Quando veio pro
Flamengo, no meio da década de 80, já não era mais o "Doutor
Sócrates", do passe perfeito, o calcanhar único de ante-visão. Queria
viver o Rio e virar o carioca em que todos se transformam venham de onde for.
Merecia o Rio, assim como o Brasil mereceu a "Democracia Corinthiana” que
ajudou a implantar num dos ambientes mais reacionários e obscurantistas que é o
mundo da bola. Uma experiência simbólica, em que não havia distinção de
"classe", presidente, diretor, jogadores, roupeiros, todos, enfim, tinham um único e igual voto pra decidir a
vida do Corínthians (pra desgosto do goleiro Leão, como era típico), num
momento de transição política que nos daria o maior movimento de massas da
história do país: as 'Diretas Já", em 84, que se frustraria, num Congresso
que se sabia viciado pela ditadura rumo a um colégio eleitoral para a
"Nova República" (a sorte de Tancredo foi ter morrido e assim poder
entrar pra história).
Talentoso também com as palavras, escrevia bem expondo-se
com todas as suas contradições, que, ao contrário das dos oportunistas, era o
próprio fígado. Pois as contradições dos oportunistas não têm risco e logo
resolvidas com a oferta disponível, ao passo que contraditórios como Sócrates
são daqueles que, mudando a realidade, mudam o discurso, aparentando apenas
incoerência. Não à toa que o mesquinho prega a coerência a todo custo. Reparem.
SRN
Nenhum comentário:
Postar um comentário