sábado, 14 de julho de 2012

Zizinho Nora

Por Tadeu dos Santos

"Memória é vida. Seus portadores sempre são grupos de pessoas vivas, e por isso a memória está em permanente evolução. Ela está sujeita à dialética da lembrança e do esquecimento, inadvertida de suas deformações sucessivas e aberta a qualquer tipo de uso e manipulação. Às vezes fica latente por longos períodos, depois desperta subitamente. A história é a sempre incompleta e problemática reconstrução do que já não existe. A memória sempre pertence à nossa época e está intimamente ligada ao eterno presente: a história é uma representação do passado."

Pierre Nora, 1984




O “assaz engraçado” Alex Escobar fazia as costumeiras entrevistas no intervalo do clássico centenário, quando Paulo César Caju , tal e qual o menino que insistia em apontar a nudez real, emendou:
  • Sinto falta da criatividade que sempre se fez presente quando essas duas equipes se encontravam.
Escobar que além de “assaz engraçado” também é um velho adepto do jornalismo mentira, logo consertou:
  • Deixe estar que no segundo tempo melhora.
Não melhorou e convenhamos que não há sequer resquício de luz no fim do túnel.

A ciência afirma que gostamos de músicas pretéritas não porque elas sejam melhores que as atuais, mas sim porque a sua simples audição faz com que nos transportemos à juventude e seus momentos de descoberta.

No primoroso “Meia-noite em Paris” Woody Allen lança loas aos tempos que sequer viveu. É a síndrome da Era Dourada que faz com que louvemos um passado que sequer nos pertence.

Quiçá ocorra o mesmo com o futebol. Repudiamos o presente apenas e tão somente porque o passado nos remete aos nossos melhores momentos.

Não vi Zizinho jogar, mas trago no mais afastado tugúrio de meu cérebro as maravilhas que ele fazia com a bola. Ainda não nascera por ocasião do famoso tento de Valido mas já fiz-me rouco por tanto comemorá-lo.

Pra variar talvez esteja o meu cérebro a brincar com minhas certezas. Convença-se homem, passado e presente são equivalentes. Mudou apenas as rugas que trazes no semblante e a lentidão que carrega no andar. No mais tudo é igual. Não vês?

Com os olhos postos nesse belo escólio de natureza científica, assisto impassível a convocação que meu cérebro faz de um célebre mantra: Raul, Mozer, Marrinho, Leandro e Junior; Andrade, Adílio, Tita, Zico, Nunes e Lico.

E prossegue:

Rondinelli, Zizinho, Índio, Perácio, Valido, Dr. Rubens, Aldair, Domingos da Guia, Reyes, Biguá, Bria, Jaime, Dequinha, Tomires, Cláudio Adão, Paulo César, Dida, Doval, Leonardo, Zinho, Manguito, Tadeu Ricci, Eduzinho, Rogério, Silva, Liminha, Geraldo.

Que não me acuda a certeza e tampouco algum ponto no alto do confortável muro

Em algum momento a mercantilização matou a magia. Já vi coisas melhores. Na realidade, vi a magia em sua mais pura manifestação, mas nada sabia de sua finitude. Que pena!


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