quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Marx seria Flamengo


Por 28

Fecharam o quiosque na Negrão de Lima, a rua do rio, esquina com a Gonzaga. "Problema com a documentação", me responde o fiscal do "choque de ordem", desse mauriçola com cara do resto carioca.

Até ali tava tranquilo, os pés não queimavam no chinelo rubro-negro que a Ângela me deu. O problema é a aporrinhola que já virou uma praga, em banco, em supermercado, no ingresso do Maracanã. A fila trava e as candinhas destravam a língua. Também caminho com esses pés de pilão rumo à terceira idade e não falo dos coroas ranzinzas. Salvo conduto é pra isso. Falo é de marmanjo zé roela que olha pra tua cara na fila "até 15 volumes", o carrinho inflamado de lata de cerveja e carvão de churrasco tentando falar mal da moça do caixa.

"É foda, não querem nada."

"Meu irmão, tu queria tua filha ali, aturando um camarada com a tua disposição?"

Valeu, Máximo. Estava na fila e me mandou sentar no corredor enquanto chegava a vez. Na saída, me emprestou um livro que o parceiro daqui do blog, Tadeu dos Santos, lhe mandou: "O Marxismo de Marx", de Raymond Aron. É o seguinte: há nos franceses uma precisão sempre muito útil. Evitam o desperdício com o conhecimento sobre o suporte das palavras estritamente necessárias. Acaso Zidane não foi uma tentativa de síntese do Zico?

Outro dia lendo Hobsbawm, que é inglês, na diferença que estabelece entre ficção e história, aprendi que é comum a construção identitária como grandes narrativas de estrutura literária: exclusão, provação, redenção. O herói jogado pela linha de fundo, a provação no esforço de superar os obstáculos, derrotar os inimigos, ao fim do qual, redimido, o herói é glorificado no panteão de honra da unidade nacional. Um troço que me lembrou o nosso Monstro Sagrado, alguns anos, na volta contra a bambilândia. Fevereiro de 86, mais ou menos, o lado direito, naquela aporrinhola de comadre de "abenção João de Deus", resolve jogar os estojos de maquiagem em peso pro campo: "bichado! Bichado!"

O Monstro só fez o que precisava. Deixou a bambilândia de quatro, ainda com um golaço de falta, daqueles de manual, escrevendo a história mítica que caracteriza a tradição responsável pelo projeto da identidade da Nação Rubro-Negra.

Agora lendo o livro do francês, Aron fala da noção de crítica de Marx. Seu caráter "imanentista", aproveitado de Hegel, pelo qual "a razão, segundo Marx, está presente, mas nem sempre sob a forma racional", levando a analisar a realidade tal como esta se apresenta, para saber o que ela é, uma espécie de "razão semiconsciente que a crítica descobre na realidade". A razão é o que sociedade deve ser, na investigação das aparências.

Marx, meus camaradas, não tenho dúvida, seria Rubro-Negro. Isso aí que o Aron explica é mais ou menos como se dissesse que o Flamengo é a melhor forma de ser carioca. Eis o Rio. Por falar nisso, Diogo e Deivid, sejam bem vindos.

Seguinte: a vista tá ficando turva e não dá pra ficar aqui muito tempo, sem esticar as pernas.

Mas, esse papo aí do Marx Rubro-Negro vou retomar.

Valeu, Máximo e SRN.

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