quarta-feira, 4 de abril de 2018

Ontem e Hoje

Em 89, Brizola, na última semana para a eleição do primeiro turno, aproveitou seu horário de propaganda na televisão para conclamar aos candidatos do campo da oposição para que se reunissem, abrissem mão de projetos pessoais e encontrassem um nome que não fosse o Lula, porque o Lula - dizia Brizola - era, dentre eles, o mais fácil de ser derrotado. O tempo passou. Lula é hoje justo o contrário. Com ele no palanque, a conjuntura nacional pode ser uma coisa ou outra.
Sou de uma geração que nasceu nos anos 1960 e que só pôde votar, pela primeira vez, pra Governador, em 82, com 18 anos. Pra presidente, então, só sete anos depois. Participei, intensamente, das campanhas das Diretas Já, fiz camisas, desenhos, fui a pé ao histórico comício da Candelária com amigos, pois daqui de Vila Isabel era a melhor opção com tudo fechado desde a Praça da Bandeira. Nada se comparou aquele movimento em esperança autêntica, até ingênua, pura. Sabia a cúpula política da interdição imposta pela transição controlada pelos militares. Derrotadas as Diretas, Tancredo já operava nos bastidores. Era o candidato da "conciliação", do "não revanchismo". Brizola, o estratego de grande visão, não se engajou, apoiando à distância a ida ao colégio eleitoral. Chegou até a propor a prorrogação do general Figueiredo por mais dois anos, ao fim dos quais, em 86, haveria eleição direta à presidência. Calculem como o couro não comeu nas costas dele. Valorizo, por isso, a importância do voto. Discordo dos que o veem apenas como mero meio tático. Muita gente morreu, foi torturada. O voto direto já nos deu Collor, que sofreu o impeachment, dentro das regras do estado democrático da Constituição de 88. Lula foi eleito, reeleito, elegeu a Dilma, que também sofreu o impeachment nas mesmas condições que o Collor, pois um impeachment é sempre uma combinação entre direito e política. Como disse, não peguei a ditadura no auge, mas já, como adolescente, em sua transição controlada. Agora, posso dizer,  vivemos um ambiente que eu nunca vi. A violência é uma linguagem, e o proto-fascista bolsonaro dela se aproveita como ninguém (embora não a tenha criado). Temos, mais do que um movimento organizado, um sentimento fascista difuso que decorre da desesperança e corrupção. A propósito, também achava que a bandeira da corrupção era coisa de udenista, e o próprio PT, em seu purismo original, era mesmo chamado de 'UDN vermelha". A "Carta aos Brasileiros (da FIESP)" muda tudo. O Lulismo é uma corrente política como qualquer outra, oportunista, pragmática, que ´pagou ao PMDB o que foi preciso pra garantir a "governabilidade".
A analogia que faço agora diz respeito às FFAA.
Ontem, na premissa maior da Guerra Fria, golpistas e praticantes de crimes de Estado, com tortura, espionagem e sabotagem, vendo no seu povo um inimigo interno.
Hoje, continuam anticomunistas, mas, profissionais, respeitadoras da divisão dos Poderes e do jogo de pesos e contrapesos da democracia representativa.
Hoje, o Alto-comando se reúne, com todos os generais para uma avaliação política.
Não se trata mais de golpismo, mas de avaliação baseada na polarização violenta que vive o país e que guarda relação direta com o HC do Lula que poderá viabilizá-lo como candidato à presidência.
Não acredito que alguém que não seja cego pelo Lula possa admitir que o Lulismo não tenha sido corrupto na administração do regime contra o qual, até na Constituição de 88, o PT se recusava a aceitar.
Acredito mesmo que a popularidade do proto-fascista Bolsonaro, com eleitores em massa entre os mais pobres, esteja na razão direta da corrupção  praticada por um operário que se diz igual a ele, povo, na presidência da república.
Para não falar – repito - da violência que se generaliza sem controle e contra a qual o discurso estrutural das esquerdas é pertinente, mas não é suficiente. Há hoje uma dimensão coercitiva legal, dentro do Estado democrático de direito, necessária.
Nesta conjuntura completamente diferente do passado (comparar com 64 é um anacronismo: nem sequer como caricatura este MBL pode se comparar em eficácia ao que foi o IPES)), corremos o risco de uma solução que não dê posse a Lula caso ele prossiga até as eleições? Na polarização violenta que vivemos é justo submeter o país ao interesse de salvar a pele de um conciliador, que não mede o que for pra comprar a “governabilidade” que nos deu Temer, como Lula?
Os anacronismos comparativos assaltam a História. Vargas, como sempre, o principal alvo de caça. O Maior Estadista Brasileiro não descansa nem em sessão espírita, sempre demandado, psicografado. Foi Fernando Henrique, que disse que iria superá-lo. Lula também nada de esquecê-lo,  primeiro lá trás, hostil, no ABC, agora, com saudade, contra o “pacto oligárquico” que o admitiu como gerente.








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