quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A Palavra, Feminina Palavra

Por Máximo
 

As palavras, belas palavras. Não é à toa que é palavra e não palavro. Feminina, deita-se dócil, lânguida, entregue ao carinho. Gosta da língua, que lhe roça o corpo nas três vogais a, a, a.

Não importa a idade, um sujeito vive o que for e nunca compreenderá a cabeça de uma mulher. Assim a palavra, de quando em quando também caprichosa.

Assisto ao "Arena Sportv" apenas pela presença do Parreira. Um papo excelente, articulador brilhante que pensa o futebol no plano do conceito. Mas, a palavra aqui é caprichosa e não se revela ou não corresponde ao que se viu. Nessas horas, ela se desculpa, não se diz unívoca, mas plurissignificativa. Foi a companheira que o Parreira resolveu escolher e levar pra televisão.

"Futebol-arte é uma concepção, cunhada pelo europeu, que surge na Copa de 58, com base no Pelé."

Parreira nos esclarece expondo que a base de nosso futebol é a técnica e a habilidade, sempre foi, apenas nos faltava o que, a partir de 66, passou a ser indispensável: a preparação física para dar conta dos espaços exíguos, reduzidos justo pela velocidade que aumentou e acelerou o ritmo do jogo.

Questionado sobre 94, Parreira se recusa à pecha de anti-futebol.

"Reparem o que nós tínhamos naquela época? Basicamente futebol brasileiro: uma linha de quatro zagueiros, dois laterais ofensivos, tanto na direita, quanto na esquerda, dois pontas de lança únicos, raros , na nossa história (Bebeto e Romário), posse de bola, toque, habilidade. Evidente que precisávamos de proteção. É natural que não podíamos dispensar Mauro Silva e Dunga, a respeito do qual, não se enganem, sabia jogar bola, não errava um passe. Além disso, o aspecto psico-social, vínhamos de 24 anos de derrotas ininterruptas, frustrações coletivas sucessivas. Não podíamos perder."

Parreira prossegue, didático, professor brilhante, citando Cruyff, a revolução holandesa, a escola implantada no Barcelona de 30 anos, a partir do próprio Cruyff, primeiro, como jogador, depois como treinador. O Barcelona "ataca o contra-ataque", ou seja, ao perder a bola no ataque, o próprio ataque catalão dá o bote acirrado sobre o zagueiro; Parreira conclui:

"De 10 bolas, oito são recuperadas nessa tática."

Aprendemos que o futebol hoje está reduzido a 40 metros do campo. Um bloco massivo de deslocamento, compacto, uma unidade bem treinada - eis a diferença proporcionada pela preparação física e pela velocidade.

Parreira agora fala em marketing.

Nesse ponto há uma coincidência com o que pensa o 28, grande irmão que escreve  aqui no  blog. 28 outro dia escreveu, após ler Adam Smith, a propósito da contratação do Ronaldinho, que "a extensão do mercado da bola está na exata medida de sua visibilidade e comunicação".

Parreira inscreve em tais condições objetivas do atual mercado da bola a contratação de estrelas como Ronaldinho, que, de resto, não precisam jogar. São trens pagadores. Pagam a Light, a Cedae, a Ceg e ainda fazem as compras no Extra-Boulevard, com troco pro sorvete de casquinha no Mac Donald.

As palavras são sedutoras justo porque, a exemplo das mulheres, não apenas gostamos de mulher, mas da mulher, tal como das palavras:

Quem viveu lembra a antítese entre a bola do time do Parreira, a despeito de também ser futebol brasileiro, e a bola dos times dirigidos por Telê, a arte da bola, arte sem título.

Talvez a história-problema de Marc Bloch se justifique no futebol.

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