sábado, 21 de fevereiro de 2015

Brizola x Cartel de ônibus


Um percurso pelas edições do Globo, disponíveis no acervo digitalizado do jornal, a partir de 11 de dezembro de 1985, quando Brizola encampa as 16 empresas de ônibus do Rio, é um exercício interessante pra se conhecer a construção de uma campanha de desestabilização de um governo legítimo, eleito por voto popular, na primeira eleição direta pra governador em quase 20 anos de ditadura. Da perplexidade inicial, pela encampação com que, preparada em sigilo, Brizola surpreende, ao ataque contumaz de porta-voz dos empresários, são edições sucessivas que expressam um tipo de poder que já passou da hora de ser enquadrado.

14 de dezembro de 1985: “Ex Donos Vão Pedir 10 Vezes mais pelas empresas Encampadas’

Uma primeira página que é um primor de vilania. A nota da Firjan afirma que o Governo não demonstrou competência pra operar serviços públicos, como se as empresas privadas a tivessem. No mesmo parágrafo, logo a seguir, o jornal, querendo ratificar a nota, diz que o governo do Estado agora passará a ser dono de um motel, em Nova Iguaçu, “Motel Paradise”, que pertencia à Viação Mageli, também encampada. Será que os leitores do Globo eram tão estúpidos que não percebiam o péssimo disfarce arranjado pelo editor. Quem lê aquilo, de imediato se pergunta: o que faz um motel entre os bens de uma empresa de ônibus?

Porém, a cereja do bolo ainda estava por vir. No último período do parágrafo: funcionários da empresa encampada, aos berros:

“Queremos o patrão.”

SRN


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