Por Paulo Teodoro da Silva
Ontem à noite, exatamente no horário do jogo do Brasil, estava com a Preta Helena dentro do teatro do Centro Cultural dos Correios, naquele perímetro urbano de nossa gênese. Uma beleza a passada sobre paralelepípedos, como se o tempo, entre o CCBB , a Casa França Brasil e o próprio Centro Cultural dos Correios, estivesse parado pra que se pudesse namorar. Um Rio disponível, sem pressa, como deveríamos cultivar. Uma cidade que só se inviabilizou pela escala incompatível a uma urbe cujo terreno, mais do que ocupado, conquistado, construído sobre pântanos, lagos e lagoas e terras movediças, espremido entre o mar e a montanha. A topografia de um perfil feminino, de uma cidade que se abre lânguida, descurando de sua geologia, suas entranhas.
A peça de uma singeleza em torno da vida de Chopin. Apenas Chopin e a condessa que o sustenta. Chopin era um chato. O perfil exato da caricatura do grande artista, caprichoso, egoísta, cheio de vontades e idiossincrasias. A condessa uma mulher forte, praticamente sua mãe e provedora, além de romancista "por produção". Chamou-me a atenção a dicotomia, ainda em questão, de valores e práticas aristocráticas em conflito com a lógica do lucro, a razão instrumental voltada para a produção que transforma quaisquer formas de resistência, mais do que num ancronismo, um escombro incômodo, um resto de estorvo.
Impressionou-me a a combinação de beleza e singela da iluminação. Nenhuma parafernália, apenas a luz de valor.
A noite termina em frente ao Paço. Lembrei-me de Noel: "se você continuar limpando a mesa..."
Infelizmente, a praga dos telões que infestam qualquer noite. E o que é pior: telão pra ver tricolor.
SRN
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