quinta-feira, 29 de março de 2012

Millôres

Por Tadeu dos Santos


...remete-me ao Millôr Fernandes.

Morou no Méier e também nas proximidades de Pilares, mais precisamente na rua Guarabú.  Li num de seus textos que ele sempre descia a Avenida João Ribeiro caminhando até chegar à rua acima mencionada, bem ali próxima ao Engenho da Rainha. Jornalista de sucesso e um dos homens mais cultos do Brasil deveria diuturnamente ser colocado como exemplo a esses jovens que mesmo sem ter consciência tentam seguir-lhe os passos.

Millôr que, como sabido, se diz um homem livre das amarras de toda e qualquer ideologia, mandou numa dada ocasião um recado para destinatários fartamente conhecidos. A mensagem era curta e grossa e vazada nos seguintes termos: - Gostaria de pedir a todos aqueles que fazem propaganda para bancos que tomam dinheiro de velhinhos aposentados que jamais digam por aí que são meus amigos...”.

O trecho acima, claro, foi escrito num outro contexto, mas define a contento os traços que marcaram a trajetória deste ser cosmopolita.

Vivemosa era da Especialização em todos os setores profissionais e no campo jornalístico a coisa não se passa diferentemente. E tome jornalista especializado em Política,  Economia,  Relações Internacionais,  Cultura,  Saúde e o mais.

Millôr,ao contrário, tinha um conhecimento enciclopédico. Poliglota, escritor de sucesso e excelente tradutor.

No entanto, não era apenas o vasto saber que o extremava dos demais.

Num tempo em que a partidarização alcançou  as redações de jornais, revistas, rádio e televisão e que findam por produzir revistas e jornais que se arvoram em fiéis defensoras do liberalismo econômico por um lado, e outras tantas que se fazem defensoras do crescimento exacerbado do Estado por outro.

Em meio a essa peleja em que os fatos são torcidos e retorcidos para dar sustentação aos mais escusos interesses, padece o bom jornalismo e sofre o leitor, que, na verdade, não lê jornal ou revistas, mas sim, convenhamos, tenta apenas escapar das arapucas postas nas entrelinhas onde os fatos são diuturnamente massacrados.

Pois em meio a tudo isso Millôr seguia incólume a essas injunções.Mantinha-se fiel à sua máxima de que livre-pensar é só pensar.Soube como poucos colocar sua enorme inteligência a serviço de suas mais íntimas convicções.

Perceba-seo quanto é desimportante aferir o erro ou acerto das opiniões porele exteriorizadas. Celebra-se aqui a independência que, emderradeira análise, é traço definidor do único jornalismo que sepode aceitar.

LuizFernando Veríssimo afirmou que a morte de Millôr Fernandes (ocorrida em 27 de março de 2012) deixou o país um pouco maisburro. É verdade.  

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