Por Renato Lopes
Já algum tempo disse ao Antônio que um dia queria escrever um texto para o Nação. Mas sempre relutei devido ao nível, elevadíssimo por sinal, dos textos postados aqui. E apesar de ser Flamenguista, sou um zero a esquerda quando o assunto é futebol, no sentido histórico, no sentido técnico e no sentido “jogando”. Por isso achei melhor deixar para ler e continuar escrevendo sobre cinema que é mais a minha praia
Mas essa semana não teve como. Antônio pediu “escreve lá”. Ai já era. Vou ter que pensar em alguma coisa. Gostaria de falar de Flamengo, da politicagem que ronda não só o Flamengo, mas do futebol como um todo. Só que lembrei não ter gabarito para isso. Muito menos poesia. Sim, aqui têm-se a critica, a conjuntura, a estrutura e poesia. Então lembrei do episódio mais poético da minha vida, relacionado ao futebol, minha primeira ida ao Maracanã.
Essa primeira ida,aconteceu quando eu já era “burro velho”, tinha por volta dos meus 16 anos. Era um campeonato carioca, não me pergunte qual fase, só sei que jogariam Flamengo e Bangu. Era um final de semana, um sábado se não me engano.Fomos eu, minha irmã, o marido dela na época e mais uns amigos com os filhos menores (crianças com 7 anos já estavam ido ao maracanã). Minha vontade mesmo era ir num dia de grande clássico, Fla-Flu, Flamengo e Vasco, mas por uma questão de receio, nunca me arrisquei a ir, tinha medo de brigas e não gosto de metrô lotado (só encarei metrô lotado em ocasiões especiais duas vezes, No show do Pearl Jam e nos Rolling Stones na praia de Copacabana). Me contentei em ir nesse Flamengo e Bangu. E...que tosqueira. Tinha uma meia dúzia de gatos pingados. Ficamos atrás do gol, eu queria ter ficado na lateral, lá em cima na arquibancada, ficamos na cadeira, no baixo, ainda por cima.
Que decepção. Afinal não era o Maracanã lotado das transmissões, não tinha bandeirão, não tinha a Raça, não tinha fumaça e nem músicas. Não tinha nem graça gritar. Enfim...um típico programa familiar. Mas valeu por ter entrado no Maracanã e visto um gramado de verdade o mais perto que me foi permitido.
As vezes penso que o futebol, independente do time que está jogando, deveria ser um grande evento, não para gerar rendas exorbitantes e nem picos de audiências nos canais que transmitem os jogos. E sim pelo simples fato de ver o estádio cheio, com torcida e o caralho a quatro. Estádio mais ou menos cheio não tem graça nenhuma. E se o jogo é morno, piorou. Não vou entrar aqui no mérito da expectativa que se gera, da mercadoria melhor, onde cada jogo precisa ser uma espiral ascendente, um evento, com o “lado bom e o lado mau”, com os mocinhos e bandidos, com o Pedro Bial fazendo crônica no final. Mas pelo simples fato de ser futebol, da massa, do povo, do negro, do muleque, de gente que gosta por que é o que é. E não está preocupada em atribuir juízos.
Depois dessa ida, fui assistir a um outro, ai já estava com 18 anos...e mesmo assim não foi um jogo de lotar, outra vez pelo Carioca, mas agora contra o Madureira. Mais um final de semana, mas um estádio meia boca, mas um jogo morno. A torcida do Madureira não era maior, mas era mais empolgada que a do Flamengo, que não era pequena nesse dia, mas não era digna de nenhuma foto para se emoldurar. As vezes é engraçado, parece que a torcida só vai para torcer mesmo se é jogo grande. É disso que a mídia gosta. E é assim que eles mostram como supostamente seria o torcedor: o cara que só comparece em clássico ou quando o time está bem na tabela. E quer saber, mesmo em dias de clássico, “jogo grande” por mais que tenha gente torcendo, ainda sim o estádio, e principalmente o campo, parece tão vazio de significado.
Depois disso comecei a despirocar na minha conduta. Fui em lugares que com certeza são tão “perigosos” quanto um Maracanã cheio, mas mesmo assim nunca tive coragem de ir em um grande jogo. Será que estou perdendo alguma coisa?
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