontem à radio Tupi, tanto do presidente do América, quanto do presidente da federação. Parece que vivemos no mundo da fantasia. Não há problemas, tudo está perfeito, um não sabe o porquê da atitude do policiamento, o outro que foi surpreendido, pois que o América garantira tudo.

Não fossem pelas feridas, que podem surgir num coxo diabético imóvel, não tiraria mais a perna do prego.

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