quarta-feira, 28 de março de 2012

"Meia-noite em Paris"

Por Tadeu dos Santos

Com vistas à disputa do Campeonato Carioca de 1971, o Olaria, devidamente patrocinado por uma loja de eletrodomésticos, montou um time cuja escalação era: Pedro Paulo; Haroldo, Miguel, Altivo e Alfinete; Afonsinho e Roberto Pinto; Marco Antônio, Osnir, Luís Carlos e Antoninho.

Era um tempo em que os volantes jogavam (e como!!!). Talvez o argumento soe desarrazoado e exagerado, mas Roberto Pinto e Afonsinho seriam hoje titulares da seleção brasileira.

Afonsinho, como sabemos, era acadêmico de Medicina e ex-jogador do Botafogo. Ali (em General Severiano) não encontrou um ambiente muito receptivo às suas ideias de esquerda demasiadamente arrojadas para os anos de chumbo que vivíamos. A gota d'água, porém, deu-se com a intolerância dos dirigentes alvinegros em relação às suas longas madeixas. Malas feitas, o craque foi ter à rua Bariri e ali, devidamente acompanhado por Roberto Pinto, comandou um time que primava pelo maravilhoso toque de bola.

Em 24 de abril de 1971, enfrentaram-se Botafogo e Olaria. O time da rua Bariri dominou o jogo por encantadores 90 minutos. Como dizia o saudoso Waldir Amaral o peixe não foi ter às redes e o placar ficou mesmo em 0 X 0.

Íamos já ali pela marca dos 40 minutos do segundo tempo, quando o Olaria pôs o Botafogo na roda. A bola ia de pé em pé e os chorões , ou seja, atletas do Alvinegro não logrando êxito na tomada da bola, passaram a aplaudir os adversários. Afonsinho, cuja verve era, já aquela altura, afiadíssima, limitou-se a dizer: vocês estão certos. Quem sabe joga, quem não sabe bate palmas.

E o suposto time pequeno prosseguiu dando olé no pretenso grande (cujo ataque, só pra constar era formado por Zequinha, Jairzinho, Roberto e Paulo Cesar) até que viesse a última volta do ponteiro.

Ainda pra esta temporada o time montado pelo América constituía-se de: Jonas, Paulo César, Tião, Mareco e Zé Carlos; Badeco e Tarciso; Tadeu, Jeremias, Edu e Sarão.

Talvez esteja a perecer da denominada Síndrome da Era Dourada de que nos fala Woody Allen no maravilhoso “Meia Noite em Paris”, mas não titubeio em afirmar que esse time da rua Campos Salles seria hoje campeão estadual.

Na sequência esse elenco seria acrescido de Alex, Álvaro, Flecha, Luizinho e Bráulio.

Hoje falamos nos quatro grandes (como o adjetivo grande se apequenou, não?) Nos idos dos 60 e 70 do século passado tínhamos no mínimo 6 times com reais condições de lutar pelo título estadual. Em 1971, com o fantástico Olaria, a soma chegava a 7.

Confiram na Internet as histórias de América e do Bangu.

Vejam os títulos conquistados e os inúmeros bons jogadores por eles revelados (Dé, Aladim, Parada, Bianchini, Ubirajara, Fidélis, Mário Tito, Paulo Borges, Zózimo e Zizinho, por exemplo, foram jogadores do Bangu).

Hoje, como sempre nos lembra o Máximo, operou-se a mercantilização do futebol e o jogador-mercadoria precisa circular e dar lucro num curtíssimo espaço de tempo. Surgem numa temporada e já na seguinte desfilam por campos europeus.

No mesmo passo, transformaram os chamados “times pequenos” em abrigo de jogadores já entrados em anos (que expressão antiga).

A aterradora fórmula consistente em reunir a falta de renovação à senilidade dá ensejo a esse quadro desanimador em que tudo o que se vê são estádios de futebol mais vazios do que salas de cinema (disse-o um repórter da CBN).

Dizíamos ao início que o time montado pelo Olaria em 1971 era patrocinado por uma loja de eletrodomésticos. Nos tempos que seguem somos membros do BRIC e conforme declaração de nossa impoluta presidente (caráter sem jaça, também, eu suponho) estamos sendo vitimados por um tsunami financeiro.

Ora, com quadro tão favorável porque escasseiam recursos que viabilizem os chamados pequenos (não falo de recursos públicos, que isso fique bem claro). Onde estão os patrocinadores? Há toda uma estrutura a ser montada. Há jogadores a revelar. Sua marca vai aparecer na tela do Plim-Plim numa dessas tardes dominicais. Vale a pena!!!

Enquanto isso, prosseguimos na tediosa rotina travada entre os 4 grandes. Acaso surja algum inesperado pequeno a intrometer-se nessa festa de bacanas e logo um homem de negras vestes o coloca em seu devido lugar (conforme decisão do Carioca de 2005 – Fluminense x Volta Redonda).

Lembro de um tempo em que a preliminar do jogo principal reunia as respectivas equipes juvenis. A “iluminação” antiga permitia que víssemos o acender dos cigarros no lado oposto da arquibancada. Atualmente a preliminar é o próprio campeonato estadual. Um marasmo tedioso (perdoem a redundância) que, apenas e tão somente, prepara os espíritos para o Brasileirão.

E fica o registro de que o supramencionado campeonato de 1971 foi decidido por Fluminense x Botafogo. O empate favorecia o Alvinegro. A vitória, todavia, coube ao tricolor. O gol de Lula foi marcado aos 42 minutos do 2º tempo, após falta flagrante de Marco Antônio em Ubirajara. Como visto, a única novidade alvissareira ficou mesmo por conta do Olaria. No mais...


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