Começou o panegírico: 90
anos de uma vetusta instituição. As imagens irão nos inundar com a dignidade e
a firmeza da história do nosso século passada a limpo nas páginas de O Globo.
Será que irão lembrar-se do dia 26 de janeiro de 84?
No dia anterior, em São
Paulo, na Praça da Sé, milhares
reuniram-se, junto a políticos e celebridades, pra pedir eleições diretas à
Presidência da República. O Estado de São Paulo, jornal conservador, liberal,
igualmente defensor da livre empresa e apoiador do golpe de 64, entretanto,
estampava a manchete principal, com clareza:
“Multidão vai á Sé para
pedir eleição direta”
Enquanto isso, aqui no Rio,
o Globo passava incólume, preferindo ignorar o comício, certamente por ir de
encontro ao seu papel de disciplinado porta-voz do regime e, tal era o fato,
que a manchete principal desse mesmo dia 26 de janeiro de 84 era a seguinte:
“Antônio Carlos: Bahia segue
Nordeste e apóia Andreazza”
À ditadura
militar-empresarial recente faltavam elementos que pudessem caracterizá-la como
fascista. Terrífica, é certo, mas, não fascista. Entretanto, mexendo nos acervos
digitais dos grandes jornais prum trabalho, vi como havia no Globo elementos da
propaganda do Ministério do Reich para Esclarecimento Popular e Propaganda,
encabeçado por Joseph Goebbels. O fascismo alemão considerava propaganda a
doutrinação popular através de imagens a partir de uma ideia, e o Globo se
prestou à exaustão o papel de porta-voz do "Brasil Potência', do 'Ame-o ou
deixe-o" do período do "milagre econômico" de Medici, ao passo
que um jornal como o JB, , aqui mesmo no Rio, igualmente conservador, liberal,
anti-comunista, como o Estadão, em São Paulo, permitia o contraditório e dava
uma lição de liberdade possível em uma ditadura.
SRN
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