segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Terreiro Grande

Roberto Didio - Terreiro Grande / www.cecac.org.br

Terreiro Grande no Rio de Janeiro
Sambistas de São Paulo, junto com Cristina Buarque,
lançam CD em homenagem a Candeia

Dia 21/8 – sábado – a partir das 15h na Roda de Samba da Ouvidor, esquina da Rua do Mercado com Rua do Ouvidor, Centro - Rio de Janeiro

Dia 22/8 – domingo – a partir das 14:30h no Paquetá Iate Clube, na Ilha de Paquetá - Ingressos: 10,00 (não-associado) - 20,00 a mesa


Para quem não sabe, o Terreiro Grande deriva de uma agremiação chamada Grêmio Recreativo de Tradição e Pesquisa Morro das Pedras que se formou em meados da década de 1990 e foi finalmente fundado em abril de 2001 numa comunidade de São Matheus, o bairro Rodolfo Pirani [São Paulo-SP], encerrando suas atividades em dezembro de 2006. Lá fazíamos, além das rodas de samba com homenagem a sambistas completamente esquecidos, algumas atividades de cunho social como aulas de reforço escolar, aulas de música e capoeira para mais de 70 crianças do bairro e adjacências.

Terreiro Grande no Bar do Alemão (O Patriota) - São Paulo

Sempre defendemos a ideia de que o samba, além de musicalizar, pode também ser uma via de contestação social, uma forma de coletivizar, de agregar pessoas em prol de uma causa. O samba é a música do povo e, como tal, tem esse poder legitimado.

Muitos sambistas no decorrer de suas vidas dedicaram-se a essa ideia. Candeia, por exemplo, reunia na sede da GRAN Quilombo [Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo], debates sobre preconceito racial, sobre a situação do operário, sobre a condição do pobre nas favelas e compôs inúmeros sambas com esse mote. Paulo da Portela, como eu disse no texto "O samba é que é revolução, é preciso que se convençam" (leia aqui), fez um samba dedicado ao revolucionário Luis Carlos Prestes, na década de 40. Cartola compôs o "Samba do Operário". Jorge Zagaia fez o "Samba do Trabalhador" e mais uma porção de exemplos que eu poderia citar aqui. O samba sempre teve essa veia, já que ele já foi a música principal do povo humilde das favelas e subúrbios. Hoje, isso está um pouco de lado e como diz o Paulo César Pinheiro, "o samba está muito alegrinho pro meu gosto". Concordo. Mas isso é um outro assunto. Quero focar num outro aspecto.

Terreiro Grande no Bar do Alemão (O Patriota) - São Paulo

Lembro-me que em várias ocasiões, tínhamos, entre uma cerveja e outra, entre um samba e outro, conversas sobre o nosso papel quanto sambista nessa história toda. Sempre encabeçadas pelo nosso irmão Roberto Didio, as discussões varavam tardes em diversos temas que iam desde o samba no início do século à sua influência política nos dias atuais e cada um ali, absorveu aquilo de uma forma particular. Muitos foram atrás de livros pra se aprofundar mais, outros nem tanto. Mas todos, sem exceções, sabiam qual o sentido de se reunir em volta de uma mesa para cantar samba, que pode - nem sempre precisa - ir além de simples reunião de músicos. Lembro que a primeira vez que ouvi falar em Marighella, foi lá no Morro. Inclusive, tínhamos numa das camisetas do grêmio, um poema dele, nas costas. E por tudo isso o Terreiro Grande pôde, embasado nas suas convicções, sempre optar os caminhos que quis e que quer seguir. Temos um compromisso com essa história que ajudou a formar nosso pessoal. Cheguei onde eu queria.

Sendo fiel ao que sempre acreditamos e pregamos, eu posso utilizar desse espaço para propagar, não apenas tudo que se relacione ao universo do samba, como tudo o que está intrinsecamente ligado a nós, como cidadãos do mundo. E, se querem saber, não consigo separar as coisas. O sambista e o cidadão são um só. Por isso a bandeira do MST está estampada em nosso espaço virtual. Compartilhamos daquela ideia e nos solidarizamos com a causa.

Por tanto, caros amigos, não fiquem surpresos, nem estranhem quando o assunto aqui não for o samba. E eu lhes faço a seguinte pergunta: Ao invés indagar o porquê de um bando de malucos misturar samba e política, perguntem-se: por que não? A proposta está feita.

Esse espaço é apartidário, mas é VERMELHO por convicção. Nunca podemos esquecer o que disse o poetinha, na contra capa do nosso primeiro disco:

Em tempos de superexposição, onde a padronização cultural é lei, comemoramos a delicadeza transgressora deste trabalho.

Literalmente, não pagamos para ver, pagamos para ouvir! E o fizemos prazerosamente. Cuidando da memória, sempre, sem descuidar da revolução.

Nos solos e terças, num gole ou embargo de voz, o primoroso cantar da Cristina (Chefia!) reuniu todos esses fantásticos compositores num chão de terra boa – de ares não condicionados – o terreiro! Terreiro Grande!

Ainda: valiosíssimo encontro de amigos! Na cara da desumanização, no vagar, ergue a escassa lamparina da utopia. Representando, sobretudo, nossa gratidão ao estado de graça maior que a música alcança: o samba.


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