quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Bem Imaterial ao arrepio de oportunismo


Por Ameríndio Sevilha



O propósito desta rápida  postagem se situa em torno da seguinte pergunta: como podem se articular história e estética?

Eis uma pergunta cuja resposta, igualmente ligeira,  está na base do ethos rubro-negro.

Um  dilema  entre historiadores tradicionais incapazes à arte da bola  e as limitações verificáveis do esteta em ir adiante, avançar sobre um campo não muito típico da obra de arte, como o futebol.

A situação atual é uma proposição a fim de articular o grande aparato historiográfico não especializado do historiador convencional e as dimensões estéticas: formal, social e semântica.
 
A crise da noção de arte, sobretudo devido ao esgotamento das vanguardas combinado com a ascenção da indústria cultural na estetização do cotidiano, levou a uma discussão sobre o estatuto e a função da arte na sociedade contemporânea ("pós-moderna", entre aspas, porque já não tenho mais paciência a tanto mugido)
 
Arthur Danto, Hans Belting e Georges Didi-Huberman são autores de referência e executaram, ao final da década de 80, investigações teóricas sobre o fim da arte, em termos hegelianos.
 
A discussão se abre, ganha amplitude e surge uma anti-noção, uma espécie de arte em termos de fato social que cancela cânones, galerias, museus, a própria materialidade da arte dissolvida numa visualidade absoluta em imagens do cotidiano. 

À título de exemplificação, a despeito do risco de reducionismo, o grafite. Seu estatuto de arte, para alguns na linha dos autores citados acima, a grande arte contemporânea, porque sem suporte, ou com suporte total, muros, paredes, janelas, vidros, sem cânones, "espontânea" e diluída no cotidiano.

Na arte da bola houve a efetivação da proposta. Quaisquer dos cartazes rubro-negros, sobretudo os que se produziram nos primórdios da década de 80, são muito mais do que iconografias. A eles incorporar-se-iam, podemos dizer, a dimensão social da arte. 

De Leandro a Lico, o mundo não era exterior à bola, estava nela, era a Grande Arte, título do romance de Rubem Fonseca ( vascaíno, um hábito de segunda, lamentavelmente, para um escritor de primeira).

São poucas e breves palavras. Algumas citações ao tom erudito que me pediram. 

Creio que não poderia ceder ao oportunismo da data de hoje. Então, pugno-me pela boa-fé, a crer num desejo de se preservar o bem imaterial que é o sentimento rubro-negro.

SRN

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