quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Canela com Lustre

Por 28 

(valeu, Máximo, pela paciência. Montei um blog: www.vinteoitosetembro.blogspot.com. Todos serão bem vindos.)

Olhava bem pra sua pele. Não era grama nem soçaite, parecia quadra de futebol de salão, tábua corrida. Canela com lustre.

Como uma bacante, ela me fazia o seu Dionísio, subindo pelas colinas do meu corpo, explorando,  dançando os quadris como se quisesse desgastar o que de meu tinha dentro  para explodir. Então fabricávamos litros, mergulhávamos em nossos líquidos, como a beber na fase certa da lua, quando não há embriaguez.

Não falava, não falava, não falava. Às vezes sua dança me dava  a impressão de estar a um passo de abandonar a loquacidade do corpo, da cintura movediça, da curva sinuosa de suas coxas que não conheciam descontinuidade nos joelhos, para encerrar-se num mutismo que a tornaria afásica. Até ali me fizera objeto.

Nem parecia que gostava de me ouvir, de ler o que eu escrevia, das garatujas que tentava. Era duas, como se fosse três. Uma santíssima trindade, mas de têmpera pagã.

"Um cientista não tem credo - alguém disse - mas tem caráter de devoto."

Poderia cobrir-lhe de vermelho e preto e, Rubro-Negra,sentir-lhe a respiração ora ofegante, ora supresa, ora silvo de sibila em transe. 

Suas grossas coxas abertas me lembraram certo o rito do vinho.

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