quarta-feira, 27 de março de 2013

Braço Graciliano

Por Máximo



Faz muito tempo, um jovem de 19 anos recebe pelo correio, de presente, enviado pela tia, professora de português, a coleção completa - treze volumes, incluindo "cartas", correspondência pessoal do autor - de Graciliano Ramos. O autor não era completamente desconhecido, pois o jovem, quando moleque, também de presente da mesma tia, havia ganhado a coleção completa de Jorge Amado, na qual se divertia e se erotizava, sobretudo, com as mulatas descritas pelo baiano. 

Graciliano Ramos foi uma epifania. E hoje, mais de 30 após, faz 60 anos da morte do maior escritor brasileiro, dia 20 de março. Graciliano era a versão agreste de Noel Rosa, dois anti-panegíricos, por excelência. Foi na veia quando escreveu o seguinte:

"As palavras não foram feitas pra brilhar, luzir feito ouro falso. Foram feitas pra dizer."

Comunista, preso e levado pra Ilha Grande às vésperas do Estado Novo. Uma experiência que produziu talvez o que temos de melhor na língua "que já passou de português, virou brasileiro" (Noel Rosa): dois volumes de "Memórias do Cárcere", o segundo dos quais inacabado, pois Graciliano escrevia devagar e morreu antes. 

Um sujeito que não fazia concessão à palhaçada, tampouco ao patrulhamento. Resistiu ao realismo socialista, expondo ao ridículo os zdnovistas nacionais que lhe queriam modificar "Angustia", "pequeno-burguês", em excesso. "Angústia", por sinal, foi objeto de discussão com a própria mulher, quando estava preso na Frei Caneca. Apesar de precisar de dinheiro,reclamou por ela tê-lo entregue ao editor, pois teria "de ser cortado à metade". Justo "Angústia", feito com palavras indispensáveis.

SRN

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