Por Tadeu dos Santos
É velha a discussão que trata do bairrismo no futebol brasileiro. De nossa parte lançamos venda aos olhos e mordaça à boca num ingente esforço de seguir adiante e ignorar o que de resto, todos sabemos, não tem a menor importância.
O tema, porém, além de recorrente, revestiu-se de uma importância cuja grandiloquência não mais admite o silêncio que despreza.
Isto posto, vejo-me instado a abrir uma brecha na paz do meu tugúrio e aqui do interior do meu aparelho situado num aprazível bairro do subúrbio carioca (bairro que, saliente-se, já deu abrigo a Prestes, Lima Barreto, João Nogueira e Millôr Fernandes) e de antemão sabendo do risco de ainda que acompanhado, me sentir tristemente solitário, falarei de paulistas. Serei rápido e, na medida do impossível, indolor. Prometo.
Antecipadamente, salientamos que nada do que aqui se comentará tem por finalidade isentar os times do Rio de Janeiro da balbúrdia que reiteradamente se faz presente no nosso “jeitinho de administrar”. O que se vê por aqui não é digno de qualquer encômio. Ao contrário, é algo a se lamentar.
Mas se paraíso tem endereço, não há qualquer dúvida que ele fica em São Paulo. É por lá que encontramos os melhores e mais organizados times do país. A frase é entoada repetitivamente e, evidentemente, destina-se ao convencimento dos incautos.
Mas tudo isso era ainda insuficiente aos briosos paulistas e, ato contínuo, andaram a dizer que a torcida do Flamengo já não era mais a maior do Brasil.
Claro está que seja lá qual for o sentido que se pretenda atribuir ao adjetivo maior ele está umbilicalmente ligado ao Clube de Regatas do Flamengo. Sim, somos grandes e mais. Somos também aguerridos, somos predestinados, somos uma nação.
Acaso reste alguma dúvida acerca da inteira veracidade de tudo o que efetivamente somos, fica a sugestão: vá ao Maracanã (ele é nosso, saibam todos) e veja a única torcida brasileira digna de tombamento. Um alerta, apenas: cuidado, somos dotados do amor que contagia.
Mas não é só. Estão a lançar a pedra fundamental de um estádio que maravilhará o mundo. Deve ficar ali nas adjacências de algum desses muito encontradiços ITAS de São Paulo. Quiçá seja Itaquera, vai saber.
Enfronhados no tal magnânimo projeto estão o Ronaldo. Lembram? Aquele a que homenageamos a farta quando de sua última passagem pelo Maracanã (pra variar, ganhamos). Ele agora é garoto-propaganda. Atrai investimentos.
O outro atende pela alcunha de Lula e é pródigo nesse pouco salutar hábito tendente a misturar o público com o privado. A aparente parceria Planalto x Corinthians é apenas um episódio desse dramalhão que resulta no desassossego do espírito e esvaziamento dos bolsos.
Ao fim e ao cabo o que conta mesmo é o Rio de Janeiro.
O Maracanã não é estádio e isso é fato. Na realidade, ele é palco, é panteão.
Prenhe de histórias e charme é o cartão-postal do futebol brasileiro e não há nada que se revista de força suficiente a afastar essa gritante verdade.
Somos a principal sede da Copa do Mundo e aqui serão realizadas as Olimpíadas de 2016; queiram ou não os organizadíssimos capiaus de Itaquera.
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