quinta-feira, 21 de março de 2013

Caio Prado, Fernando Novais e Sérgio Buarque são anti-vírus a blatters, marins e adictos anexos

Por Máximo



Um blog é basicamente divulgação. E o Flamengo é um grande pretexto porque, 40 milhões, encerramos algumas características, no âmbito da representação, notadamente. Podemos, portanto, falar de Caio Prado.  "Formação do Brasil Contemporâneo" é uma demonstração da tese de que fomos constituídos como uma empresa mercantil, baseada no trabalho escravo, a fim do atendimento de demandas externas. Organizados para o exterior, alguns traços desse passado colonial, para Caio Prado, ainda permaneciam quando da escritura de sua obra, lançada em primeira edição em 1942.

A edição que tenho é de 2011. Excelente. Excelente pela entrevista de Fernando Novais, outro grande historiador, referência em Antigo Sistema Colonial, ao final explicando a questão teórica em Caio Prado:

"Penso que Formação é o primeiro trabalho a evitar o anacronismo em nossa historiografia. O anacronismo é o pecado mortal do historiador, aquilo que os protagonistas não podiam saber e que ele sabe. Isso é muito grave, porque contamina a reconstrução."

"Evitar o anacronismo não quer dizer que não se possam empregar conceitos modernos. Quer dizer que não se podem usar conceitos modernos na reconstituição. Na explicação é claro que podemos. E a dificuldade está em que, em história, o problema do anacronismo não tem solução definitiva mesmo."

"Ora, o anacronismo é mais grave ainda em história nacional."

"Em nosso caso, a 'viagem da descoberta' como o acontecimento inicial da história do Brasil é uma construção discursiva. A carta de Pero Vaz de caminha não é a nossa 'certidão de batismo'. Esta, por sinal, é um documento absolutamente fantástico. A história do Brasil é a história de uma colônia que se transformou numa nação.Portanto, não começa com Cabral."

"Qual é o problema teórico por detrás disso tudo?"

"Em história, todo objeto de estudo tem necessariamente três recortes: lógico (do que se trata); cronológico (quando aconteceu) e espacial (onde aconteceu). Mas, em história nacional normalmente se faz primeiro o recorte espacial, a fronteira, depois se define o recorte temporal, e por fim o lógico. Dessa forma, o marco inicial vira a carta de Caminha. Aí está o anacronismo. É a inversão do procedimento."

"Para Caio Prado, qual é o recorte lógico do Brasil contemporâneo? O recorte é a colonização, o que fica muito claro no famoso capítulo "Sentido da Colonização". O "sentido da colonização" não está suficientemente completo. "Sentido da colonização" é organizar a produção para fora; para o mercado externo. O que significa 'para fora'? Eu procuro entender isso nos meus trabalhos. É a acumulação externa do capital. Aí vieram os colegas a dizer: 'como externa?" ' Essa mania do externa'? nâo é externo ao sistema. Aí seria na China, ou na lua. É externo à área produtiva, e é isso que caracteriza a economia colonial."

Acrescento a Novais Sérgio Buarque de Holanda:

"Eu diria, junto com Benedetto Croce, que toda história é história contemporânea, ou seja, nós sempre privilegiamos um aspecto em função de nossa realidade. Contamos a história a partir da vivência cotidiana de nossos problemas, de nossa realidade. Os historiadores sempre foram e serão presa fácil de seu tempo."

E daí?

É que Caio Prado, Fernando Novais e Sérgio Buarque são uma espécie de anti-vírus a blatters, marins e micróbios adictos. A copa é o retorno do problema já resolvido por Caio Prado, conforme as palavras de Novais. 2014 é o "marco inicial", tal qual pretendeu-se com a carta de Caminha. Necessitamos inventar o Brasil, pasteurizá-lo, enlatá-lo no recorte de quatro linhas impecáveis, superfaturadas ao arrepio do fato consumado, ou em bom 433 (Vila Isabel/Leblon): "fale ao motorista somente o indispensável". No caso em questão, no maracanã, mais ou menos 1 bilhão, só pra poder falar com os blatters, marins e adictos anexos.

Mais do que isso postagem de divulgação não deve adiantar.

SRN

Prado Jr, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia/Caio Prado Jr; entrevista Fernando Novais; posfácio Bernardo Ricupero - São Paulo: Companhia das Letras, 2011.


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