sábado, 14 de agosto de 2010

Faltam Jesuítas às Várzeas do Tietê


Por Tadeu dos Santos

Vejo que bradam por aí as mais recentes pesquisas. Elas dão conta de que periclita nossa supremacia numérica e que muito em breve já não mais seremos a maior torcida do Brasil.

Não nos conhecem. Não sabem nada de nós.

Os números que ostentamos são dados estatísticos que revelam parte de nossa grandeza. Mas não é aí que reside a nossa essência.

Inventamos um ponto de fusão em que torcida e time unem-se e formam um novo ser. Uníssono, compacto, forte, grandioso, belo, impoluto, dialético e vencedor. Somos tudo e muito mais. Somos poderosos.

O poder aqui se origina no seio da massa. Nos tempos da antiga geral era ali, junto aos mais humildes que se operava sua gênese. Passava a seguir pelos camarotes e por fim ia ter à arquibancada. Dali o poder, nascido do amor e do orgulho dos membros da Nação, retorna ao gramado e toca nossos deuses.

Saibam todos que era nosso o sopro que no derradeiro momento conferiu a mais inteira perfeição ao petardo de Petkovick naquela célebre decisão de 2001. Éramos o gesto incontido de Rondinelli a implorar pela bola em 1978. Éramos ausência de lógica no chute de Nunes na decisão de 1980 e também éramos nós a dar a força que faltava para que Valido subisse e de cabeça fizesse o antológico gol em 1944, nosso primeiro tricampeonato.

Mas tudo isso é apenas o que nos é dado ser. Queríamos mais.

Queríamos ser grama e ter a distância e o ângulo ideais para ver Geraldo andar por sobre a bola. Queríamos ser trave e dali encher os olhos com a elegância de Domingos. Queríamos ser barreira e, tão próximo quanto possível, assistir as cobranças de Zico e Dr. Rubens. Vês não é muito o que queremos. Mas se possível também queríamos ser bola e ir ter aos pés de Leandro.

E é diferente esse nosso amor. Não sofre os desgastes provocados pelo tempo. Ao contrário, fortalece-nos o passar dos anos. É amor antigo e dá-se à conta de registro apenas o marco inicial.

Dizem que ao tempo da inauguração do maracanã todos os videntes de plantão, auspiciaram que não se construía ali um estádio, mas um templo. Disseram também que por ali se operaria uma comunhão nunca antes dada aos olhos. Resultaria de um amor profundo, entranhado.

Vá ao templo. Assista ao rito. Sinta a comunhão e confirme a magia.

Que torcida é essa? Que time é esse?

E que jamais voltemos às vis questões quantitativas. Isso é papo de louco.

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