quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

100%, Corneta Psicografada

Por 28



Assim que terminou o jogo, procurei um macumbeiro de confiança. Mas, não achei nenhum aberto.

"Pela hora, só na sexta" - foi o que me disse Zeca do Alguidar, da Souza Franco - "mas, eu vou quebrar teu galho."

Esqueci-me dizer da força da Ângela. Minha filha, vendo que eu não atendia o telefone, passou lá em casa, mostrei-lhe as aftas na gengiva que me impediam falar, o braço esquerdo sem articulação, quente, pelando como sopa de entulho.

Sem falar nem escrever, talvez não fizesse muita diferença, o problema é o compromisso: palavra é palavra, psicografada também vale, e a postagem que me cabe pronta pra amanhã cedo (quinta).

"A magia é um fenômeno social que decorre de um sistema simbólico coletivo. O indivíduo é socialmente instado a crer e, ao crer, reforça a instãncia de crenças instituídas. Uma emulação permanente de caráter circular."

É o tal negócio: macumba fora de hora, ainda por cima feita de favor. Olhei pra Ângela, que me fez um sinal que estava tudo bem.

"Quando a magia fracassa, quando não mais se confundem numa só as dimensões da ação e do pensamento, ao indivíduo não basta mais apenas pensar para ver a realidade se constituindo, neste momento, exatamente neste momento, percebe que há forças que lhe são superiores, os Deuses existem, surge a religião."

Achei que a introdução havia sido oportuna. Explicava a diferença entre o resto do Rio e o Flamengo. Zeca do Alguidar, no entanto, tem um caboclo prolixo.

"Os feiticeiros não fazem a mediação, não conciliam os crentes e as forças anímicas, permanecem uma extensão em linha direta dessas forças. Não interessam aos feiticeiros nem os motivos nem a situação do crente; é tão somente um veículo de ação das forças anímicas na subordinação do crente, na ratificação do sistema simbólico comum. A descida do espírito é uma das formas de representação inscritas no sistema simbólico. 

A diferença entre culto e rito também marca a que existe entre religião e magia. Ao vencer, tornando-se socialmente dominante, a religião marginaliza a magia. Então todo culto religioso torna-se púbico e implica um compromisso. Já o rito mágico reveste-se de mistério, torna-se secreto, refratário. Praticada pelos marginalizados, ganha a magia um viés de resistência, naturalmente maléfica, vingativa, proibida: é uma necessidade, não uma obrigação social. 

Reparem o Flamengo. Esqueçam-se do jogo de hoje, a despeito dos três a zero, da classificação antecipada, do comportamento confuso de um time ainda sem padrão de jogo, fazendo dois gols, para, em seguida, fixar-se atrás da linha da bola, marcar como time pequeno e atacar pior ainda, atacar como o resto do Rio. 

Esqueçam-se disso para enxergar nossa capacidade de renovação popular, de que nos é exemplo o moleque Negueba. 

O Flamengo é a dialética carioca da magia e da religião, do marginal ao instituído, do que se recusa ao instituído, mas que ironiza a novidade enquanto ainda transita do modismo para a cultura.

Rubro-Negros aqui no além também estivemos, dobrando a massa que esteve na Gávea, para recepcionar Ronaldinho, mas também não nos iludamos com panegírico. Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas é o seguinte: no Flamengo não se joga com pedigree. Tranquilo, diz aqui o caboclo que tinha uma parenta rica que pagava as contas do mês, mas que não enganava ninguém. Enganava, por interesse, porque era útil."

Zeca do Alguidar é um macumbeiro que gosta de tecnologia. Seu caboclo sabe digitar e mandou a postagem direto pro Máximo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário