segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Zizek, Assobiador

Por Tadeu dos Santos, graduado em Ciências Sociais e Direito, pela UERJ



O texto que se segue já foi anteriormente publicado no Nação. Ele novamente tornou-se oportuno em decorrência da crítica efetuada por John Gray, autor de Missa Negra, Cachorros de Palha, Voltaire, Al Qaeda e o que significa ser moderno, dentre outros, à obra de Slavoj Zizek, na Revista Piauí, nº 71.


A crítica à Violência Revolucionária presente na obra de Zizek faz-se nos seguintes termos;

'A celebração da violência é uma das principais vertentes na obra de Zizek. Ele critica Marx por pensar que a violência pode ser justificada como parte do conflito entre classes sociais definidas objetivamente. A luta de classes não deve ser entendida como um conflito entre agentes particulares dentro da realidade social: não é uma diferença entre agentes (que pode ser descrita por meio de uma análise social detalhada), mas sim um antagonismo (luta) que constitui esses agentes. Aplicando essa visão ao discutir os massacres de Stálin ao campesinato, Zizek descreve como a distinção entre os Kulaks (camponeses ricos) e os demais se tornou turva e inviável: numa situação de pobreza generalizada, os critérios claros não se aplicam mais, e as outras duas classes de camponeses muitas vezes se uniam aos Kulaks em sua resistência à coletivização forçada”. Em resposta a essa situação, as autoridades soviéticas introduziram uma nova categoria, o sub-kulak, o camponês pobre demais para ser classificado como kulak, mas que partilha os valores dos kulaks.

Assim, a arte de identificar um kulak deixou de ser uma quesgão de análise social objetiva; tornou-se uma espécie de complexa “hermenêutica da suspeita”, de identificar “as verdadeiras atitudes políticas” de um indivíduo escondidas debaixo das suas enganosas afirmações públicas.

Descrever o assassinato em massa dessa maneira, como um exercício de hermenêutica, é repugnante e grotesco; é também característico da obra de Zizek. Ele critica a política de coletivização de Stálin, mas não por conta dos milhões de vidas que foram violentamente interrompidas ou destruídas em seu curso. O que Zizek critica é o apego persistente de Stálins aos “termos marxistas científicos” (…) O que Zizek condena em Stálin não é o uso implacável da tortura e do assassinato, mas sim o fato de ter tentado justificar o recurso sistemático à violência mediante referencias à teoria marxista.


No mais, impõe-se afirmar que Zizek tem uma produção algo prolixa (mais de 60 obras após a publicação de seu primeiro livro em l989). Também há fartura na publicação de artigos e entrevistas. Também no cinema se faz presente com Zizek (2005) e The Pervert's Guide to Cinema (2006). É um astro Pop na mais pura acepção da palavra e decerto, algum visionário já terá afirmado que o século XXI será inteiramente dominado por Zizek, sua pregação à violência e seu incomensurável amor a Stálin.

Todavia, a estreita ligação com o texto há tempos publicado faz-se presente na seguinte passagem da obra de Zizek:

“A (…) virtualização do capitalismo é, em última análise, a mesma do elétron na física das partículas. A massa de cada partícula elementar é composta pela sua massa em repouso mais o excedente fornecido pela aceleração do seu movimento; no entanto, a massa de um elétron em repouso é zero, pois a sua massa consiste apenas no excedente gerado pela aceleração, como estivéssemos lidando com um nada que adquire uma substancia enganosa apenas por girar magicamente até tornar- se excesso de si mesmo”.

John Gray não resiste e tece as seguintes considerações:

“É impossível ler o trecho acima sem lembrar o caso Sokal, em que Alan Sokal, um professor de física, apresentou um artigo-paródia - “Transgredindo as fronteiras: rumo a uma hermenêutica transformativa da gravidade quântica” - a uma revista de estudos culturais pós-modernos. Também é difícil ler isso, e muitas passagens semelhantes de Zizek, sem desconfiar que ele esteja envolvido – seja intencionalmente ou não – em uma espécie de autoparódia”.

Afastemos todo o lustro terminológico dos argumentos tendentes à defesa do Stalinismo e ao fim temos apenas o elogio do monopólio estatal da força posto a serviço da imposição de seu ideário/interesses. E não há aqui qualquer distinção à idêntica utilização da coercitividade levada a efeito pelo cristianismo, pelo nazismo, pelo iluminismo e pelo capitalismo.

São todos movidos pelos ismos à que já se referiu John Gray. São todos movimentos messiânicos destinados à redenção do homem.

Ora tem-se a promessa do paraíso livre de todo e qualquer pecado. Ora a redenção apresenta-se na forma de uma sociedade sem classes, liberta da exploração.

A visão que se projeta é de tal maneira sedutora que justifica todos os meios utilizados à sua consecução.

Ao Stalinismo falta apenas uma montanha de vítimas silentes e esquálidas com os olhos tomados pelo terror.

No mais, a oitiva das defesas dos acusados no mensalão conduz-me ao mesmo tipo de reflexão.

Não há ali qualquer resquício de ciência ou mesmo o mero encadeamento lógico do raciocínio. São peças prenhes de escárnio e o mar de vítima tem início nos jactantes ministros do STF e deságua no imposto nosso de cada dia.



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