O sobe e desce do nordeste futebolístico
Por Benê Lima, radialista e diretor superintende da Liga Cearense de Futebol Feminino (LCFF) e qualificado e habilitado para representar o estado do Ceará na 3ª Conferência Nacional do Esporte.
O futebol brasileiro no seu todo está enfermo, e o futebol nordestino como parte dele sofre os efeitos da degenerescência de uma gestão desportiva que fincou bases na irrealidade
Ao lançarmos uma visão geral sobre o momento do futebol brasileiro, pela ótica dos clubes – mesmo aqueles que integram somente a divisão de elite nacional – inevitavelmente constatamos um quadro que, se não chega a ser sombrio, assume contornos de uma crise instalada.
Mais que a sintomatologia, podemos identificar, pelos efeitos com que nos deparamos, a falta de saúde financeira da grande maioria dos clubes brasileiros. E, mesmo os que gozam boa saúde têm necessitado da receita extraordinária oriunda da negociação de seus melhores jogadores. Pois, de ordinário, estariam – salvo uma ou outra exceção – no vermelho.
Transpondo a questão para o norte e o nordeste brasileiros, que nem de longe está imune à pandemia inflacionária que tomou conta do futebol nacional, assistimos a iniciativas pontuais como as que caracterizaram as administrações de clubes (ou seria melhor dizer times?) como Bahia, Santa Cruz, Sport e Fortaleza, que muito bem representam, em diferentes níveis, ações no mínimo perdulárias de seus dirigentes.
A realidade futebolística do alto do mapa, em que predomina o ‘colosso verde’ da região amazônica e adjacências, chega a ser um pouco pior que a da região que inclui a zona da mata, o semi-árido, o meio-norte e o agreste nordestinos. O estado de pobreza dos times da região contrasta diametralmente com a riqueza dos recursos naturais ali presentes. Os exemplos mais eloqüentes da decadência do futebol do norte do país são Paysandu/PA e São Raimundo/AM, rebaixados dentro de campo.
Apesar dos pesares, uma elementar conta de resultados demonstra o progressivo fortalecimento da região nordestina no cenário futebolístico brasileiro. Há quatro anos só tínhamos um clube do nordeste na Primeira Divisão: o Fortaleza/CE. Já em 2006 passamos a ter dois representantes nordestinos: o Fortaleza/CE, que permaneceu airosamente, além do Santa Cruz/PE, que conquistou também garbosamente seu direito ao retorno à 1ª Divisão. No que pese o rebaixamento dos dois clubes nordestinos, outros três conseguiram o acesso à Série A. São eles: Sport/PE, Náutico/PE e América/RN. Portanto, a região passou a ter maior representatividade, sobretudo o estado de Pernambuco, através de dois representantes da cidade de Recife. Mas, infelizmente, essa situação durou pouco, com os três sendo rebaixados. Não fora pelo Vitória/BA e agora pelo Ceará, o nordeste estaria à margem do grupo de elite do Brasileirão.
Mas, vencido o desafio do acesso, o embate seguinte gira em torno da manutenção dos representantes nordestinos na divisão “top” do Brasileirão, o que constitui tarefa das mais árduas. Principalmente se levarmos em conta as desigualdades a que estão submetidos, do ponto de vista da distribuição dos recursos originários do contrato da televisão. Deste ponto de vista, o Ceará certamente é quem mais tem sentido as agruras da luta para manter-se onde está.
Enquanto isso há outros segmentos do nordeste que vivem uma realidade bem diferente de outros estados, já que precisaram desafiar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ao descumprirem o Calendário Anual que vem sendo proposto pela entidade, sem o quê não sobreviveriam. Os campeonatos estaduais do Maranhão e do Piauí têm maior duração, além de promoverem o choque entre os calendários da CBF e dos estados, quando em concomitância acontecem duas competições: Campeonatos Estaduais e Campeonato Brasileiro da Série-C.
E assim, neste constante processo de adaptação, vão vivendo os clubes do norte e nordeste do Brasil, todos lutando bravamente por continuarem a existir.
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