segunda-feira, 30 de julho de 2012

Fígado Comido por Prometeus

Por Tadeu dos Santos




Ao nascermos há já uma miríade de armadilhas nos aguardando.

Você será compelido a optar por uma religião. Sua família é religiosa, seus professores e amigos também. E assim todos os seus referenciais serão erigidos tendo por norte os dogmas inerentes a toda e qualquer religião.

Ela definirá os contornos de sua personalidade, os seus quereres, os rumos de sua vida e até mesmo sua visão da morte. Será uma influência diuturna a fornecer as respostas para todas as questões que lhe surgirem pelo caminho.

Ainda que um dia você adira a uma ideologia que afirma que a religião é uma venda que nos lançam aos olhos a impedir a visão do tanto que há de essencial, haverás de evocar o “princípio da individualização das coisas”, a saber “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa” e dizer:

- Ora, bem sabes que religião é uma coisa e Deus é outra. Não me venhas com truísmos e não mistures o imisturável.

Outra arapuca pronta a fechar-se tão logo ponhas o pé em seu interior é o nacionalismo. Com espeque na oposição do “nós e os outros”, cresceremos firmemente convencidos de que, é óbvio, somos melhores do que os demais. Nossa música é a melhor do mundo, somos criativos, temos molejo e as nossas mulheres... Ah! As nossas mulheres...

E a noção de contrários, claro, vem acompanhada de toda a sorte de estereótipos. E assim alguns povos são cruéis: Árabes, Mexicanos. Outros tantos não são afeitos à democracia: Russos. A pecha de desonestos recai, exemplificativamente, sobre os Turcos (pergunte a qualquer Grego ou Italiano) Argentinos (é o que dizem os Uruguaios).

Mas não só de preconceitos e estereótipos vive o nacionalismo. Ele também se alimenta do ódio recíproco e entranhado. Daqueles que nem mesmo o passar do tempo tem o poder de amainar. É o que se passa entre Argentinos e Ingleses, Poloneses e Russos, Chineses e Japoneses, Palestinos e Israelenses, dentre tantos outros.

Confesso que jamais pus as vestimentas da armadilha religiosa, mas claudico no que tange ao nacionalismo. Fujo, tanto quanto posso, das armadilhas; mas sou fustigado e tentado por elas incessantemente e a vigilância que se faz necessária é, confesso, bastante cansativa.

A vitória da judoca Sara Menezes é um evento limite.

Impressionava a autoconfiança que ela trazia no semblante. A cabeça erguida o tempo todo como a dizer que bem sabia que por aqui atleta que não seja jogador de futebol, precisa construir o pódio com as próprias mãos.
E a adversária, a Romena, era, na ocasião, a campeão olímpica.

Sara é do Piauí. Terra prenhe de latifundiários e miséria à farta. Traz, pois, em seu DNA, a coragem e um incomum senso de sobrevivência.

Nascida num país que tem o 6º maior PIB do mundo, a 5ª maior extensão territorial do planeta (8.514.877 km²) e uma delegação olímpica pífia, faz-se, em consequência, depositária de todos os mitos.

É verdade. Somos todos Sísifos a subir com a pedra apeada às costas, ainda que o castigo divino, quiçá a gravidade, a devolva incessante ao pé do morro. Somos todos Prometeus a esquecer o fígado comido na véspera e lançar-se à resistência já no dia seguinte.

Sim! Sara Menezes é uma figura mitológica. Tinha sangue nos olhos e ainda que selados os lábios indagava à Romena:

- Quem disse que essa medalha é tua?

sábado, 28 de julho de 2012

Copa e Banheiro

Por Tadeu dos Santos






Vi um programa na ESPN onde o cara dizia que os países-sedes não deveriam ficar atrelado ao modelo de olímpiada e/ou copa do mundo ditado pelo comitê olímpico internacional e a FIFA. Disse ainda que nos jogos panamericanos realizados em CUBA o modelo foi ditado pelos cubanos levando em consideração as especificidades do país e seu modesto poderio econômico. Seria esse o modelo a ser seguido. Concordo.

O que ele, contudo, esqueceu de dizer é que nem o COI e tampouco a FIFA obrigar a qualquer país a sediar seus eventos. Ao contrário, eles previamente se submetem a uma série de exigência para, apenas e tão somente, ver aceita sua candidatura. Não é simples? Basta que não sediemos nada. 

A desigualdade no país, mesmo com o bolsa-família, é ainda vexatória. Como pode um país tão desigual, com problemas históricos a aguardar solução gastar a fortuna que gastaremos pra sediar a copa e posteriormente as olimpíadas? É a maldita propaganda do governo. Aliás, meu amigo, você conhece algum país sério que tenha verba destinada à propaganda? Gastam uma fortuna pra alardear que fizeram aquilo a que estão moral e legalmente obrigados. Mostraremos ao mundo que sim, podemos organizar esses eventos megalomaníacos, mas que não conseguimos distribuir adequadamente a renda, acabar com o analfabetismo, proporcionar saúde digna à toda a população e que nossa segurança só funciona pra inglês ver. 

quinta-feira, 26 de julho de 2012

...que se...


Por Tadeu dos Santos



Em comentários expendidos ontem pela TV, Galvão Bueno, o Acéfalo, dizia de sua enorme esperança de que Thiago Silva fosse escolhido o melhor jogador das olimpíadas. Também se referiu ao fato de que o jogador fosse conhecido pela bambizada como o Monstro. Acreditem ou não, a alcunha decorria do “enorme futebol” jogado pelo atleta. Há por aí um outro que atende pelo apelido de Mito. Vejam a grandeza dos apelidos e a pequenez do futebol praticado por ambos e tirem as cabíveis e pertinentes conclusões acerca dos tempos tortuosos que nos são dados a viver.

Ouço os comentários de Paulo César Vasconcellos e fico a maquinar as cifras percebidas por aquele senhor para que diuturnamente surja na televisão a falar o óbvio. Que coisa maçante.

As últimas notícias dão conta de que a Diretoria do Clube de Regatas do Flamengo cogitou contratar o meia argentino Riquelme. Inexitosa a tentativa partiram para a tentativa de levar para os seus quadros o igualmente meia Felippe.

Por ocasião de sua passagem pelo Flamengo, Felippe jogava o primeiro tempo e arrastava-se pelo campo no segundo. Riquelme segue no mesmo diapasão.

Não conseguimos aprender com os erros praticados no passado, algo que alguns mamíferos menos aquinhoados sob o ponto de vista do tamanho do cérebro logram alcançar.

Contratem (não deve ser muito caro) o excelente zagueiro egípcio Regazi. Quem sabe assim nossa zaga deixe de ser uma zona franqueada a quem queira entrar.

Aproveitem a oportunidade e contratem o atacante Salah (nº 11), também egípcio. Canhoto, rápido, habilidoso, corajoso e responsável por todos os pesadelos que o lateral Marcelo, decerto, terá hoje à noite.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Novo Flagrante na UERJ


Ofusca

Por Tadeu dos Santos



Sento-me à beira da praia e não vejo, claro, carros e caminhões apressados a passar por mim e tampouco espero que um dia de repente você volte. Aliás, o cara a quem todo esse pieguismo vitimou, pôs-se à beira do caminho. Como minha beira é outra, tenho toda a linha do horizonte pra por a correr contingências dessa natureza. Ademais, enredei-me de tal maneira pelos meandros da ideologia que abracei que muito cedo despedi-me das deidades. O passo seguinte, foi enxotar de minhas entranhas, as ditas veleidades românticas. Aprendi na escolinha do MST, mas especificamente no livro denominado “Como Evitar Armadilhas Burguesas – Sim!!! É Possível”.

Retomando.

Trazia à lembrança a derrota da tarde de domingo. Love... Império do Amor... Isso não se faz melodia aos meus ouvidos. À míngua de quem dê um bom trato à bola, opto pelo estilo Liminha, clamo pela memória de Almir. Sejamos, ao menos, guerreiros.

E lá ia eu entregue a lamúrias, quando diviso ao longe uma mancha que bruxuleava ante o infatigável sol (que coisa horrível – e ainda há quem goste). Tento ajustar o foco e após algumas piscadelas vejo os claros contornos de uma embarcação.

Sinto-me qual o índio que andava ali pelo litoral a confundir-se com a natureza, quando repentinamente divisou furtivas naus. E elas não cessaram de vir. E como que habitado pelo vetusto espírito (se é que espírito tem em alguma conta essa coisa consistente em medir o ir e vir do tempo) daqueles cujos olhos miraram pela vez primeira as bestas que aqui vieram a ter, olhei à volta à cata de um espelho em bom estado, quiçá uma quinquilharia a que ainda se possa dar uso ou ainda uma bugiganga acaso esquecida ao fundo do bolso.

Aproxima-se então um homem cujo tez denúncia que não faz morada junto aos trópicos. Sem qualquer titubeio, ele emenda:

- Trate de atualizar-se. Vão longe os tempo das ninharias. Ademais, deves saber a quem cabiam os espelhinhos. Viemos à busca do ouro, acaso, claro, tenha sobrado algum. Contentamo-nos, porém, com a prata e no mais sombrio dos quadros, lançaremos o bronze ao alforje. Fazer o quê, né não?

Senti o rosto em brasas. Anos de atraso e a eterna pecha de subdesenvolvido apequenaram-me o espírito. A pele alva e o azul dos olhos punham-me sempre ao chão. Olvidava-me nesses momentos que somos membros integrantes do G-20, que somos emergentes briquianos, que ultrapassamos o PIB da Inglaterra e seguimos firmes no encalço da França. Se não fossem as tristes associações à direita e encheria o peito de orgulho e galhardamente diria que não há quem segure esse país.

Preparava-me já pra lançar um jactancioso “ O ouro, assim como o petróleo, é nosso e ninguém tasca”, quando percebi que o homem de olhos azuis, a quem Lula tão poeticamente se referiu, já ia lá adiante.

Quanta soberba! Cá pensei ensimesmado. Se o título escapou por entre os dedos dos Húngaros em 1954, se deu as costas aos Holandeses em 1974 e 1978, se preferiu Dante a Machado em 1982, por que não haveria de vir ter a essas plagas tal e qual ocorreu nos idos de 1994?

É bem verdade que haveríamos de melhorar o tanto que os demais haveriam de piorar.

Vejo os gols do Messi e o pedido de camisa do Neymar e confesso que nem mesmo os firmes escólios de bom governo que anda a passar “nossa” presidente nas antigas nações ricas possuem o condão de por-me à mansidão.

Concluo que a boa-governança ainda não nos retirou do 84º lugar no IDH e da rabeira de qualquer olimpíada escolar. Não logramos sequer aparecer na lista dos países que mais inovaram tecnologicamente.

Por outro lado, temos uma burocracia gigantesca, uma carga tributária sufocante e juros verdadeiramente indecentes.

“Nosso” governo de esquerda, digamos assim, convive maravilhosamente com todo o cipoal de corrupção entranhado nos seus quadros, com bancos auferindo lucros estratosféricos, com salário mínimo de R$ 622,00, com assistencialismo de toda a sorte e com reforma previdenciária às expensas do funcionalismo.

Não vamos à esquerda e tampouco à direita. Estamos apeados a um cavalo de rédeas soltas. Não estamos sequer um corpo à frente da Argentina que vem logo atrás, cabeça a cabeça, com a Venezuela. Alguns corpos separam o grupo da frente dos retardatários Bolívia e Uruguai. Logo adiante o precipício alcunhado Sul-Sul. Uma beleza de se ver.

Enquanto isso, a Aliança do Pacífico, englobando México, Chile, Colômbia e Peru passa bem. Obrigado!

Éramos sabedores de nosso nanismo em 1994 e nosso baixo centro de gravidade nos garantiu a – por que não? - vitória.

Hoje somos alvo preferencial dos elogios fáceis e sucumbimos diante de nossa opção preferencial pelo dinheiro na cueca, quiçá na meia.
Num país em que juízes honestos são mortos a luz do dia e em que políticos que se pautam na coragem são constrangidos a diuturnamente fazerem-se acompanhar de um séquito de seguranças, não surpreende o viés esquerdista e progressista criado à moda Petista. Como dizia um velha desbocada e debochada que habitou os meus dias de infância: nesses tempos em que tudo o que é sólido flutua no ar, há de se ter cu pra ser de esquerda.

Volto a olhar a linha do horizonte e penso em quanto de desassossego é carreado ao meu espírito pelos fatos. Esses malditos e persistentes fatos. Ainda hei de encaixá-los todos a uma teoria qualquer.

No mais, vou aproveitar o fim das férias-greve pra ler o Capital. Com alguma sorte até logre entendê-lo. Vai saber.

Ensaio alguns passos rumo ao horizonte que se afasta. Que merda!!! Da próximo vez, hei de sentar-me à beira do caminho. E ficarei à espera não importa do que. Esperar é sempre bom...

terça-feira, 24 de julho de 2012

Cuidado, Dorival

Por Tadeu dos Santos





"A Tristeza é senhora
Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite, a chuva cai lá fora


Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim." 




Ouço aqui e ali a velha ladainha de que em breve seremos superados quantitativamente por aquele bando de bandeirantes interioranos e cafonas. Nada há, no entanto, a temer.

Por todo o tempo em que o futebol guardar no mais recôndito de suas entranhas algum espaço onde possa o lúdico se espraiar haverá um mar vermelho e preto tomando toda a extensão da arquibancada.

Demos ao mundo um Basquiat que assobiava e um mágico que gargalhava ao driblar.

Somos o Flamengo de Biguá, Bria, Jaime, Andrade, Adílio, Zico, Geraldo, Rubens, Friedenreich, Jadir, Jordan, Babá, Dida, Valido, Zizinho, Leandro, Júnior, Carlinhos, Índio.

Reinventamos o ato de torcer e, não duvidem, basta chamar e lá estaremos todos. Orgulhosos e fiéis membros do maior e mais importante patrimônio do clube – sua apaixonada torcida.

Dado o recado àqueles que da natureza só conhecem a garoa. Segue um outro para o mais recente pedaço de carne lançado à lenta fritura de nossas caldeiras.

Joel Santana é homem prenhe de defeitos, como todos nosotros. É, no entanto, uma pessoa relativamente previsível. Dedica-se a arrumar a defesa para só na sequência ocupar-se dos demais setores do time.

Todos os seus times tinham uma sólida defesa, um bom meia passador (vide Dejair) e um atacante veloz. Fez carreira vivendo de contra-ataques. Todos sabem disso e queremos crer, também a “diretoria” do Flamengo.

Não merecemos a derrota diante da Bambizada, tampouco o último resultado adverso diante dos matutos azuis e ainda que vivam a repetir que futebol é resultado não contávamos com a posição adotada pela direção do Clube.

Chamar Vágner Love para que ele explicasse o inexplicável afigurava-se a melhor alternativa, superada esta apenas pela impossível alternativa de por a correr os responsáveis pelos desmandos e falta de profissionalismo que imperam na Gávea, a saber, a diretoria.

Mas à semelhança do motorista do ônibus, devemos falar à diretoria apenas e tão somente o indispensável e assim fica o recado: os senhores não estão à altura do Clube de Regatas do Flamengo.

Cuidado Dorival!

domingo, 22 de julho de 2012

Praxis Rubro-Negra

Por Máximo



Che Guevara é inesgotável. 

Fustiga sempre pela crítica, mais do que pelo que organiza. 

E o que se organiza, da religião ao futebol, que não merece fustigação?

SRN


sábado, 21 de julho de 2012

Foucaultdido

Por Tadeu dos Santos




Em a História da Loucura Foucault remete-se à Nau dos Loucos que na Europa Medieval levava os insanos de cidade em cidade. Havia em todo aquele ritual algo de místico e como já dito aos loucos eram dados ouvidos.

Vitorioso o discurso racional e triunfante o capitalismo, a exigência de uniformidade resultou no confinamento e marginalização desse considerável contingente. Precedeu a tudo isso, porém, a cassação de qualquer sentido no discurso outrora ouvido.

Nos dias que seguem, cresce assombrosamente o número de pessoas com transtornos mentais e de pacientes tratados com antidepressivos e outros medicamentos psicoativos (os psiquiatras auferem elevadíssimas comissões junto aos laboratórios), conforme excelente artigo publicado em Piauí, , agosto de 2011, nº 59, da lavra de Marcia Angel – A EPIDEMIA DA DOENÇA MENTAL.

“ O que está acontecendo? A preponderância das doenças mentais sobre as físicas é de fato tão alta, e continua a crescer? Se os transtornos mentais são biologicamente determinados e não um produto de influências ambientais, é plausível supor que o seu crescimento seja real? Ou será que estamos aprendendo a diagnosticar transtornos mentais qe sempre existiram? Ou, por outro lado, será que simplesmente ampliamos os critérios para definir as doenças mentais, de modo que quase todo mundo agora sofre de uma delas? E o que dizer dos medicamentos que viraram a base dos tratamentos? Eles funcionam? E, se funcionam, não deveríamos esperar que o número de doentes mentais estivessem em declínio e não em ascensão?”

A exemplo de “O Alienista” de Machado de Assis, hora teremos todos direito à nossa camisa de força. É a lógica capitalista, a saber, lucro a qualquer preço.

Também a Revista CULT, em seu nº 159, traça os novos rumos da doença mental.

A internação compulsória, contudo, já não é mais possível. É esse o escólio do preclaro Waldeci Gomes Confessor Júnior, exteriorizado em seu artigo “A Internação Compulsória no Contexto da Reforma Psiquiátrica Brasileira”, in verbis:

“Os enfrentamentos são, necessariamente, árduos, uma vez que a reforma psiquiátrica choca-se com um modelo historicamente estabelecido de agenciamento social da loucura, reclamado pela psiquiatria, desde seu surgimento. Há duzentos anos, a psiquiatria responde ao problema da loucura com a solução da internação, exclusão do doente do seu meio social, fomentando estigmas sociais inviabilizadores da expressão subjetiva do indivíduo.
A reforma psiquiátrica, constituindo-se essencialmente enquanto tentativa de evitar a internação como destino, e fomentando uma resposta ao problema do desequilíbrio mental a partir de práticas não asilares, mas tomando como base o agenciamento social da loucura, permite que esse indivíduo, nas contingências de sua loucura, se expresse na forma de ser histórico. A lei nº 10.216/2001, expressão da reforma do modelo assistencial em saúde mental no Brasil, tem por escopo a busca de um aperfeiçoamento técnico e institucional que promova práticas inclusivas, contribuindo profundamente para a transformação da visão social da loucura e do louco.”

Todo esse preâmbulo apenas para dizer que em meio aos removidos do IASERJ por força de Liminar, haviam dois loucos que à falta dos devidos cuidados da família e, claro, do Estado, por ali fixaram residência.

Se antes havia afronta ao Direito, agora dá-se indesculpável ataque aos mais comezinhos princípios de civilidade.

E já que o assunto é civilidade, adivinhem quem foi chamado pra colocar as mãos no lamaçal? O braço armado do Estado. Sim! A Puliça. E como sabem chegar esses caras. Sobretudo quando na trincheira adiante há desvalidos, doentes e maltrapilhos. Como sempre foram sutis, educados e indolores.

Desfeita a massa ignara, espalhados os doentes pelos diversos hospitais da cidade (e que se virem as famílias) e postos os insanos na revivida Nau dos Loucos, deu-se por cumprida a decisão prolatada pelo Juiz (parte imparcial do processo) que logo mais irá lançar-se à cama, deitar a cabeça ao travesseiro e dormir o sono dos justos. Não será atormentado pelos olhos embaçados e pelos gestos destituídos de esperança daqueles a quem parece já a doença um mal menor, quase um bálsamo.

Não sentirá a truculência policial e tampouco o brusco fechar da porta da ambulância. E à moda de Pilatus, o Pôncio, dirá, já ferrado no sono reconfortador, sou imparcial, sou neutro e pouco se me dá...

Á essa altura, Foucault rodopia no túmulo enquanto nosso insigne governador concede entrevista coletiva
  • Resolvido o problema, Governador?
  • Sim, mas não sei se foi a contento. Não entendo muito dessas coisas, sabe? Falar da situação dos funcionários da Saúde, remoção de doentes e coisas que tais, causa-me profunda depressão e constrangimento. Sabes do que gosto? Gosto de Paris, adoro meus amigos empreiteiros, gosto de obras, de construções. Por que não me chamaram pra construir um novo hospital? Você não tem ideia do quanto eu e meus amigos entendemos desses assuntos. Também gosto de lencinhos na cabeça, sabe? Mas duvido que sejas capaz de adivinha aquilo de que mais gosto. E olhe que supera meu amor às obras, aos amigos que ajudam nas obras, a Paris e aos lencinhos que coleciono. Sabes o que é? Adivinha! Adivinha! Não sabes? Pois lá vai: adoro, morro de paixão por volta olímpica. Fico maravilhado ao vê-las. E gosto de saboreá-las de perto. Só vou aos finais de campeonato. Daí meu time invariavelmente perde e eu fico pra ver a volta olímpica dos adversários. Uma beleza só!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Como sentir-se ante a personagens de 3x0?

Por Máximo




A leitura de Nora e Barraclough, na demarcação teórica entre memória e história, tem me feito pensar no Flamengo. A respeito de Barraclough, para quem a história não é feita de continuidade, cito um trecho que guarda pertinência com a recomendação sobre o respeito aos fatos, de resto, a base material da história (da mesma forma que do jornalismo, cuja distinção crítica fica clara na citação abaixo):


"Não é provável que um mero relato do desenrolar dos acontecimentos, mesmo em escala mundial, resulte numa melhor compreensão das forças em jogo no mundo hoje, a não ser que, ao mesmo tempo, estejamos conscientes das mudanças estruturais subjacentes. O que precisamos, antes de mais nada, é de um novo quadro analítico e de novos termos de referência."

Geoffrey Barracloug, 1964

Certo, a narrativa linear das duas últimas décadas dos fatos do futebol é instrutiva. Sua cronologia, entretanto, não explica muita coisa, a menos que tentemos investigar as diferenças que caracterizam o novo período da bola produtiva, racionalizadora, de um arrivismo neófito. Captar a significação das mudanças escondidas nos fatos para a configuração da descontinuidade que me parece clara na afirmação do espetáculo (copa, olímpiadas, megashows, etc) como a expressão de um modo de produção pós-industrial. À bola que rola internacional não poderia ficar entregue à paixão, continuar regida por provincianismo ingênuo de uma rua de paralelepípedo da zona norte carioca da década de 70. 


Talvez, por isso, me refugie na memória:


 Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico, mais do que um poema que Drummond provavelmente gostaria de ter escrito, é Nora na veia, com a memória em uma seleção deformadora a cada demanda evocatória. Revivescência, a recuperação de uma sensação que não necessita vínculos factuais. A realidade não importa, mera desculpa. A memória pode dispensar a experiência, ao contrário da História, inelutavelmente comprometida com o fato.

Como sentir-se ante a personagens de 3 x 0, como Zinho, Magal, Renato Abreu, etc, etc?

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dipirona

Por Tadeu dos Santos



Como já devidamente enfatizado em sua postagem o IASERJ será demolido para que viabilize a ampliação do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que fica ao lado.

O intenso clamor dos familiares e funcionários fornece prova cabal de que os seus interesses não foram levados em conta, seja pelo “preclaro e festivo” governador, seja pelo prolator da decisão que deferiu o pedido de liminar.

Tudo isso me remete às questões levantadas por Foucault acerca da desconsideração do discurso (fala) do louco.

A razão gerara sua contraparte, a desrazão, e assim retirou qualquer sentido ao discurso dos ditos alienados.

O outro viés passa pela pela exigência de uniformidade ínsita ao capitalismo. Fazia-se necessária a homogeneidade, haja vista que, em derradeira análise, esta viabilizaria a massificação da produção. Tudo o que escapava a esses ditames era atirado à marginalidade.

Penso, pois, que a desumanização e marginalização do louco estende-se nos dias que seguem aos doentes em geral, sobretudo aqueles atendidos pelo SUS.

Os abarrotados corredores de “nossos” hospitais públicos são idênticos àquelas alas dos hospícios onde os alienados vagavam sem rumo à espera do fim.

Nos dias que seguem os hospitais públicos são destinados à desmontagem desses outrora seres produtivos.

A higidez física dos pacientes é o objetivo derradeiro perseguidos pelas ditas “autoridades médicas”.

Precedem-lhe as concorrências fraudulentas e a carreira dos membros do corpo médico.

Aqui e ali amontoam-se seres de lerdos movimentos e embaçados olhos. A perda da saúde fez-se caudatária da cassação da cidadania. Pouco importa o discurso que pensem ter ou os interesses que entenda defender. Ela já não é pessoa, é objeto. Mera carcaça, repise-se, à espera da desmontagem.

Tenho cá pra mim (tenho uma tia que inicia todas as frases dessa maneira) que um dia irá a Biologia demonstrar que não somos dados a qualquer resquício de representatividade.

Todo o nosso sistema político repousa nessa canhestra ideia, ou seja, escolho meus representantes de acordo com os pontos em comum abarcados por nossa visão do que seja ou possa vir a ser, o sistema de saúde, a segurança, a educação e por aí vai.

Eleito o representante e lá vai o tipo a defender apenas os seus interesses e alguns daqueles que lhe são próximos. E não há fidelidade partidária ou ameaça de perda de mandato que lhe faça cumprir o prometido.

Jean Jacques Rousseau (O Contrato Social), Thomas Hobbes (O leviatã) e John Locke (Primeiro Tratado sobre o Governo Civil ), são os criadores das chamadas teorias contratualistas que em apertada síntese tratam da criação dos estados nacionais. Sua base de sustentação é a ideia de representatividade.

Olho à volta e concluo que se há de reinventá-la ou mesmo subvertê-la.

Há por aí alguém que se sinta devidamente representado?

No mais, sossegue meu amigo nas questões que dizem respeito à Vila Isabel. Ela está na rota da Copa, bem como das Olimpíadas. Algo há de ser feito para que também estes sítios tornem-se aprazíveis aos olhos dos estrangeiros.

Não se terá em mira a satisfação dos que circulam pelas ruas de Noel. Na dicotômica e antagônica relação que reúne representante e representado, você é aquele destituído de relevância e é de bom alvitre que disso não te olvides.

Quiçá reformem todo o Pedro Ernesto. Talvez façam sumir as macas que infestam os corredores, no auge de meu otimismo chego a crer que até aos doentes dedicarão algum tipo de atenção.

Vês? Hordas de estrangeiros virão ter a esses inóspitos domínios. Lançaremos ao corpo a roupa de domingos e pregaremos no rosto o melhor e mais largo sorriso.

Seguiremos à risca a lógica da justiça Aristotélica e teremos direitos às nossas brilhantes quinquilharias. E eles... bem eles...

E quanto ao futebol resta a triste constatação cuja repetição não tem o condão de modificar seus tristes contornos.

A arte não se fez mercadoria. Na realidade, as vertentes mutuamente excluíram-se. O vil metal colocou a arte pra escanteio.

O futebol é um grande negócio, os jogadores meras mercadorias e a torcida o público consumidor de camisetas e coisas afins. Em meio a tudo isso, a crônica esportiva é o grande balcão onde as negociatas são concretizadas. Reles classificados, vis anunciantes.

Se resta ainda algum romântico em meio a tantas mazelas, eles certamente estão apeados nas gélidas arquibancadas espalhadas país afora.

Já não somos torcedores, somos resistentes, somos heróis. Somos guardiões da memória que se pretende calar. De lá já não entoamos o grito de gol, mas o RESISTO de Prometeu.

domingo, 15 de julho de 2012

A Remoção do IASERJ Revela Implicância com Vila Isabel

Por Máximo




Emitir opinião talvez seja adequado em botequim a respeito, ademais, de futebol. Talvez nem isso, com a "tecnocracia" que infesta o semi-português dos nossos "professores", antigos treineros, distribuidores de camisa, neste arrivismo neófito típico do espetáculo pós-moderno. 


Prefiro fazer charge não é à toa. 


Pedia ao meu amigo e colaborador do Nação , Tadeu dos Santos, sempre bem informado, uma postagem sobre essa remoção, ao que parece abrupta e repentina, dos  pacientes do IASERJ.

Parece que se trata de uma questão juridicamente resolvida, desde 2008, pela qual o Estado cederia ao Hospital do Câncer o terreno onde funcionava o IASERJ. Se é assim, por que tal remoção - repito - abrupta e repentina, a ponto de mobilizar a polícia?

A surpresa é ainda maior, quando leio que haverá  distribuição dos seus serviços por diversas unidades hospitalares do Estado. Meço, perplexo, o tamanho da minha ignorância, pois não imaginava que já dispomos de especializações complexas por hospital. Em Campo Grande, o que cuidará de idosos, um outro, para infectologia, o terceiro, para neurologia e neurocirurgia. Uma sucessão de maravilhas que me faz concluir que a implicância é com Vila Isabel, particularmente com o Pedro Ernesto, de forte vinculação afetiva de minha memória, conforme Nora.

As manifestações também são divergentes. O antagonismo, segundo o que leio na imprensa ( o que quer dizer pouco), fica evidente entre os funcionários, além  das famílias dos pacientes quanto à posição do governo do Estado, amparada por sentença judicial.

Poderia, Tadeu, meu irmão e grande Rubro-Negro, se se dispuser, escrever a respeito para o Nação, fazendo, se possível, uma analogia com o futebol, ao estilo, sobretudo, deste último, "Zizinho Nora", que é um primor de revivescência da memória?

SRN

sábado, 14 de julho de 2012

Zizinho Nora

Por Tadeu dos Santos

"Memória é vida. Seus portadores sempre são grupos de pessoas vivas, e por isso a memória está em permanente evolução. Ela está sujeita à dialética da lembrança e do esquecimento, inadvertida de suas deformações sucessivas e aberta a qualquer tipo de uso e manipulação. Às vezes fica latente por longos períodos, depois desperta subitamente. A história é a sempre incompleta e problemática reconstrução do que já não existe. A memória sempre pertence à nossa época e está intimamente ligada ao eterno presente: a história é uma representação do passado."

Pierre Nora, 1984




O “assaz engraçado” Alex Escobar fazia as costumeiras entrevistas no intervalo do clássico centenário, quando Paulo César Caju , tal e qual o menino que insistia em apontar a nudez real, emendou:
  • Sinto falta da criatividade que sempre se fez presente quando essas duas equipes se encontravam.
Escobar que além de “assaz engraçado” também é um velho adepto do jornalismo mentira, logo consertou:
  • Deixe estar que no segundo tempo melhora.
Não melhorou e convenhamos que não há sequer resquício de luz no fim do túnel.

A ciência afirma que gostamos de músicas pretéritas não porque elas sejam melhores que as atuais, mas sim porque a sua simples audição faz com que nos transportemos à juventude e seus momentos de descoberta.

No primoroso “Meia-noite em Paris” Woody Allen lança loas aos tempos que sequer viveu. É a síndrome da Era Dourada que faz com que louvemos um passado que sequer nos pertence.

Quiçá ocorra o mesmo com o futebol. Repudiamos o presente apenas e tão somente porque o passado nos remete aos nossos melhores momentos.

Não vi Zizinho jogar, mas trago no mais afastado tugúrio de meu cérebro as maravilhas que ele fazia com a bola. Ainda não nascera por ocasião do famoso tento de Valido mas já fiz-me rouco por tanto comemorá-lo.

Pra variar talvez esteja o meu cérebro a brincar com minhas certezas. Convença-se homem, passado e presente são equivalentes. Mudou apenas as rugas que trazes no semblante e a lentidão que carrega no andar. No mais tudo é igual. Não vês?

Com os olhos postos nesse belo escólio de natureza científica, assisto impassível a convocação que meu cérebro faz de um célebre mantra: Raul, Mozer, Marrinho, Leandro e Junior; Andrade, Adílio, Tita, Zico, Nunes e Lico.

E prossegue:

Rondinelli, Zizinho, Índio, Perácio, Valido, Dr. Rubens, Aldair, Domingos da Guia, Reyes, Biguá, Bria, Jaime, Dequinha, Tomires, Cláudio Adão, Paulo César, Dida, Doval, Leonardo, Zinho, Manguito, Tadeu Ricci, Eduzinho, Rogério, Silva, Liminha, Geraldo.

Que não me acuda a certeza e tampouco algum ponto no alto do confortável muro

Em algum momento a mercantilização matou a magia. Já vi coisas melhores. Na realidade, vi a magia em sua mais pura manifestação, mas nada sabia de sua finitude. Que pena!


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Ô Louco!

Por Máximo



Uma boa diversão, a caricatura paulista, ajuda a passar o tempo.

Rubro-negros divertimo-nos sem dispensar a solidariedade com o fenômeno de massa que nos é similar sob a garoa paulista.

Os morteiros podiam ser ouvidos aqui em Vila Isabel em solidariedade ao título corinthiano.

Valeu.

SRN