terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Aos "Idiotas da Objetividade"

Acabo de receber este e-mail, enviado por 28. Segundo este meu irmão, trata-se de cópia de fragmento de texto de um palestrante, Amparo Puskas, que, lamentavelmente, não pôde aceitar o convite para comparecer ao recente Footecon que o Parreira promoveu no Copacabana Palace. Não sei se foi publicado nem como o 28 a ele teve acesso. Seja como for, o que me dizem?

SRN
Máximo


Aos "idiotas da objetividade"

Por Amparo Puskas

Mário Filho era Rubro-Negro. Para a maioria aqui presente, ainda muito jovem, o nome ao qual acabo de me referir deve lhes lembrar apenas o Maracanã.

Na verdade, não foi à toa que Mário Filho chegou a ter seu nome na fachada do Campo Oficial do Flamengo. Leiam "O Negro no Futebol Brasileiro", integrante da bibliografia de referência, uma das obras fundamentais para se entender a importância do futebol no Brasil e a sua conexão com Gilberto Freyre na construção de um projeto identitário nacional tributário à modernidade, um tipo de inteligibilidade ultimamente contestada pela Nova História, novos objetos, novas abordagens, centrifugações identitárias. Mas, não é este o tema de minha participação e sim a objetividade dos idiotas.

Reparem, entretanto, o título desta comunicação: "Aos idiotas da objetividade". Trata-se de uma expressão confeccionada pelo irmão de Mário Filho, o também jornalista, escritor e dramaturgo, Nelson Rodrigues. Praticamente cego - o que explica o fato de ser  tricolor - Nelson Rodrigues ia ao Campo Oficial do Flamengo e inventava, imaginando da tribuna colorida em pó de arroz o que dava por ocorrer em campo em meio à fauna serelepe das laranjeiras. No dia seguinte, nas páginas do Jornal dos Sports, aparecia um outro jogo, escrito pela imaginação delirante do irmão de Mário Filho.

"Mas, Nelson, o jogo foi outra coisa. Nada tem a ver com o que você escreveu. Vá ver o videotape!"

"O videotape é burro e vocês são todos uns idiotas, idiotas da objetividade."

Essa resposta vale mais do que uma piada. É a expressão da objetividade idiota que os demais tricolores cobravam de Nelson. Não pesquisei o suficiente, até porque pra entrar em qualquer arquivo tricolor é preciso antes passar pó-de-arroz e eu sou alérgico, lamentavelmente. Importante, no entanto, é o sentido implícito contido no recado criativo do irmão de Mário Filho: a história já há muito abandonou o historicismo, o nível dos acontecimentos que se sucedem em cadeia cronológica numa explicação monocausal. São várias as fontes produzindo sentidos que atuam reciprocamente. Em suma: Nelson confirma a estupidez, muito comum no resto do Rio de tricolores ecológicos, vascaínos de segunda e botafoguenses amarelos-chorões, de que "contra fatos não há argumentos".

Um conselho de veterano: toda vez que ouvirem tamanha platitude olhem pra face do infeliz que a proferiu. O orgulho que demonstra, como se anunciasse uma das verdades renovadas de um dos 10 mandamentos. Pobre-diabo. Não irei complicá-lo, derretendo-lhe seus pobres miolos toscos, mas, a despeito de não recorrer a qualquer outro referencial teórico que inutilizaria em poucos segundos a idiotia, recorro simplesmente ao irmão de Mário Filho: "idiotas da objetividade".

Esta é a introdução, indispensável à análise do estropiamento do esporte pelo negócio a que assistimos na reta final deste brasileiro. A entrega vergonhosa dos paulistas a esse time medíocre das Laranjeiras, sem cuja ajuda, vinda de plagas forasteiras, em lombo de burro, não teríamos sequer notícia.

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