terça-feira, 28 de julho de 2015

Terra é mercadoria?


Hoje é dia do camponês. E Francisco Julião, advogado, organizador das famosas Ligas camponesas, é uma boa síntese gráfica de homenagem. Também uma lembrança pra Kátia Abreu, por sua vez, a síntese do modelo agrícola nacional, do agronegócio preocupado com o fim das vantagens comparativas do negócio da China.

Curioso é que foi justo o campo uma das desculpas da derrubada de Jango. O latifundiário gaúcho foi deposto por comunismo e logo em seguida o marechal Castelo Branco elabora o Estatuto da Terra e – não é piada – uma lei de reforma agrária e de desenvolvimento agrícola. Castelo jogou mais ou menos como o Tita, no maior Time do século passado: queria a 10 do Zico e quando o substituía, jogava muito – pra arquibancada. Como o próprio marechal, que o desprezava por considerá-lo “coisa do povo”, o binômio golpista segurança nacional/desenvolvimento econômico, aliás, nem sequer prestava atenção ao futebol, conforme, posteriormente, o faria em 1970.

O diagnóstico de Roberto Campos, ministro do planejamento de Castelo, não era muito diferente do do governo Jango. Indispensável uma reforma agrária, superando o latifúndio, pesado,lento, improdutivo, a fim de modernizar a agricultura, aumentando sua produtividade, e, em consequência, atualizando o capitalismo nacional. O negócio era tão bonito que se pensava até em uma classe média rural, consumindo a produção industrial urbana.

Um mundo perfeito, como se vê, não fossem as forças sociais que sempre atrapalham. Uma delas era a CRB, com este nome de sigla de time do campeonato brasileiro dos anos 70 do almirante Heleno Nunes, com mais de 100 clubes em disputa – afinal, “quando a Arena vai mal, mais um clube no nacional”. CRB era a confederação rural brasileira, em 1965, posteriormente denominada CNA, confederação nacional da agricultura. Numa palavra: latifundiários.

Talvez, o problema de Francisco Julião fosse não ter sido tão bom no lado esquerdo do campo quanto o marechal pra poder jogar no time do CRB.

Tudo está muito melhor explicado no texto da professora carioca e historiadora, Carolina Ramos, “A Confederação Nacional da Agricultura e o Estatuto da Terra: embates e recuos”, cujo link segue abaixo

SRN


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