quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Carolina: Colecionadores

Por Carolina Medeiros

O que vejo a minha volta
É motivo de sobra pra revolta
Uma realidade estranha
Que suga a bondade
E incentiva a maldade
O amor, a maior força que é capaz de tudo
Pode virar um grande infortúnio
Ser feliz já não tem mais graça
A vida tem que ter um sentido, não basta algazarra 
Cada um faz seu destino 
Ou então é engolido pelos sentidos
Nada é mais intenso que a própria existência 
Os dramas, as fases, os sentimentos, as alegrias nos fazem sentir vivos
As vezes feliz, contente, triste ou ausente
Querendo sumir, se esconder das escolhas
E encontrar abrigo na própria solidão dentro do coração
Viver é difícil, tem que ter jogo de cintura pra não se perder
Saber viver é uma arte
Dispensa nascer com o dom
É so desenvolver
Fazendo uso de princípios e aprendizados
Princípios pra não se corromper
Aprendizados pra conhecer e poder crescer
Mudar ou permanecer na inercia? 
É um questionamento presente
Em algum momento há de se perguntar
E a resposta nem sempre vai agradar
Somos colecionadores
De diferentes artigos e sabores
Mas sempre com dois lados
Tudo que faz muito feliz
Pode causar uma dor sem fim
Nos perdemos acreditando no pra sempre
Ledo engano
Se ate nossa carcaça não suporta esse tranco
O importante mesmo
É aproveitar o máximo
Usufruir das maravilhas que a vida proporciona
E refletir sobre as atitudes errôneas
So nos resta uma chance
De fazer, sentir, se entregar, ajudar, conquistar, amar, valorizar
Aqui e agora
Desperdício do tempo precioso e único
É o caminho mais rápido pra se chegar ao túmulo 
Cultive o essencial, aproveite o complemento e aprenda com o sofrimento.



‎Por Máximo

"Somos colecionadores
De diferentes artigos e sabores"

Há nestes versos uma sinestesia que me agrada. Os colecionadores em que nos transformamos atropelam uma soma de sensações percebidas por diferentes órgãos dos sentidos. Impossível, de fato, a um velho permanecer incólume, neutro diante da filha que lê. Na vida não existe neutralidade. E o verso seguinte que completa o sentido é um exercício difícil:

"Mas sempre com dois lados"

Não sei se Carolina consegue, mas a indicação da possibilidade revela um esforço louvável. É provável que compreender muito leve a se justificar tudo. Talvez seja útil, mas o velho que lê não alcançaria o equilíbrio ainda que quisesse. É que há o afeto. E quando se ama a isenção vai pro ralo. Quando se ama corre-se o risco do ridículo, pois não há nada mais fadado a uma charge do que a chorumela. Calculem: um sujeito aí pelos seus 50 anos, um poema nas mãos e embaixo a frase: "minha filha".

Seja como for, o fato é que não se pode negar a força desses versos de uma sinestesia, embora sensorial, limpa de gordura piegas. O texto prossegue e, à medida que o leio, ocorre-me o que Apollinaire escreveu, na defesa do cubismo, a respeito de Picasso, o maior desenhista do século passado:

"É o esquecimento depois do estudo."

De fato. Carolina escreve como um jorro. E aqui não há técnica, porque não precisa. O que quer é alívio, livrar-se do estorvo, sem contornos, não definível, por isso, terrífico.

Quando for assim, Carol, venha aqui pra casa.

Saudade.

Um beijo.

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