sábado, 20 de novembro de 2010

1/1/2011



Hoje foi o nosso 31. 2010 acabou e abre-se  possibilidade de pensar o  Flamengo. Entretanto, pra valer, não me agrada, como cheguei a pensar quando vi pela primeira vez, ainda no primeiro semestre, a porta fechada do Núcleo de Sociologia do Futebol. O exame acadêmico do futebol, particularmente do Flamengo, é muito parecido com o desencantamento do mundo, promovido sucessivamente por Hegel e Marx.

Se esta dupla de alemães não conheceu Beckenbauer, quem conheceu a dupla Adílio e Zico não se sente à vontade sequer com a Nova História. Tudo o que se afirma estrutural entra em choque: novos objetos, novas abordagens, bem antes da ascenção do time do século, na forma brasileira mais sedutora de jogar, representada através de Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Pra piorar, Hobsbawm fornece o argumento, embora em “A Invenção das Tradições”, lançado em 84, quando já havíamos ganhado três Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial, o inglês, como bom marxista, quer apenas atacar o estado burguês. Seu esforço evidente concentra-se em expor-lhe o artificialismo, a vontade de enobrecer por meio de tradições que foram inventadas noutro dia, muitas delas não têm sequer meio século. Quanto de artificialismo havia em tais projetos identitários? Impõe-se, receita o inglês, um questionamento do próprio Estado. O deslizamento ralo vira avalanche, “pós-moderna”, de desvinculação da identidade do Estado-Nação. Sobra pro futebol.

Parece que a dupla de meio-campo do time da sociologia, um armador clássico, Gilberto Freyre e um volante, mas não ao estilo felipe melo, mas de um Andrade, que não era sociológo, mas escrevia como um Falcão da cabeça de área,  o grande Rubro-Negro, Mário Filho, é acusada, de uma hora pra outra, no tribunal da pós-modernidade, de uma inteligibilidade autoritária, tributária da “velha” sociologia, capaz de pensar uma só identidade, unívoca, sob coordenação do Estado. Um esquema em que a literatura pratica a militância, produzindo documentos, presente na relação desta versão intelectual de Adílio e Zico, no projeto da democracia racial, na estratégia de localizá-la no futebol. Uma sociologia de elite, na qual a consciência social só se efetiva na cúpula, usando como fonte a massa informe e difusa. Uma sociologia que, ao privilegiar a mediação, de certo modo acaba por coonestar o populismo, em que mobiliza mas não organiza, uma política de massas ao invés de uma política de classe.

A esquerda ataca firme:

“Precisamos antagonizar as contradições, não de um locus de coesão burguesa.”

A esquina carioca, porém, não é a roça do tietê. Thompson viveria bem em Vila Isabel e frequentaria tranquilamente o lado esquerdo da tribuna de honra do Maracanã. Praticamente não tivemos indústria, graças a Deus não conhecemos o tempo do relógio nem necessitamos adaptar o corpo ao ritmo industrial. Ao movimento repetitivo, preferimos o movimento do drible, os pés descalços no paralelepípedo. Além de olhar a curva da morena na praia, que a mão de Niemeyer levou pra arquitetura.

2 x 1.

Feliz Ano Novo e Saudações Rubro-Negras.

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