sexta-feira, 9 de julho de 2010

Alonso, Tapia, Xavi, Miró, Iniesta, Picasso


Por Tadeu dos Santos

O recente futebol brasileiro conseguiu criar um diferencial para extremar os volantes dos meias. Os primeiros são especialistas na roubada da bola. Pontificam esse grupo o Williams, Felipe Mello, Josué, Gilberto e tantos outros. Assemelham-se àqueles cachorros que tão logo se deparam com a bola, lançam-se sofregamente à sua disputa e quando já investido, com título e tudo, na posse da mesma ficam atônitos sem saber o destino correto a lhe ser dado.

Os meias são aqueles que interligam os diversos setores do time. Também cabe a eles ditar a cadência do ritmo do jogo. São vistosos e dão um trato de primeira à bola. Gérson, Didi, Geraldo e Paulo Henrique Ganso são exemplos soberbos de meias. Todo e qualquer time que tenha um bom meia pode se dar ao luxo de não ter um Kaká. A razão é de cristalina clareza. Entre um jogador que corre com a bola e um outro que faz a bola correr, opto pelo que conhece os elementares princípios da física.

Já os espanhóis puseram a culinária em estrita sintonia com o futebol. Acreditam na produção do sabor que se dá a partir da mistura de diversos elementos. É a paella espanhola (paeja). Os mariscos e os mexilhões estão fundidos com o tempero. No fundo há o tênue gosto do azeite ressaltando a medida exata de açafrão. Bons pratos são assim. Os elementos se combinam, se misturam e ao final geram algo novo. Inteiramente diferente, mas ainda dependente dos elementos que lhes deram origem.

Naquele vetusto jogo procurávamos por Wally. Já na seleção espanhola o desafio é localizar e caracterizar os meias e os volantes. Todos ali são sabedores do antigo e elementar princípio que pugna pelo rolamento dos corpos redondos. E todos fazem com que a bola vá pra cá e pra lá ao sabor de um mero toque. E ela segue alvissareira, impoluta, livre, leve e solta. Vai de pé em pé. Dá-se à volúpia. Não tem um dono pra chamar de Kaká.

A Espanha de Busquets, Xavi Alonso, Xavi, Fabregas e Iniesta retoma o conceito do futebol que se faz poesia.

Aboliram os chutões do goleiro na reposição da bola em jogo. Apenas em alguns escanteios a bola é alçada em direção à área. São desnecessários os laterais rompedores à moda Maicon.

O futebol à espanhola é um bálsamo à beleza e um longo e agradecido panegírico à simplicidade. Tornar simples e inteligível aquilo que uns poucos pretendem complexo é tarefa peculiar aos que enxergam além.

Certamente não é na diversidade de fórmulas que encontra o futebol o seu sopro vital. Não importa se é 4-3-3, 4-4-2 ou qualquer outra combinação que o tirano da vez nos pretenda infundir.

Talvez o futebol consista na simples reunião de alguns devotos da deusa bola. A torcida entoa cânticos, os jogadores ensaiam os passos ancestrais e a beleza vem. Ela sempre vem.

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