Por Tadeu dos Santos
A velha guarda da Portela já abrigou Manacea. É dele a famosa “Quantas Lágrimas”, gravada por Cristina Buarque de Hollanda. E ele dizia: “Ah! Quantas lágrimas eu tenho derramado, só em saber que não posso mais reviver o meu passado”. Por ali também já circulou Alberto Nonato. Ainda andam por lá Casquinha, o famoso autor da 2ª parte da lindíssima “Recado”, parceria com Paulinho da Viola e Jair da Portela, dentre outros.
Mas é, sobretudo lá que ainda encontramos Monarco. Ele é parte integrante do acervo patrimonial de nossa cidade. Vejo o brilho nos seus olhos ao contemplar sua música sendo cantada por Zeca Pagodinho e também sou tragado pela emoção.
Lembro de um triste carnaval em que a Velha Guarda não desfilou. Dia triste pro samba. Triste registro de um carnaval norteado por quesitos que valem nota. Também aqui a beleza foi sacrificada no altar da eficiência. Também aqui a modernidade deixou de enxergar o essencial, o que, ao fim e ao cabo, efetivamente contava. Ficou a inelutável conclusão de que em meio à tanta grana e atenção aos quesitos, a sensibilidade foi relegada a uma diminuta importância.
Monarco e toda a Velha Guarda da Portela são destinatários do bem querer do carioca. Tudo o que nos falta é exteriorizar esse apreço. Entoar-lhes loas e render-lhes encômios. Sim, é disso que precisamos.
A exceção ficou por conta de Marisa Monte em seu “Tudo Azul”. Belíssimo CD em que se homenageou a velha guarda da azul e branco cantando os sucessos de seus integrantes. Uma maravilha só.
Vi Miltinho cantando com Ed Motta. A música era “Seu Nome é Ninguém”. Não há qualquer exagero em se afirmar que Miltinho poderia ser conhecido pelo epíteto de “O irrepetível”. De fato, a cada interpretação a música se faz diferente, nova e melhor. É um dos últimos integrantes de uma safra que enlouquece os sentidos.
E Cássia Eller ladeada por Luiz Melodia cantava “Juventude Transviada”. Não temos, decerto, a melhor música do mundo (como sempre afirmam nossos nacionalistas de plantão), mas podemos nos orgulhar da tríade Elis, Cássia Eller e Marisa Monte.
Luiz Melodia também fez “Estácio Holly Estácio”, “Pérola Negra” e “Fadas”. E isso, definitivamente, não é pouco. Não mesmo.
Já ao fim ouvi o Grupo Fundo de Quintal cantando “Trem das Onze” do fenomenal Adoniran Barbosa. Lá, claro, também estavam os Demônios da Garoa.
Adoniran soa como aqueles obras que não admitem definição. Quanta genialidade havia naquele linguajar tão simples. Adoro “Tábua de Tiro ao Álvaro” na voz de Elis. Também é definitiva a interpretação de Clara Nunes para “Iracema”. E “Bom dia Tristeza” com Roberto Ribeiro é belíssima.
Adoniran disse: “A tristeza é que nem rato comendo queijo parmesão... e como dói a bandida”. Lindo!
Não lancei mão de Nélson Cavaquinho. Seria demais pra um só dia.
“Folhas Secas”, “Rei Vagabundo”, “O Bem e o Mal”, “Pode Sorrir”, “Rugas”, “Juízo Final”, “A Flor e o Espinho”, “Quando eu me Chamar Saudade”, “Pranto de Poeta”, “Rei Vadio”, “Vou Partir”, “Minha Festa” “Duas Horas da Manhã”, “Degraus da Vida”, ”Palhaço”, e “Tenha Paciência”, dentre tantas outras são de Nélson, o boêmio, o anjo da noite, o gênio absoluto.
E pra que não fiquem por aí a afirmar que somos movidos por inafastável e empedernido saudosismo fica a indicação: ouçam o “Música de Brinquedo do Pato Fu”. O disco foi todo feito com brinquedos infantis (flauta, guitarra, violão, bateria). Os corais ficam por conta da filha de Fernanda Takai / John Ulhoa e outras crianças.
Dizem que no interior de uma nave foi colocado um CD e que nele estava um samba. Fico daqui a imaginar um ET de posse do tal CD. Em seu ouvido ecoava um “Coisinha tão bonitinha do pai... “. O longo dedo lança-se a cata do botão STOP. O olhar se dirige pra miríade de estrelas posta à sua frente e sem mover a boca que de resto não tinha, ouve-se: “ Eta nepotismo danado!!! Mas cadê o Nélson?”
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