quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Doutor Sócrates: a incoerência coerente

Quando veio pro Flamengo, no meio da década de 80, já não era mais o "Doutor Sócrates", do passe perfeito, o calcanhar único de ante-visão. Queria viver o Rio e virar o carioca em que todos se transformam venham de onde for. Merecia o Rio, assim como o Brasil mereceu a "Democracia Corinthiana' que ajudou a implantar num dos ambientes mais reacionários e obscurantistas que é o mundo da bola. Uma experiência simbólica, em que não havia distinção de "classe", presidente, diretor, jogadores, roupeiros todos tinham um único e igual voto pra decidir a vida do Corínthians (pra desgosto do goleiro Leão, como era típico), num momento de transição política que nos daria o maior movimento de massas da história do país: as 'Diretas Já", em 84, que se frustaria, num Congresso que se sabia viciado pela ditadura rumo a um colégio eleitoral para a "Nova República" (a sorte de Tancredo foi ter morrido e assim poder entrar pra história). 

Talentoso também com as palavras, escrevia bem expondo-se com todas as suas contradições, que, ao contrário das dos oportunistas, era o próprio fígado. Pois as contradições dos oportunistas não têm risco e logo resolvidas com a oferta disponível, ao passo que contraditórios como Sócrates são daqueles que, mudando a realidade, mudam o discurso, aparentando apenas incoerência. É, por isso, que o mesquinho prega a coerência a todo custo. Reparem.


SRN aos 61 anos do Doutor


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