segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A desonestidade intelectual de Fernando Henrique Cardoso



“Sou mais inteligente do que vaidoso.” Humor de primeira, revelado há muito em uma entrevista de jornal. Apenas desonesto: inteligente pra localizar uma interpretação que lhe confira originalidade, Fernando Henrique deveria ao menos citar a fonte das idéias que tem. É que na entrevista abaixo, concedida a um mestrando da UFF, Pedro Lima, o ex-presidente, inquirido como sociólogo, repete sem citar a fonte o argumento de Karl Polanyi, em seu clássico, “A Grande transformação”. Escreve Polanyi:

“A huate finance, uma instituição sui generis, peculiar ao último terço do século XIX e ao primeiro terço do século XX, funcionou nesse período como o elo principal entre a organização política e a econômica do mundo.” (POLANYI, 2000: 24)

“Os Rothschilds não estavam submetidos a nenhum governo; como família, eles incorporavam o princípio abstrato do internacionalismo; sua lealdade era para com uma firma, cujo crédito se tornara o único elo supranacional entre o governo político e o esforço industrial numa economia mundial em rápido crescimento.” (Ibid, p.25)

“A influência que a haute finance exercia sobre as Potências era sempre favorável a uma paz européia.” (Ibid, p. 28)

“Se a isto acrescentarmos o crescente interesse pela paz dentro de cada nação onde o hábito do investimento havia deitado raízes, começaremos a ver por que pode ocorrer a surpreendente inovação de uma paz armada de dúzias de estados praticamente mobilizados na Europa de 1871 até 1914, sem chegarem ao ponto de uma conflagração esmagadora.” (Ibid., p.29)

Agora comparem FHC na entrevista:

“Porque, bem ou mal, a globalização é o fim do imperialismo. As pessoas nunca veem isso. Porque a globalização é o predomínio da empresa sobre o Estado, e quem faz a guerra não é a empresa, é o Estado. Quem faz a guerra é a Coréia, não é a General Motors. Não está na lógica da globalização a guerra, isso está na lógica do Estado. Agora, isso para as pessoas imaginarem que você está louvando a globalização acriticamente é umpasso, e quando querem criticar, leem de um modo vulgar, e aí fica assim, não há o que fazer — mas não é o que eu estou pensando. Eu nunca vi ninguém ressaltar isso, que a globalização é o fim do imperialismo...”

CARDOSO, Fernando Henrique. Entrevista conduzida por Pedro Luiz Lima. Revista Estudos Políticos: a publicação eletrônica semestral do Laboratório de Estudos Hum(e)anos (UFF) e do Núcleo de Estudos em Teoria Política (UFRJ). Rio de Janeiro, nº 6, pp. 07-21, Julho 2013. Disponível em: http://revistaestudospoliticos.com/.

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