sexta-feira, 8 de março de 2013

Carta Aberta das Mães Sem Terra

Acabei de receber esta carta, por e-mail, da historiadora e professora da UERJ, Beatriz Vieira.  Indispensável a divulgação.

SRN
Máximo








"Todas temos origem humilde. Muitas de nós gostaríamos de ter podido sentar nos bancos de escola e assim entender melhor o mundo em que vivemos. Não nos foi dado esse direito. 


Em nosso país leis são justiça para os ricos e punição para os pobres. Parecem não ter alma. Parecem não ter carne. Preocupação social. 

Sabem os senhores, quantas crianças estão em nosso meio? Sabem o que fazíamos antes de conseguirmos abrigo e sonhos aqui embaixo de lonas pretas? Sabem da fome? Sabem do choro de nossas crianças, frente às ameaças de violência? Sabem da dor de ver os nossos filhos pisoteados, feridos à bala, mortos, como as mães de nossos companheiros de Eldorado de Carajás? Sabem os senhores o que é dor? 

Devem saber. Devem saber do riso e da fartura. Devem saber do dormir sem choro de criança com fome.

Com a humildade que temos, mas com a coragem que aprendemos, nós lhe dizemos: não recuaremos um passo da decisão de lutar pela terra.
A justiça pra nós é aquela que reparte o pão, que reparte a riqueza, que só pode ser reconhecida como o fruto do trabalho, da vida.
Após 500 anos de escravidão e opressão de exclusão e ignorância, de pobreza e miséria, chegou o tempo de repartir, chegou o tempo da nossa justiça, que pra muitos pode não ser legal, mas que não há um jurista no mundo que nos diga que não seja legítima.
Não queremos enfrentar armas, animais e homens. Nem homens, animais e armas. Mas nós os enfrentaremos. E voltaremos de novo. E cem vezes. E duzentas vezes. Porque os corpos podem ser destruídos pela violência da polícia. Mas os sonhos nem a mais potente arma poderá destruir.
Nós somos aquelas que parimos mais que filhos. Parimos os homens do futuro. Nossos filhos serão educados sobre nossas terras libertas ou aqui, debaixo de nossas lonas pretas. Aprenderão a ler, a escrever, coisa que muitos dos nossos não podem fazer. 

Viverão para entender das leis. Para mudá-las. Para fazê-las de novo, a partir das necessidades do nosso povo."




Carta Aberta das Mães Sem Terra

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