quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Flamengo é Arte Política

Passar em frente ao quartel da PE, vindo da Barão de Mesquita, pra entrar na Gonzaga, é um trecho que não me agrada. Não me entra na cabeça a covardia, a possibilidade de imaginar alguém completamente imobilizado, pendurado no pau-de-arara, levando choque nos culhões. A história que precisa sempre ser contada. 

Outra história  que lamento ter de contar: descendo a Gonzaga, pouco antes de entrar na casa, já escuto o latido do Maradona, fila que o 28 trouxe de Saquarema. Dizia que também bebia, quando o 28 também bebia e que não parou, mesmo após 28 ter parado. Havia no latido do Maradona uma nota Ramones. De fato: a porta aberta, alguns manuscritos espalhados em torno da muleta caída sobre as costas do 28. Felizmente, foi só um susto. 28 ainda está internado no Hospital da Lagoa, mas passa bem. Acabei de falar com sua filha, a quem disse que iria fazer uma compilação, aproveitando o título do que provavelmente seria uma postagem,  para a postagem de hoje.

SRN
Máximo


O Flamengo é Arte Política

Por 28

O futebol é um fenômeno urbano exatamente como o capital. A circulação que lhes dá densidade encontra no populismo a conveniente expressão política. O futebol fornece a emoção que liga diretamente às massas. Renova a estrutura, mitigando o capital. A prosseguir no argumento a conclusão parece inescapável: o futebol é um instrumento de alienação. 

(Aprofundar leitura da primeira teoria do populismo: massa objeto. Adiante, a revisão crítica, a segunda teoria, massa como sujeito.)

Outra dimensão de análise é a estética. Golbery dizia que política é arte, porque exige apoio. A arte mobiliza a emoção, criando identidade e estabelecendo compromisso. A adesão ao futebol é uma das mais genuínas manifestações estéticas. Uma das formas mais prazerosas o  gosto popular pela bola. 

(Não esquecer de anotar tudo, qualquer ponto, até reticências. Reticências é o cacete. Reticências é pra quem não diz. E não me esconderei nessa memória muquirana, traíra.)

O historicismo relaciona-se ao acontecimento, opondo particularismo ao universal iluminista. O indivíduo é o eixo em torno do qual gira o mundo.

A história estrutural acaba com os heróis e se desloca para o materialismo.

O romantismo marxista talvez seja a melhor Nova História. Com Thompson, a valorização dos novos objetos está na imaginação, no sentimento que humaniza a estrutura, capta-lhe o específico (o afeto familiar do camponês, o prazer com a habilidade do artesão - atributos pré-industriais não como anacronismo de tradições superadas, mas como crítica ao pragmatismo racional utilitarista), a sincronia na diacronia, renovando a dialética, a unidade na adversidade.

No romantismo marxista de Thompson, a raiz emocional da razão é a sincronia na diacronia.

Penso que o importante, quando, sobre Liminha, Merica e Dendê afirmam-se Zico, Júnior e Adílio, temos o nosso correspondente muggletoniano.

A síntese marxista não é apenas racional, mas também emocional. 

O historicismo, ao contrário, é um estímulo ao panegírico. A vida segue linear e causal. "Querer é poder' só serve de título de livro do Lair Ribeiro. Porque não há dialética. As demandas e contradições da realidade não contam. Porque não vendem.

É preferível a história mítica, a narrativa dialética do herói (Herói Rubro-negro, por que não? No trem, no ônibus, na Avenida Brasil, no inferno da bala oficial, da bala pútrida ): exclusão, provação, redenção. Ao redimir, o Herói Rubro-negro torna-se social, na redenção coletiva de uma nova realidade. 

É o tal negócio.

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