Trecho de "Cutucando as onças com vara curta", de André Singer, sobre algumas das consequências das manifestações de junho 2013:
"Em junho de 2013, o cerco rentista recebe inesperado reforço proveniente das ruas. O caráter contraditório das manifestações de junho, iniciadas pela esquerda e engrossadas pelo centro e pela direita de maneira inusitada, elevou a rejeição à presidente, obrigando-a ceder mais alguns metros de terreno.
Ao perscrutar as motivações ideológicas envolvidas nas manifestações de junho, ressaltamos a numerosa presença da visão centrista que colocava o Estado como inútil sorvedouro de recursos. A crítica ao número de ministérios, à ineficiência na saúde e na educação, à corrupção generalizada estava na cabeça de parcela significativa dos manifestantes, depois que a esquerda perdeu o comando dos protestos.
Segundo o Datafolha, 56% dos que foram à avenida Paulista em
20/6/2013 (na noite de maior afluxo) giravam em torno do centro,10% estavam à direita e 22% à esquerda. Embora o ativismo estatal na economia praticado por Dilma não estivesse diretamente em pauta, os segmentos envolvidos, futuros votantes de Marina Silva e Aécio Neves, acabaram por reforçar a onda em favor de reformas liberalizantes que iam na direção contrária. Dada a composição social mista dos protestos, a adesão de membros da nova classe trabalhadora — jovens em empregos precários e baixos salários, todavia com carteira assinada
— à agenda liberal era plausível."
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