sexta-feira, 3 de julho de 2015

“Sobre o Conceito de História”, Benjamin

“Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo’ como ele de fato foi’. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. Cabe ao materialismo histórico fixar uma imagem do passado, como ela se apresenta, no momento do perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha consciência disso. O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. Para ambos, o perigo e o mesmo: entregar-se às classes dominantes, como seu instrumento.” (BENJAMIN,1944:224)



Benjamin pensa a História numa modernidade em crise, o que significa fazê-lo – marxista que é – nos termos do conceito de crise de Marx, “a anatomia de um sistema”, com limites e possibilidades. E o recurso é o trabalho de memória. Ao menos, o que sugere utilizar através do que considera “imagens do pensamento”.

Trata-se de uma abordagem extremamente atual nas disputas de memória em sociedades de ditaduras recentes que experimentaram e experimentam “justiças de transição”.

A História muda. Seu papel social hoje é outro.

Ao final do século XIX, tornara-se central nas escolas, forjando o sentimento patriótico para o Estado-nação em acabamento. Era o imperialismo, os capitalismos monopólicos nacionais em breve se enfrentariam na morte industrializada da Primeira Guerra.

Um século e décadas após, a dimensão simbólica que remunera o capital transforma a História num dos seus bens mais rentáveis, conforme Beatriz Sarlo, em “Tempo Passado: cultura da memória e guinada subjetiva”. Uma contrapartida ao “apagamento” do lugar-comum pós-moderno do presente contínuo, da ditadura do presente sobre as demais temporalidades. Sucessão volátil de embalagens descartáveis do passado. “A máquina da memória”, “memória midiatizada”, segundo, também, Andreas Huyssen, a volatilidade acelerada comprometendo a memória, produzindo amnésia.

Como, então, parar pra pensar, ensejar o trabalho de memória?

A volatilidade, acelerada – vale repetir -, não deixa. As imagens mal se esboçam e já são substituídas.

Consumo midiático.

Presentismo.

Nenhuma questão?

O que impede que, a fim de enfrentar os termos postos pelo presentismo, a memória também não seja criticada pela análise da classe?

Ou 15 de março último foi o que disse o Globo?

SRN


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