Sento-me à beira da praia e não vejo, claro, carros e caminhões apressados a passar por mim e tampouco espero que um dia de repente você volte. Aliás, o cara a quem todo esse pieguismo vitimou, pôs-se à beira do caminho. Como minha beira é outra, tenho toda a linha do horizonte pra por a correr contingências dessa natureza. Ademais, enredei-me de tal maneira pelos meandros da ideologia que abracei que muito cedo despedi-me das deidades. O passo seguinte, foi enxotar de minhas entranhas, as ditas veleidades românticas. Aprendi na escolinha do MST, mas especificamente no livro denominado “Como Evitar Armadilhas Burguesas – Sim!!! É Possível”.
Retomando.
Trazia à lembrança a derrota da tarde de domingo. Love... Império do Amor... Isso não se faz melodia aos meus ouvidos. À míngua de quem dê um bom trato à bola, opto pelo estilo Liminha, clamo pela memória de Almir. Sejamos, ao menos, guerreiros.
E lá ia eu entregue a lamúrias, quando diviso ao longe uma mancha que bruxuleava ante o infatigável sol (que coisa horrível – e ainda há quem goste). Tento ajustar o foco e após algumas piscadelas vejo os claros contornos de uma embarcação.
Sinto-me qual o índio que andava ali pelo litoral a confundir-se com a natureza, quando repentinamente divisou furtivas naus. E elas não cessaram de vir. E como que habitado pelo vetusto espírito (se é que espírito tem em alguma conta essa coisa consistente em medir o ir e vir do tempo) daqueles cujos olhos miraram pela vez primeira as bestas que aqui vieram a ter, olhei à volta à cata de um espelho em bom estado, quiçá uma quinquilharia a que ainda se possa dar uso ou ainda uma bugiganga acaso esquecida ao fundo do bolso.
Aproxima-se então um homem cujo tez denúncia que não faz morada junto aos trópicos. Sem qualquer titubeio, ele emenda:
- Trate de atualizar-se. Vão longe os tempo das ninharias. Ademais, deves saber a quem cabiam os espelhinhos. Viemos à busca do ouro, acaso, claro, tenha sobrado algum. Contentamo-nos, porém, com a prata e no mais sombrio dos quadros, lançaremos o bronze ao alforje. Fazer o quê, né não?
Senti o rosto em brasas. Anos de atraso e a eterna pecha de subdesenvolvido apequenaram-me o espírito. A pele alva e o azul dos olhos punham-me sempre ao chão. Olvidava-me nesses momentos que somos membros integrantes do G-20, que somos emergentes briquianos, que ultrapassamos o PIB da Inglaterra e seguimos firmes no encalço da França. Se não fossem as tristes associações à direita e encheria o peito de orgulho e galhardamente diria que não há quem segure esse país.
Preparava-me já pra lançar um jactancioso “ O ouro, assim como o petróleo, é nosso e ninguém tasca”, quando percebi que o homem de olhos azuis, a quem Lula tão poeticamente se referiu, já ia lá adiante.
Quanta soberba! Cá pensei ensimesmado. Se o título escapou por entre os dedos dos Húngaros em 1954, se deu as costas aos Holandeses em 1974 e 1978, se preferiu Dante a Machado em 1982, por que não haveria de vir ter a essas plagas tal e qual ocorreu nos idos de 1994?
É bem verdade que haveríamos de melhorar o tanto que os demais haveriam de piorar.
Vejo os gols do Messi e o pedido de camisa do Neymar e confesso que nem mesmo os firmes escólios de bom governo que anda a passar “nossa” presidente nas antigas nações ricas possuem o condão de por-me à mansidão.
Concluo que a boa-governança ainda não nos retirou do 84º lugar no IDH e da rabeira de qualquer olimpíada escolar. Não logramos sequer aparecer na lista dos países que mais inovaram tecnologicamente.
Por outro lado, temos uma burocracia gigantesca, uma carga tributária sufocante e juros verdadeiramente indecentes.
“Nosso” governo de esquerda, digamos assim, convive maravilhosamente com todo o cipoal de corrupção entranhado nos seus quadros, com bancos auferindo lucros estratosféricos, com salário mínimo de R$ 622,00, com assistencialismo de toda a sorte e com reforma previdenciária às expensas do funcionalismo.
Não vamos à esquerda e tampouco à direita. Estamos apeados a um cavalo de rédeas soltas. Não estamos sequer um corpo à frente da Argentina que vem logo atrás, cabeça a cabeça, com a Venezuela. Alguns corpos separam o grupo da frente dos retardatários Bolívia e Uruguai. Logo adiante o precipício alcunhado Sul-Sul. Uma beleza de se ver.
Enquanto isso, a Aliança do Pacífico, englobando México, Chile, Colômbia e Peru passa bem. Obrigado!
Éramos sabedores de nosso nanismo em 1994 e nosso baixo centro de gravidade nos garantiu a – por que não? - vitória.
Hoje somos alvo preferencial dos elogios fáceis e sucumbimos diante de nossa opção preferencial pelo dinheiro na cueca, quiçá na meia.
Num país em que juízes honestos são mortos a luz do dia e em que políticos que se pautam na coragem são constrangidos a diuturnamente fazerem-se acompanhar de um séquito de seguranças, não surpreende o viés esquerdista e progressista criado à moda Petista. Como dizia um velha desbocada e debochada que habitou os meus dias de infância: nesses tempos em que tudo o que é sólido flutua no ar, há de se ter cu pra ser de esquerda.
Volto a olhar a linha do horizonte e penso em quanto de desassossego é carreado ao meu espírito pelos fatos. Esses malditos e persistentes fatos. Ainda hei de encaixá-los todos a uma teoria qualquer.
No mais, vou aproveitar o fim das férias-greve pra ler o Capital. Com alguma sorte até logre entendê-lo. Vai saber.
Ensaio alguns passos rumo ao horizonte que se afasta. Que merda!!! Da próximo vez, hei de sentar-me à beira do caminho. E ficarei à espera não importa do que. Esperar é sempre bom...
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