Por Tadeu dos Santos
O se não joga, reza o adágio popular. E o dito é antigo e como sabemos tem o tempo o condão de conferir ares de verdade às mais rematadas mentiras. Não é, porém, este o caso.
Por mais que sejamos tentados a mandar os fatos às favas e moldar a realidade na exata medida de nossos mais recônditos desejos, eles permanecem lá, incólumes.
Isso, claro, quando as coisas não se passam no escuro de uma sala de cinema. Ali é possível um retorno ao passado com direito à moldagem do futuro. E essa possibilidade de revisionismo nos torna seres prenhes de potência, haja vista que, mais do que prever o futuro, o transformamos.
Mascomo já dizíamos o se não joga e assim é que ano após ano, a fatídica bola de Gigia passa entre a trave e o goleiro Barbosa parana sequência ir ter às redes. Esse determinismo do passado faz com que tape após tape, o salto de Barbosa se dê com aquele átimo de segundo de atraso.
Contam que à saída do estádio era possível ouvir o arrastado dos sapatos tamanho o silêncio provocado por aquela derrota.
E num país onde o perdão recai até mesmo sobre torturadores não houve piedade que lograsse alcançar Barbosa. Há tempos vi um documentário em que ele, com suas enormes mãos, vez mais estampava os olhos opacos e a voz claudicante que nas entrelinhas rogava pelo perdão desnecessário.
Imaginemos ainda que por apenas um segundo, que o pulo de Barbosa foi tempestivo e que a bola foi devidamente encaixada por nosso guarda-metas.
Os fogos e a algazarra seriam a trilha sonora que substituiria o lento arrastar dos pés que então se fez ouvir.
Danilo,Zizinho, Bauer, Ademir de Menezes, Friaça e Chico seriam deuses em nosso panteão e infindáveis seriam os cultos que a eles dirigiriamos.
Seríamos temidos em 1954, sobretudo com o reforço de Nilton Santos, Djalma Santos, Didi e Julinho. Não teríamos o respeito reverencial demonstrado no jogo contra a Hungria e sem a necessidade premente de purgar o complexo de vira-latas de que nos falava Nélson Rodrigues, menor seria o culto dirigido a Pelé.
Não me detenho e assim é que não me furto a imaginar o acachapante resfriado que lançou à cama o indomável Paulo Rossi, justo à véspera do fatídico Brasil x Itália.
Teríamos então a vitória do que se passou a denominar futebol-arte. Nasequência, a exemplo de um daqueles conhecidos efeitos visuaisveríamos o lento desaparecimento de Dunga e de todos os demais volantes que infestaram nossos estádios.
Não nos sentiríamos tentados a macaquear estilos estranhos ao nosso jeito de jogar futebol. Maradona seria menor do que é, eis que teriaa sombra de Zico. Estaríamos livres da geração de 1990, 1994 e2010.
Mas o se não joga e, portanto, nada há a ser feito. Penso nisso erecordo a falta cobrada por Petkovick e a cabeçada de Rondinelli e me sinto um tanto quanto consolado. O se não joga e às vezes isso faz um bem danado.
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