sexta-feira, 13 de abril de 2018

Um Tio Padre


Eu tive um tio padre, irmão da minha mãe. Estudou no São José, entrava no Seminário (acho que ali no Rio Comprido), saía do Seminário, e, não fosse pela minha Tia, firme e forte aí até hoje, não teria sequer se graduado em filosofia. Mas, o fato é que acabou padre, andou pela Bélgica, França, Barra Mansa, Mogi das Cruzes (no interior paulista, desculpem-me o pleonasmo), morreu, recentemente, em Juiz de Fora, após uma temporada de monge, Irmão Cirino, o codinome que adotara, onde o conheci melhor, ali no São Bento,nos anos 2000. A vista da Baía de Guanabara, daquele penhasco privilegiado do Mosteiro quando eu ia visita-lo aos sábados, era uma maravilha, justificava a visita. A vocação pro sacerdócio foi alguma coisa certamente muito divertida para o meu avô, português, açougueiro, daqui da Tijuca:
“Meu filho, eu já tenho três saias, e você ainda vai botar mais uma.”
Hoje, meu avô, absolvido pelo anacronismo do neto, padeceria na brasa do churrasco da patrulha. Juarez, aliás, foi porque meu avô gostava do tenentismo e, por isso, batizou o filho.
Fiz as ilustrações ( uma Maria negra, que percebeu e gostou) para o livro que esse meu tio resolveu lançar pouco antes de morrer. Trata-se de umas perguntas que queria que nós respondêssemos acerca de Maria. Eu me diverti fazendo os desenhos, mas não respondi a nenhuma das perguntas. É quase pueril, mas, curiosamente, o apelo ao diálogo que meu tio padre faz acho que vale.
SRN


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