domingo, 24 de dezembro de 2017

Orloff

Não vamos a lugar nenhum neste natal. Maravilha. A leitura atualizada.
Meirelles ontem, em O Globo, numa entrevista de página inteira, na preparação do terreno do candidato da “centro-direita”, reclamado por Merval. A medida provisória (MPV 806) é citada na entrevista. Meirelles diz que não houve aumento de carga tributária. Fui ver do que se trata. Dois documentos como fonte: a própria MPV 806 e a análise produzida pela consultoria legislativa do Congresso. Os fundos de investimento constituídos sob a forma de condomínio fechado, com resgate vedado durante a sua vigência, passaram a ser taxados semestralmente pra fins de imposto de renda. Evidente o aumento com o prazo de taxação reduzido. A maioria dos fundos ficou de fora, alcançados pela nova regra, basicamente, os Fundos de renda Fixa e os Fundos Multimercados.
Como isso é problema do capital, pra que perder tempo? É o gosto de ler economia, acontecimento da História Econômica, hoje tão desprezada pela historiografia. Ademais, um trabalhador do magistério do ensino básico de História, e tal é a relevância na noite da Ceia de natal da nacionalidade do Fundo de Investimento em participação (FIP).
FIP composto por residentes no exterior “não estarão sujeitos à cobrança semestral do Imposto de Renda.”
Proprietários de empresa familiar que usam FIP pra “planejamento tributário e patrimonial” tem neste agora, via MPV 806, novo estatuto: “não qualificado”, este FIP não resgata mais pagando 15%; virou pessoa jurídica pagando 25% de Imposto de Renda, mais 9% de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Fernando Henrique estava certo quando escreveu que não existe capitalismo paroquial. O negócio – e bom negócio – é a oportunidade certa de vender tudo. Dilma quis se meter numa área exclusiva pra profissional e foi o que se viu.
Fica a pergunta pra comer com o peru da Ceia: que diferença faz a nacionalidade do capital que nos explora?

SRN

O fator Bolsonaro, de Merval, hoje em O Globo


Quem quiser menos esforço, vá direto ao último parágrafo e, se estiver lendo perto de uma caneta, rabisque tudo e substitua por Henrique Meirelles – o que vai ao encontro do último movimento do Ministro. Nem Lula nem Bolsonaro: eis o candidato do sonho dos respectivos eleitores da dupla antagônica.



Há momentos de Aron em Merval. Como é sabido, o grande filósofo francês, liberal, Raymond Aron leu, estudou, proferiu seminários e cursos sobre Marx mais do que qualquer outra coisa sobre Tocqueville, Stuart Mill etc. O caboclo de Aron, hoje arriado em Merval (o que talvez por problemas na tradução este nunca tenha lido sequer o Manifesto) manifesta-se com dados cuja interpretação não nos obriga à conclusão do último parágrafo: dos seus eleitores, Bolsonaro tem 60% até 34 anos; ao passo que Lula, 45%. Também, segundo assessores de Bolsonaro, Merval nos informa que, a despeito de estar em seu sétimo mandato, o bajulador de Brilhante Ustra aparece como anti-política e representante dos “cidadãos de bem”, simples, honestos, de família, que querem segurança e “impeça a bagunça em que o país está.” 



A vontade foi ler de novo a autobiografia do Samuel Wainer.



E ainda tem gente que diz que o brasileiro não tem memória...


SRN


A Maravilha Capitalista


No Globo de hoje, Moro em uma entrevista na qual fala o que uma análise marxista (ou marxóloga, meu caro amigo, Pablo Faria?) diria tratar-se de medida do nível da contradição entre forças produtivas e relações de produção. 

Assim aprendemos com o Mestre Chico Oliveira: quanto mais intensa e elevada a corrupção, mais dinâmico está o processo de desenvolvimento da acumulação, ou seja, mais rico e pujante está o sistema. 

Não acham que Lula deveria orgulhar-se, uma vez que no seu governo que nos legou o Chupa-Sangue o sistema se desenvolveu tanto que deu até pra fazer políticas de inclusão, como nunca este país viu?


SRN


Mito sempre vale na Ceia de natal


Mariátegui, aliás, já lutara contra o desencantamento iluminista totalitário recuperando o Mito. Agora vendo o acervo do Globo, um texto do Fernando Henrique sobre Gilberto Freyre, publicado no Segundo Caderno em 87, na época da morte do autor pernambucano. Vale a pouco ênfase que dá, perante a força criativa de Freyre, em exercício de autocrítica, ao conflito que historiadores que ainda se levam muito a sério mantém entre Mito e "Ciência".

O texto de Fernando Henrique me chama atenção por relacionar-se a Ecos da Marselhesa, publicado coetâneo (um conjunto de conferências nos EUA, em 89)) por Hobsbawm. Este sai em defesa da interpretação marxista da RF atacada pelo “revisionista” Furet. E o argumento mais forte está no próprio objeto do livro: a interpretação, a recepção, a herança, de resto, que "recebeu dos séculos XIX e XX”. E aí, consequentemente, os Mitos circulam - o que, para Hobsbawm, o Monstro Sagrado Hobsbawm, é perfeitamente legítimo.

SRN


domingo, 10 de dezembro de 2017

O Espetáculo e o Regresso

O que me agrada no trabalho do historiador é a atenção ao fato. Certo, passamos já do século XIX nem ressuscita-se Ranke por crença na verdade epifânica, mas, como nos esclarece, sempre oportuno, em Sobre História, Hobsbawm:



“(...) diferença clara entre fato e ficção. Para nós, historiadores, inclusive para os antipositivistas mais intransigentes, a capacidade de distinguir entre ambos é absolutamente fundamental. Não podemos inventar nossos fatos. Ou Elvis Presley está morto ou não.”

O fato não se explica sozinho. O sentido que produz decorre de uma generalização extraída de um conjunto do qual faz parte com outros fatos. Mas, é justo no seu exame, naquilo que o distingue, que se produz a diferença na generalização que o modelo ilude.

A “imprensa-empresa” é um instrumento ideológico do capitalismo. Há nela, porém, o específico que remete a um fragmento do que Marx escreveu no prefácio para a Crítica da Economia Política, publicado em Berlim em 1859:

“Há a alteração material das condições de produção econômica. Deve-se constatar isso com o espírito rigoroso das ciências naturais. Mas há também as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas, filosóficas; resumindo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência desse conflito, levando-o às últimas conseqüências.”

A contradição que está na gênese do liberalismo, que não exita em sacrificar o próprio contrato que o pariu, traz evidentes as marcas do parto. A Constituição de 88 não cabe mais no PIB. Tranquilo. Ainda assim dá pra ler no Globo, 10-12-17, o seguinte:

“O combate à corrupção está em momento decisivo. De um lado alimenta a esperança de enfrentamento de um problema que ameaça a própria democracia. Por outro lado, não pode ceder ao oportunismo de uma época em que há um fortalecimento do conservadorismo social e político do país. De um lado, tem sido atacada por poderosos que se sentem ameaçados por ela, por outro, pode perder o apoio da opinião pública se repetir erros como os que levaram á morte o reitor da UFSC” / Míriam Leitão

“A lei diz que a condução coercitiva é necessária para levar à delegacia a pessoa que não atendeu a uma intimação. Houve intimação? Nem pensar.

Qual a lógica de conduzir uma pessoa à delegacia, com a publicidade produzida pela autoridade coatora, em cima de um inquérito que corre em sigilo?” / Elio Gaspari, sobre a operação da PF na UFMG.

SRN


Niemeyer Rubro-Negro Carioca Genial



O Globo hoje, no Segundo Caderno, traz Niemeyer. O Rubro-Negro Carioca Genial tinha um traço, um traço dos monstros desenhistas: Picasso, Steinberg, Ungerer, Steadman, Jaguar.

Adora a curva, facilitada pela técnica do concreto armado, curva feminina, das montanhas da Guanabara. Fez até um poema dizendo do universo ser uma grande curva. A este respeito, aliás, Domenico de Masi, amigo do Rubro-Negro Carioca Genial, fala no Globo, no contraste a Le Corbusier, segundo quem “a curva era perigosa, funesta, arbitrária”. É o tal negócio: Le Corbusier era suíço, Niemeyer, Carioca, Rubro-Negro...com Niemeyer, a história da arquitetura se inverte, segundo De Masi: “não é mais a arquitetura que coloniza o Brasil. É o Brasil que coloniza a Europa.”


SRN, NIEMEYER


De 5 a 15 de dezembro, pouco mais de uma semana pra duas datas históricas da Grande Arte: 5 de dezembro de 2012, morre Niemeyer; 12 de dezembro de 1907, nasce Niemeyer. E, hoje, 10 de dezembro de 2017, o Globo faz um registro excelente de Memória. Outro entrevistado é o arquiteto Lauro Cavalcanti. Diz o que precisa:

Pra Niemeyer, “a arquitetura era uma surpresa. Ele nos ensinou que a emoção é uma função.”

“Numa cidade que é capital, a monumentalidade é intrínseca. No Egito, você se lembra de quê? Das casas populares? O poder quer deixar sua marca... mas a monumentalidade de Oscar não é opressiva. É entrar num túnel escuro de catedral e emergir na luz, no céu físico, em vez daquele breu europeu.”

SRN NIEMEYER


sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Cabral na História


Com Sérgio Cabral fazendo História, o campo da História do Tempo Presente superará as desconfianças que restam e se consolidará definitivamente. 

Para além do "estatuto do testemunho", Cabral é uma fonte material da história recente. 

SRN


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

História: História




Apenas uma ideia, sem maiores conseqüências, voltando pela Amaral Peixoto, pensando na discussão problemática do currículo. Por que Saquarema não ousa e não tenta, na proposta de história, a substituição da cronologia e da periodização, há muito tempo questionadas e superadas, pelo seguinte: ao invés de Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna, Contemporânea; Brasil Colônia, Brasil Império e e Brasil República, por exemplo, “A Construção do Mundo Burguês”, “O Imaginário Religioso na Mentalidade Ocidental”, “A Presença do Islã e do Oriente na Constituição do Mundo Ocidental”, “A Perspectiva Africana” etc? São apenas ideias tão úteis e inúteis quanto quaisquer outras, como as que têm sido discutidas na historiografia a respeito do currículo em todos os níveis, 



SRN


P.S. "Cuidado com o andor que o santo é de barro." Cesar foi bem, pegou até penâlti, mas é um garoto. Ainda me lembro de sua estreia insegura, precipitada, vindo do sucesso da tal "copinha", quase acabando precocemente com a sua carreira.


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Um história saturada de memória

O senso comum aporrinha: "brasileiro não tem memória'. Os professores e historiadores, Daniel Aarão Reis, da UFF,e Marcos Napolitano, da USP, não têm paciência com bobagem. Para ambos, o que temos é uma história saturada de memória, sem a crítica indispensável. Basta ler esta reportagem panorâmica do El País pra acabar com a falácia de certos tipos "presidenciáveis".
SRN

P.S. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Seguinte: Muralha não tem mais condição de jogar no Flamengo. Não é tão ruim assim. É desequilíbrio. Se quiser salvar sua carreira, tem de ir embora da Gávea.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

"O nazismo é de extrema-direita", Professor Michel German


Iria ilustrar esta postagem, mas desisti e preferi apenas o link para o texto do professor da UFRJ, Michel German, http://internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/o-nazismo-e-de-extrema-direita-texto-de-michel-gherman/ 
A própria ideia de ilustração é problemática, dada densa crítica de já robusta historiografia da imagem. Temos, entretanto, um tipo de humor corrente que, sob a presunção de ser iconoclasta, é bem seletivo, escolhendo na esperteza os altares que atinge. Já cansei de ver o fascismo ser mobilizado pra depreciar o socialismo, como se fossem o "primo rico' e o "primo pobre" de um programa da idade média da televisão. 


Indispensável não subestimar o fascismo. Nisso, as redes são um duto, para banalizá-lo, como para confundi-lo com ditaduras e ditadores, terríveis - certo - mas outra coisa. Quem tem a responsabilidade de sala de aula, lidando com adolescentes, vendo determinadas práticas estimuladas por heróis de fancaria, sabe que não pode desperdiçar as redes (ainda que, individualmente, não passe de um registro quase anônimo), considerá-las alguma coisa para uso dos alunos apenas no pátio ou no corredor. Por isso, o link do artigo do professor Gherman, em que numa linguagem exata, sem palavras que atrapalhem, diz o que se precisa saber a respeito. Se só pudermos ler pouco sobre o fascismo, este artigo já vale. 

Cheguei até ele lendo agora uma postagem do  Café História:


SRN

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Tropismo fascista ou "utopia autoritária?


Será que vivemos um tropismo fascista ou nunca nos livramos da nostalgia da "utopia autoritária" que vê nas FFAA a reserva moral nacional, com a missão de nos salvar da corrupção e do comunismo? 

Isso me ocorre porque me lembrei de uma das correntes historiográficas sobre 64, aquela do CPDOC da FGV, que trabalhou a memória militar utilizando-se da "história oral" nos depoimentos recolhidos dos militares que deram o golpe, bem como dos que deram suporte ao regime.

SRN


domingo, 8 de outubro de 2017

Presente!

50 anos do assassinato de Che Guevara nas matas da Bolívia. De tudo o que que se sabe e escreveu à exaustão, até sobre a mercadoria em que se transformou em camisetas de grife, Che Guevara é uma imagem incoagulável, à disposição sempre pra qualquer esforço libertári0. Até bateu uma bola com o Madureira, aqui do subúrbio carioca, quando o legítimo tricolor carioca foi a Cuba, no início dos anos 60, numa excursão internacional inimaginável hoje em dia prum clube pequeno.
Presente, Che! 

SRN




Vamos ao que importa


Agora falando de coisa que, realmente, importa: Muralha é uma mão de paçoca. Não há o que discutir. Mesmo antes, quando convocado pelo Tite, eu me lembro de que perdemos a disputa do brasileiro no ano passado graças aos frangos que tomou lá no sul contra o Internacional. Ali, naquele jogo, nos distanciamos do palmeiras. Mas, o Diego Alves também não está com essa moral toda. Tomou um gol contra o Corinthias, lá em São Paulo, num chute perfeitamente defensável do Jô. Agora, contra a Ponte Preta, demorou uma semana pra chegar na bola naquele chute vindo lá do meio da rua do primeiro gol. Defendeu o penâlti, tudo bem, afinal, este é o seu "marketing"...

SRN


sábado, 7 de outubro de 2017

O Porquê


No aspecto institucional na análise da Ciência Política da “autonomia do político” para o encaminhamento de crises, o “cálculo do conflito”, a fim de se evitar a “paralisia decisória”, encontrou, afinal, na “cooptação” o meio de superar a dispersão dos “recursos de poder” que levam ao isolamento de posições radicalizadas, constituindo “conjunturas polarizadas”, como a que tivemos em 64. Analisar processos pelo resultado fica fácil. Modelos, sobretudo excelentes, como o de Wanderley Guilherme dos Santos desenvolvido nos anos 70 pra explicar o golpe de 64, estão à disposição, integram o aporte teórico com a validade de um clássico: a carência absoluta de política, responsável pela “paralisia decisória” em 64; em substituição, o excesso dela, na institucionalidade radical, no presidencialismo de “coalizão” ou de “cooptação” (como prefere Fernando Henrique), cada vez mais amadurecido.

À “paralisia decisória” sucede, no modelo, a era da “cartelização”. Foi o que me veio ao ler no Estado de São Paulo (6/10) a entrevista da cientista política, Mara Telles, da UFMG, sobre a “reforma política”(segundo Mara Telles, “eleitoral” e mais um reforço à “cartelização dos partidos que já concentram poder”):

“Partido cartelizado é aquele que já tem bancada, máquina: só precisa governar, não precisa de representação. É o que acontece com o PMDB. Ele já ocupa postos no governo há décadas. Muito embora a preferência entre os eleitores pela sigla seja baixíssima, ele continua fazendo repetidamente as maiores bancadas, porque tem recursos. E, com isso, pode alocar cargos de confiança, se aliar a prefeituras e criar uma rede de ‘clientela’. O maior problema da cartelização é que isso aprofunda o fosso com o eleitorado, o partido não precisa aprofundar seus vínculos.”

A crítica dos historiadores à Sociologia e à Ciência Política está na falta de diacronia e particularidade. A padronização caberia no livro, mas, não resistiria à rua, além de não considerar suficientemente o ritmo e os limites do tempo inscrito no processo histórico. A profundidade comprometida pela funcionalidade. Contudo, os historiadores também têm problemas. A retomada da História Política, que vem com a controversa História do Tempo Presente, está na fronteira do jornalismo e padece do crivo do testemunho  de quem viveu o que ela expõe – o que gera uma disputa de memória em que o pau come, sobretudo agora em que é preciso parar de demonizar o que acabei de ler numa reportagem da Folha de São Paulo sobre uma pesquisa feita em parceria do Datafolha com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma fonte razoável: jovens entre 16 e 24 anos são admiradores do Bolsonaro e a favor de um golpe militar. Intelectuais não gostam disso. Mas, não é mais inteligente tentar entender o porquê?


SRN

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Marcos Napolitano, historiador, ao Café História, em 2014, sobre o golpe de 64 e a ditadura (o que diria hoje sobre o esgotamento do “caráter messiânico” das Forças Armadas pela experiência da ditadura?)

Marcos Napolitano é um historiador cujas pesquisas sobre o golpe de 64 e a ditadura que se lhe seguiu devem ser lidas com atenção. Destaco dois pontos da entrevista de 2014, www.cafehistoria.com.br/regime-militar-brasileiro-uma-historia-de-muitas-batalhas/:
A crítica ao argumento da conjuntura de então esgotar o golpe, bem como não autorizar inferências à ditadura adiante; a ambigüidade incômoda das Forças Armadas quanto ao regime que executaram, explicitamente, até 1985.
“O golpe de 64 foi uma das batalhas da Guerra Fria na América Latina”, palavras de Napolitano, sem prejuízo da componente circunstancial interna, do ambiente polarizado em que estava imerso o governo Jango, sem esquecer, todavia, de mobilizar, concomitante, o aporte teórico que o justifica como historiador, ao falar das múltiplas temporalidades no acontecimento decisivo do golpe que não pode ser compreendido como mero dado, mas, produção social para cuja narrativa indispensável considerar “o golpismo da direita udenista (...) desde 1950, bem como a desconfiança dos militares da capacidade de mobilização popular de tradição getulista e trabalhista.” Napolitano ressalta ainda o modelo como projeto de Estado a servir para os golpes vizinhos posteriores, entre os quais o que sofre Allende, no Chile, em 1973, aliás, a 11 de setembro de 1973: propaganda de desestabilização, aliança de classes superiores com a direita militar (da qual não se exclui – penso eu, no caso brasileiro, com alguma distinção do chileno – a nacionalista autoritária, não alinhada com os EUA, embora visceralmente anticomunista), segurança sob um Estado indutor do desenvolvimento em uma economia de mercado.


Já o segundo ponto diz respeito à chamada “transição democrática”. Menos por pressão insuportável da frente de oposições do que pela ameaça representada à unidade e à hierarquia militares pela “politização da oficialidade durante a ditadura”. Ainda não li o livro de Napolitano, “1964 – História do Regime Militar Brasileiro”. Nele, certamente a “politização da oficialidade” pode também encontrar um viés de expressão significativo na autonomia que ganharam as “comunidades” de informação, segurança e repressão. Estas ameaçaram, de fato, os cânones militares de hierarquia e unidade. Eis a ambigüidade: embora ressentidos  por não terem o reconhecimento que acham que mereciam por salvar a pátria cristã do ‘perigo vermelho”, sabem os militares que, dentre as razões para o afastamento da política por período de tempo inédito como o que temos desde 1985, está o constrangimento incômodo, difícil de admitir num trabalho de memória, das torturas, repressão e censura enquanto política de Estado, entregues, de resto, sem escrúpulos, a órgãos, aos intestinos da subversão militar, pois que não foram outra coisa as “comunidades” de informação, segurança e repressão: subversão interna da ordem militar.
Esta postagem já está longa. Mas, como os dois pontos excederam, vale apontar mais dois:
Napolitano afirma que o “caráter messiânico” das Forças Armadas esgotou-se pela experiência da ditadura. A entrevista é de 2014. Hoje, penso que o historiador pararia pra pensar e enfatizar um outro ponto da entrevista, aquele em que se refere ao amadurecimento do debate historiográfico relativamente “a um exame mais profundo sobre os processos sociais da construção da memória sobre a ditadura.” Não acham?

SRN

terça-feira, 13 de junho de 2017

Exposição: Garatujas de um Rubro-Negro, no Memorial Getúlio Vargas

Graças à lembrança da grande atriz, Rita Grego, vou fazer uma exposição ali na Glória, no Memorial Getúlio Vargas. Já conhecia o espaço de seminários da UERJ. Uma maravilha agora estar ao lado de Vargas. Só faltava o Brizola (risos).
SRN



Garatujas de um Rubro-Negro

O título que se desdobrou veio com a igual rapidez com que a minha Companheira, Catia, definiu esta exposição:
“Não há uma ideia que a explique, que lhe dê unidade, um conceito; portanto, nada melhor do que usar o seu amor pelo Flamengo, pois, como você diz, a partir do Flamengo, é possível falar de tudo, da política à economia, passando pela arte, até futebol.”

De 16 de junho a 25 de junho de 2017, no Memorial Getúlio Vargas, na Glória


Antônio Máximo
Carioca, nascido na Tijuca e criado em Vila Isabel, ex-desenhista de arquitetura, ex-arte-finalista da extinta Bloch-Editores, ex-marceneiro, graduado em História pela UERJ, ilustrador, cartunista, chargista, caricaturista, com participações em salões de humor (Volta Redonda, Serquilho, entre outros) e publicações em revistas como Agitação, do CIEE, e Revista de História da Biblioteca nacional, entre outras.

terça-feira, 23 de maio de 2017

"A esquerda de que a direita gosta"

Alcançar uma República, em nossa história já bem recheada de interpretações, do "patrimonialismo" ao "sentido da colonização", do "homem cordial" ao "populismo", à "colaboração de classes", à "tutela militar" e "dependência associada", (bastam tantas que já tenham sido atualizadas, agora, neste "presidencialismo de coalizão"), talvez dependa do amadurecimento das vísceras expostas que vivemos. 

Em qualquer apostila está escrito: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficácia, princípios fundamentais a reger o Estado Republicano. 

Vale destacar a cozinha deste cardápio, preparada nos pratos servidos pela grande imprensa. De um lado o Globo, menos farisaico na defesa das "reformas", do outro o "Estado de São Paulo", tão hipócrita quanto a plutocracia que representa e que confunde atraso com conservadorismo e não hesita em jogar no ralo quaisquer escrúpulos na manutenção do vasco do Alvorada por considerá-lo o condestável das "reformas". 

A propósito, Temer é fruto do "presidencialismo de coalizão" articulado a partir da "Carta aos Brasileiros". E o que mais me surpreende é como se pode achar que o que caiu com a Dilma tenha sido, de fato, um governo de esquerda. Brizola, um nacional-popular, no limite da radicalidade do espírito republicano, tinha razão quando dizia que certo tipo de esquerda era tudo do que a direita gostava.

SRN


Vasco do Alvorada


Parece que os corifeus do sistema político chegaram a um acordo: Temer sai, mas não será preso. O esforço agora é viabilizar os meios. Uma vez sem foro privilegiado, como salvar o vice, que não é de São Cristóvão? 


Outra coisa: o que Renan, que participa desse acordo, quis dizer com garantir as eleições de 2018? 


Acaso estariam em risco? Qual a fonte do risco?



Só mais uma: briga de perito contratado não vale. O vice não nega a conversa. E o mais grave é a mesada de 500 mil por semana, recebida pelo preposto indicado pelo vasco do Alvorada, pra vender posições estratégicas no Cade. 


SRN

P.S. Caindo, o vasco do Alvorada é rebaixado do foro privilegiado. Seu advogado cogita entrar com um pedido de suspensão do inquérito na vara de São Cristóvão.



segunda-feira, 15 de maio de 2017

Entidade responde sobre “presidencialismo de coalizão” via whatsapp

Lendo sobre a Cepal, teoria do desenvolvimento, versões dos estudos sobre dependência, Vargas, Jango e me lembrando do Brizola aqui no Rio (seu primeiro governo incomparável, no segundo, já cansado, desinteressado, provavelmente já sem esperança). De repente, caiu um esquadro que mantenho num prego pendurado na parede. E já que me lembrava, lembrei-me também do que me disseram na última consulta de que qualquer entidade agora só por whatsapp.  Como integro um grupo, fiz a consulta sobre como se dará a administração de um renovado regime de colaboração via presidencialismo de coalizão. Não sei qual entidade respondeu. Apenas transcrevo o que o whatsapp psicografou:

“Uma ideia submetida aos Irmãos em Cristo que rejeitam satanás: acreditam que Lula, caso viabilize sua candidatura e eleito, possa terminar o mandato? Não se trata de uma candidatura desde já condenada e que não interessa nada a nossa vida de cristãos fodidos?                       

Eu me explico:                       

Eleito, terá de piorar o tipo de coalizão que engendrou pra se manter na presidência e que nos deu a lava-jato. Ainda assim cairá, pois hoje as condições são outras, muito piores, a radicalização do ambiente não permitira nem os termos nem os agentes da "carta aos brasileiros". Estão todos presos.                    

Se tentar ser radical, cai do mesmo modo.                       


Não acham que o regime de colaboração de classes precisa de um outro tipo de encaminhamento? Ou os Irmãos em Cristo acreditam no Apocalipse Revolucionário?”

SRN

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Há greve geral na pós-modernidade?


A reação no hemisfério norte se manifesta com xenofobia, ódio e uma certa solidariedade entre trabalhadores locais e capital, ao invés de buscar a crítica nas relações de produção. Aqui, a reação dispensa a solidariedade, defenestrando o presidencialismo de coalizão, atacando sem susceptibilidades o campo do trabalho. 

Ainda aqui, a imprensa/empresa manda seus repórteres pra rua com a orientação de criminalizar a greve geral, buscando exemplos de violência, piquetes e depoimentos de trabalhadores que querem trabalhar, mas não podem. A cereja do bolo vem pelos amestrados que ficam no estúdio: "é um direito constitucional o de ir e vir". Pois amestrados, afinal, são intelectuais. 

Onde a pós-modernidade, fragmentária, sem "narrativa vinculante"? Do neopopulismo de direita ao mecanismo ideológico, por excelência, a mídia, não são características típicas do conflito moderno radical?

SRN


segunda-feira, 24 de abril de 2017

Guerrero não anda de kombi


Este desenho eu fiz faz algum tempo. Foi num empate contra o galo de despacho em que o Guerreiro também fez dois gols. Vale repetir, pois, ontem, metemos dois num time cuja torcida cabe numa kombi e que deve ter enfrentado problemas pra chegar à "arena" maracanã. Chovendo na Guanabara, a Kombi deve ter molhado o platinado ou passado em uma poça numa esquina e atropelado o despacho feito com frango mineiro - o que me fez lembrar-me do desenho que fiz algum tempo. Serve. Ao menos, um pouco de história: Fla x Flu é um Clássico Carioca. Os títulos cariocas dos dois últimos anos foram mais uma palhaçada pós-moderna, felizmente em diluição.


SRN


Graciliano Ramos assinaria o Globo?

Voltei, após muitos anos, a ser assinante do Globo. Evidente, os limites de imprensa livre estão nos seus interesses de empresa que precisa sobreviver como outra qualquer no regime capitalista. Mas, ainda assim, neste estreito espaço de defesa da ordem, de uma sociedade de classes, é possível fazer um jornalismo voltado para a busca da informação e, nesses tempos de internet, de apuração.. 

Sempre me lembro do JB, um jornal liberal, como não poderia deixar de ser, mas em cujo espaço era possível ver o contraditório. Prestes e Roberto Campos, por exemplo (ao passo que,no Globo, havia apenas Roberto Campos, provavelmente pela atuação decisiva do ministro do planejamento do general Castelo Branco, no acordo Globo/Time life). Lembro-me, especificamente, da cobertura da bomba do Riocentro, da farsa denunciada do inquérito de uma ditadura que buscava controlar a transição política. Conseguiu, de resto, mas as reportagens e colunas do JB atrapalharam bastante. No episódio, o Globo era uma espécie de porta-voz oficial. Adiante, após tentar ignorar as "Diretas Já" e constrangido a mudar pelas circunstâncias, derrotadas as diretas e, embora apoiando Tancredo Neves, o Globo saía com um editorial que já se tornou referência na historiografia, se não me engano em outubro de 1984, defendendo os "ideais da revolução de 64". Recentemente, o globo fez uma espécie de autocrítica, sem, entretanto, convencer ninguém, haja vista o apoio que deu a passeatas recentes com a presença de tipos notórios, entre os quais torturadores tirando fotos ao lado de crianças como vovôs inofensivos, com a manchete irônica (só pode ser ironia, não acredito que acreditassem no que escreveram) de que uma das tais passeatas paulistas era a aurora da liberdade no Brasil. 

O que me levou a retomar a assinatura foi ver a cobertura da Lava-jato. Fontes e investigação bem exploradas. Também aí o mecanismo ideológico dizendo ao que veio pela ênfase que dá, com especial apuro, em tudo que diga respeito ao Lulismo. Mas, a relação da empresa imprensa com temer não é a mesma da que a leva a poupar Fernando Henrique. E, como é o vice que não é o de São Cristóvão que está alugado pra não atrapalhar o recrudescimento neoliberal de ataques aos direitos sociais, rumo, sem tréguas, a virarem puras e simples mercadorias sem disfarces. é possível ler no jornal aquilo que Graciliano Ramos - um humorista inigualável, porém, pouco reconhecido - escreveu logo na abertura de Memórias do Cárcere:



"Restar-me-ia alegar que o DIP, a polícia, enfim, os hábitos de um decênio de arrocho, me impediram o trabalho. Isto, porém, seria injustiça. Nunca tivemos censura prévia em obra de arte. Efetivamente se queimaram alguns livros, mas foram raríssimos esses autos-de-fé. Em geral a reação se limitou a suprimir ataques diretos, palavras de ordem, tiradas demagógicas, e disto escasso prejuízo veio à produção literária. Certos escritores se desculpam de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade - talvez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça.Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer. Não será impossível acharmos nas livrarias libelos terríveis contra a república novíssima, às vezes com louvores dos sustentáculos dela, indulgentes ou cegos. Não caluniemos o nosso pequenino fascismo tupinambá; se o fizermos, perderemos qualquer vestígio de autoridade e, quando formos verazes, ninguém nos dará crédito. De fato ele não nos impediu escrever. Apenas nos suprimiu o desejo de entregar-nos a esse exercício."

SRN

quinta-feira, 20 de abril de 2017

PUM: Partido Único do Meirelles


Meirelles vive dizendo que as medidas do governo não são uma questão de opinião, mas de necessidade. Meirelles, evidentemente, não é comunista. Não pode ser acusado de adepto do "partido único". Embora uma espécie de Messias do "presidencialismo de coalizão", tem, por isso mesmo, a obrigação de fazer política. No caso do novo regime fiscal do estados, por exemplo. Por que o Rio e o Rio Grande do Sul não podem buscar uma alternativa baseada nas compensações da "Lei Kandir", de setembro de 1996, que não vieram até hoje por falta de lei complementar? O petróleo do Rio e a carne gaúcha, desde então, perderam arrecadação em virtude da desoneração do ICMS sobre a exportação de produtos e serviços, sem receber nenhuma compensação como manda a lei. Mas, isso atrapalha bons negócios, como a da Cedae, não é Ministro?

SRN


quarta-feira, 19 de abril de 2017

A Educação acaba de ser roubada como o título de 87

Não me surpreende, aqui na Guanabara, que tricoletes e os de segunda fiquem ao lado do careca do temer no STF. Fazem parte do mesmo Tietê. Além disso, só quem despreza a história (o que também surpreende entre tricoletes e os de segunda, alguns deles formados comigo em História na UERJ), pode questionar o TÍTULO LEGÍTIMO DO FLAMENGO EM 87. 


Vida que segue, como dizia o Grande Saldanha, e é melhor discutir o que importa e não molecagem, ainda que vinda da toga do careca do temer. Seguinte:

Acabo de ler, no portal da Câmara, o substitutivo do Pedro Paulo, aprovado ontem. Estamos todos estropiados como professores não apenas de história. Entre as contrapartidas do novo regime fiscal a ser celebrado entre o estado que se disponha e a União, há uma proibição que arrebenta com a educação no nosso estado. Pedro Paulo manteve a proibição de novos concursos, desde que não seja pra repor vaga. Assim, aparentemente, estariam garantidos os concursos de provimento de professores destinados a atender a demanda mínima do estado, longe de ser cumprida. A malandragem, entretanto, também faz parte das "proibições de contrapartida" no que diz respeito aos convênios com organizações sociais da sociedade civil (OSC). A princípio, todos os convênios não seriam renovados, mas o tal do Pedro Paulo "flexibilizou" a "proibição" para os casos de "serviços essenciais". É o tal negócio: basta combinar essa "flexibilidade" pras OSCs atuarem em serviços essenciais como Educação à lei das terceirizações que permite a contratação de terceiros para atividades fins, que as vagas de professores nas escolas do estado pra atender a demanda mínima, ainda permitida pelo novo regime fiscal, poderão tranquila e legalmente ser preenchidas por professores vinculados às OSC, sem concurso, sem critério. Calculem se considerarmos ainda os tais "itinerários formativos". Como o ensino médio é atribuição do estado, e a "reforma" do ensino médio, na história do boitatá de que os adolescentes agora escolhem a própria "vocação", permite que as escolas ofereçam apenas os "itinerários" que puderem (acabando com a falácia da livre escolha "vocacional"), certamente haverá um excesso de "opções" para os cursos profissionalizantes que não exigem professores com licenciatura, mas apenas 'profissionais de reputação reconhecida". Será a festa dos cabos eleitorais da pior politicalha que o nosso estado conhece há tempos.

SRN?


sexta-feira, 7 de abril de 2017

wikilegis

O portal da Câmara Federal disponibilizou a ferramenta “wikilegis”. Podemos acompanhar os projetos como se fôssemos membros das comissões, com as redações das emendas substitutivas disponíveis pra comentários e até sugestão de redação distinta.Uma ferramenta muito melhor do que facebook ou twiter, pois permite a participação num nível de complexidade na discussão de temas de interesse público que a vulgaridade das redes sociais não permite.
Evidente que desconfio de que o material participativo produzido pela ferramenta não será absorvido pelos parlamentares. Seja como for, serve de estatística de referência.
No tema Reforma Trabalhista, por exemplo, uma das emendas me chamou a atenção pela força adquirida pelo “acordado” sobre o “legislado” na precarização do trabalho. Se houver “vantagens’ do acordo entre patrões e empregados, basta simplesmente “explicitar’ tais vantagens que imediatamente deixa de valer a proteção constitucional  que regula o objeto da “vantagem’ eventualmente obtida.




"§ 3º Na hipótese de flexibilização de norma legal relativa a salário e jornada de trabalho, observado o disposto nos incisos VI, XIII e XIV do caput do art. 7º da Constituição, a convenção ou o acordo coletivo de trabalho firmado deverá explicitar a vantagem compensatória concedida em relação a cada cláusula redutora de direito legalmente assegurado."
Calculem a malandragem.
A prova da validade de um clássico, a do “18 Brumário” de que apenas a luta parlamentar não é suficiente, haja vista a Cedae.
SRN