terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dilma Inácio Vargas

Rubro-Negro não foge. Muro, sem chance. Não somos uma Nação Maior à toa. Oportuna a postagem do parceiro Saruê Muniz.

SRN
Máximo



Dilma Inácio Vargas

Por Saruê Muniz

Com o fim da campanha eleitoral, é possível o retorno à lucidez. E a primeira entrevista de Dilma já demonstra que a bíblia e o crucifixo,  oportunos nas charges do companheiro Máximo,  ficarão na caricatura. Parece que o Brasil, a começar pelo lulismo, prosseguirá nela sem medo do pejorativo:
A crítica à Era Vargas sempre fora consenso entre o PT e o PSDB. Uma referenciação comum que  tinha por base a sociologia paulista que não gostava do Brasil:  Fernando Henrique., Francisco Wefort, etc. Todos muito críticos ao legado patrimonialista de nossa formação, marcado pelo iberismo de corte asiático que combina Marx e Weber. Marx, por ter apresentado a história pelo viés econômico, dividindo-a basicamente entre quatro modos de produção: asiático, antigo, feudal e burguês moderno. Weber, pelo paroxismo da racionalidade burocrática, que, se implicasse numa contradição principal, não seria entre capital e trabalho, não estaria, portanto, na luta de classes, mas no dilema burocracia e liberdade.

Weber, aliás, oferece em tal categoria  um instrumento útil, sobretudo quando Raymundo Faoro, em 58, com "Os Donos do Poder", na análise da tradição de nosso patrimonialismo ibérico, contesta a clássica tese de Weber da viabilidade do capitalismo como decorrência da ética calvinista. Para Faoro, o capitalismo deve muito mais ao feudalismo, em que já se prefigurava a possibilidade do Estado, instância decisiva na constituiçao de um aparato burocrático central, em torno do rei, de superação do parcelamento do poder político disperso entre senhores feudais. Enquanto a ética calvinista, baseada no princípio da predestinação, era só sociedade civil, mercado, sem condições de realizar a expansão marítima e  o mercantilismo como política econômica que combinava Estado e burguesia em um capitalismo comercial, base da revolução industrial e do capitalismo moderno.
A tese de Faoro é que o patrimonialismo ibérico, por não ter conhecido o feudalismo, não poderia realizar o capitalismo e estava muito mais próximo da configuração asiática em que o Estado, ou que se lhe era equivalente, estava acima da sociedade e a tudo submetia. Nossa formação, portanto, estaria marcada pelo estamento estatal, que coopta e orienta segundo sua própria lógica e conveniência. Por ser asiático, nosso Estado não teria um caráter de classe burguês, antes disso, teria um fim si mesmo, atropelando e submetendo a sociedade civil. É o que explica a nossa modernização autoritária, de baixo pra cima, sem rupturas, conciliando as diversas frações da elite, particularmente de Vargas até à ditadura militar. Há uma continuidade, operada primeiro pelo populismo, depois pela tecnocracia pós-64.

Marx fornece a categoria asiática e Weber  a categoria racionalidade burocrática, na análise do refinamento dessa dominação através do aperfeiçoamento técnico do aparelho de Estado.
Quando o PT surge, justapondo sindicalismo anti-peleguismo, esquerda católica e intelectualidade paulista, a rejeição à Era Vargas é condição de toda a crítca. Vargas e a ditadura militar, para o PT, praticamente são faces da mesma moeda.

O PT era o moderno, na afirmação independente da sociedade civil, da classe trabalhadora, frente ao controle de um Estado de corte asiático. Do modo análogo, na vertente de outros aspectos da sociedade civil, seria o PSDB.

Quando FHC chega ao poder, a recidiva liberal que arrasta o mundo é, na verdade, muito bem vista pela sociologia paulista. Era o contexto que faltava e que permitirá a pá de cal no Brasil de que não gostavam, o patrimonialismo ibérico, asiático, misturando público e privado.  Atacar esse Estado era uma oportunidade histórica, desmontando-o e privatizando-o.
No campo popular, essa visão era o que levava Brizola - de resto, filho dessa tradição, desse Brasil que nem o PT nem o PSDB gostavam - a chamar Lula de "sapo barbudo" e o PT de "a esquerda que a direita adora". Brizola nunca foi marxista, não pregava a luta de classes. E desconfiava da sinceridade e da capacidade de resistência dessa intelectualidade que vivia falando em revolução. Enxergava-se como o desenvolvimento dialético, pois a dialética não necessitava ser obrirgatoriamente marxista, do nacional-popular do Vargas histórico. Se constituíamos esse modo de Estado, não burguês, o trabalhismo nacionalista seria um aprofundamento e aperfeiçoamento na direção da inclusão das massas.

Estava ali Darcy Ribeiro. Por que Darcy não fora para o PT? Não teria compreendido o sentido histórico, a razão de ser da realidade brasileira?
Dilma também se filia ao PDT, logo após a fundação do partido por Brizola, quando da volta do exílio, a partir de 79, com a anistia.

Dilma, portanto, ao reconhecer a inviabilidade do caminho da luta armada, da qual fizera parte, reconheceria tal percepção de transformação a partir do centro político e do Estado estamental.
Lula, em seu governo, compreendeu isso, ao transformá-lo num espaço de disputa, de arbitragem para as demandas do capital e do trabalho. O condomínio estamental do lulismo foi a atualização do nacional-desenvolvimentismo.

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