sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A ideia, boa, mas o problema são “a espuma” e o Brahma da tucanalha

Uma longa reportagem sobre a história fiscal do primeiro mandato do governo Dilma, na perspectiva de um jornal voltado pro mercado. Fácil a compreensão para o ex-secretário do Tesouro, Arno Augustin, aparecer como vilão. As chamadas “pedaladas” – empréstimos dos bancos públicos ao Tesouro contrariando a Lei de Responsabilidade Fiscal (cuja crítica, aliás, merece ser feita, mas isso é outro papo) – são expostas como revelações da atitude de Satanás. Na reportagem, a fonte é um relatório interno dos técnicos do Tesouro, críticos explícitos dos métodos do secretário. 
Arno Augustin tem boas ideias. Ou não são corretas a intervenção do Estado na economia, a desconfiança de um mercado financeiro desfuncional, especulativo, e a certeza de que as agências de risco são “usadas pelos países ricos para impedir políticas de desenvolvimento dos países pobres”? Então, qual o problema?
A “espuma” a que se referira Brizola. A ideia é boa, mas a execução ruim, atabalhoada, errática. Pra que jogar fora 70 bilhões em impostos desonerando folhas de pagamento de construtoras e empresas do comércio varejista, sob a ilusão de estimular o crescimento? Como apoiar-se numa burguesia supostamente “produtivista” contra outra, deletéria, “rentista”?
É a espuma a que Brizola se referia como típica da inexperiência. E como explicar, depois disso tudo, senão pela esquizofrenia, buscar Levy, o principal executivo do Bradesco e desproteger os trabalhadores facilitando ainda mais a acumulação, na versão atualizada do “crescimento primeiro do bolo” pelo ajuste e austeridade?
E as “pedaladas” de Fernando Henrique, também presentes no relatório, relativas a uma operação que precisa ser bem explicada envolvendo a compra de mais de 600 milhões de créditos da extinta Rede Ferroviária Federal e a absorção das suas dívidas junto ao INSS e Refer? Será que o governo Fernando Henrique não comprou o crédito da RFFSA justo pra aliviar a situação das empresas privadas devedoras? Quem são essas empresas? Que tipo de relações mantinham com o governo de Fernando Henrique?
E é este tipo que aparece como um Brahma, sentado no poleiro-mor, com a tucanalha à volta, ontem, em Brasília, pedindo “moralidade” política.
SRN
Documentos inéditos obtidos pelo Valor revelam os bastidores de tensas reuniões de governo em torno da política fiscal no primeiro mandato de Dilma
VALOR.COM.BR

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