quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sociologia Interesseira

Por Máximo


Este é um blog sobre o Flamengo. Mas, como a partir do Flamengo é possível tudo, algumas questões levantadas por FHC no texto publicado no blog do Noblat:

Concordo com a análise que faz do contexto político da época da ditadura. Médici era mesmo muito popular, com seu radinho de pilha no Maracanã pra ver o Flamengo, seu "milagre' econômico muito bem urdido pelo Delfin, permitindo à classe média poder comprar seu primeiro carro zero. A proposta de substituir a crítica das armas, inútil, diante de um exército poderoso, e ocupar todos os espaços possíveis de pregação oposicionista.

O resto, entretanto, é de uma sociologia interesseira:

Lula é apresentado como um populista. Aqui a malandragem, pois Fernando Henrique discutiu tanto com Octávio Ianni, com divergências de fundo sobre a natureza do populismo, que, ao invés do sociólogo de que se investe pra escrever o texto pro Noblat, quem acaba prevalecendo mesmo é o político que pensa na disputa do poder. Lula é popular - o que é outra coisa completamente diferente. Acaso lula tentou uma ligação direta com as massas, desrespeitando as intituições, sobretudo os sindicatos? É o tal negócio: o Estado pode ser apropriado pelo capital, mas quando se trata de abrir-se às organizações sindicais é "aparelhamento", ou "república sindicalista", espantalho usado pra derrubar jango. "República sindicalista' é outro papo que não cola em Lula. Jango, sim, era populista e o argumento da "república sindicalista", embora interesseiro pra derrubá-lo, não era nenhum absurdo, pois os sindicatos ainda estavam sob o comando de pelegos da época do Estado Novo. O sindicalismo que se afirma na década de 70 - e do qual o próprio Lula é filho - tem outra natureza e demandas.

Lula e o PT abandonaram a Revolução e se tornaram adeptos da pior forma de capitalismo, o capitalismo à base de trustes. Isso é brincadeira e não merece sequer análise. O próprio FHC, após ter escrito isso, não deve ter feito a barba por mais de uma semana.

Seria diferente se tivesse dito que Lula e o PT se aproximaram de uma espécie de "rooseveltianismo". De fato, o que percebo é um processo social análogo ao que ocorreu nos EUA após o governo Roosevelt: uma progressiva transformação social na direção de uma universalização da condição de classe média. FHC, de passagem, talvez pra não dar força ao Lula, escreve que o governo tem de ser mais do que mera prosperidade econômica e imagem de mobilidade social. É mesmo, cara-pálida?

De resto, foi Lula, com a sua inteligência visceral, quem resume FHC com precisão: "estudou tanto pra desprezar o povão".

FHC propõe uma representação social na qual o povo não tem voz. Considera, como agentes válidos, apenas a classe média, os novos empresários, a juventude do mundo digital, das redes sociais, facebook, blogs, etc. Bobagem.

Lula é quem, de fato, consegue interpretar a massa difusa, desorganizada, sem, entretanto, mobilizá-la nos termos do populismo apenas pra garantir a própria condição de mediador privilegiado. O que o Lula fez, com o bolsa-família, o crédito popular, "minha casa, minha vida", não só mobiliza e - mais do que organiza - dignifica a vida.

FHC usa muito mal a sociologia.

SRN
Máximo

Nenhum comentário:

Postar um comentário