Por Tadeu dos santos
Há filmes e livros que fazem aflorar o surrado “poxa! Gostaria de ter feito isso”. Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças é um deles. A direção é de Michel Gondry, mas o de que mais gosto no filme é o roteiro. Seu autor é Charlie Kauffmann, o mesmo de Eu Quero Ser John Malkovich.
Um casal passa pelo auge da insatisfação mútua e a mulher resolve se submeter a um procedimento consistente em extirpar de seu cérebro todas as lembranças referentes à relação que até então mantinham. Após a intervenção a vida segue sem que qualquer vestígio do antigo relacionamento faça parte dos seus dias vindouros.
É ou não uma ideia sedutora? Qual de nós já não se flagrou acalentando a possibilidade de se livrar definitivamente daquelas lembranças obsessivas? Não são poucas as lembranças que nos prendem ao passado, que impedem o avanço e que, sobretudo são estéreis. Nada resgatam. Nada consolam. Apenas oprimem e tolhem.
Há, por outro lado, os que discordam do roteiro. Afinal amar é algo diverso de um mero catar de feijão, onde lançamos os bons à panela e os ruins ao lixo. Fica-se com o todo e o todo nos molda, e o todo nos prepara para a próxima.
Não descerei aqui às modernas análises que tratam dos benefícios de uma boa dose de sofrimento. A discussão esbarraria em preceitos religiosos, esbarraria na psicologia, namoraria a filosofia e ao fim e ao cabo, não seriam poucos aqueles que acorreriam à empresa Lacuna para o fim de extirpar o que ainda ficasse do texto a circular pelo cérebro.
Vou apenas atrelar o roteiro de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança à paixão clubística. Se possível você detonaria aqueles reveses que os adversários vivem a lhe atirar ao rosto?
Aquele maldito gol de barriga aos 41 minutos do segundo tempo na decisão do campeonato carioca de 1995. O pênalti perdido por Titã na decisão de 1977. A eliminação da Libertadores de 2008, com aqueles três nefastos gols de Cabãnas.
Não os tiraria. Eles ficaram lá onde estão. Atormentam-me às vezes, é verdade. Mas são ingredientes da argamassa que moldou o amor que sinto pelo Flamengo. Já fui acometido do mais absoluto mutismo, já chorei, ri, esbravejei. É um amor-limite. Prenhe de contrastes, de emoções díspares, incontidas.
Elas permaneceriam lá a me lembrar do quão resistente e incondicional é esse amor.
Ademais vai que se extirpe em excesso. Vai que de roldão siga ao limbo a cabeçada de Rondinelli, o chute desafiador da lógica de Nunes na decisão do brasileiro de 1980, o ano de 1981 e também todas as lembranças de Zico, Leandro, Geraldo ...
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