“ A seleção brasileira é uma vergonha para os torcedores e para o torneio ”
Johan Cruyff
Eis que é chegado o momento de Sir Ricardo Teixeira escolher o novo vassalo que exercerá o cargo de Técnico da Seleção Brasileira. De pronto, sabemos que o novo aí inserido, cumpre mero efeito de composição fraseológica.
Na realidade, nada se fará novo. O substituto repetirá, com novas palavras e formas, todo o receituário daquele a que se propõe substituir. O script está pronto e não admite variações. Prosseguiremos apostando na segurança e se algum traço de beleza surgir, também ele se fará caudatário da segurança a qualquer custo.
Urge retomar o conceito de futebol-arte. Precisamos nos enxergar no futebol jogado pela seleção. Queremos voltar a chamá-la de nossa. Mas o cenário que se vislumbra não é nada auspicioso. Tínhamos o time de Dunga e teremos agora o time do seu substituto. Em que pese o futebol se constituir num elemento fundamental de nossa cultura, tudo o que se nos é dada é a função de meros espectadores.
À frente dos negócios prosseguirá o indômito Sir Teixeira, o Imperador. Digo isso e logo constato a imensa injustiça que cometo ao nosso último imperador constitucional. A excelente biografia D. Pedro II de José Murilo de Carvalho, Cia das Letras, 1ª edição, 2007ª, São Paulo.- nos dá conta de um homem pouco afeito ao poder, um cultor das artes e da ciência e extremamente honesto. Sentia ojeriza pelas pompas ínsitas à sua função. Vivia a repetir que o dia em que não mais o quisessem como imperador iria lecionar e certamente seria mais feliz. Exercia suas funções nos exatos termos dos dispositivos constitucionais. Era um legítimo Republicano, qualidade que, decerto, não era desfrutada por Deodoro da Fonseca.
Como visto é de cristalina injustiça dirigir o termo imperador ao Sir Ricardo Teixeira que, no exato contar das moedas, não passa de um vetusto Senhor Feudal, do tipo que exige até mesmo o direito de pernada.
“O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Com os olhos postos nesta frase é que pugno pelo revezamento na direção da CBF. É de todo insuficiente a mera substituição do vassalo. Acabemos com a vassalagem. Que se dê um fim ao Feudalismo.
É imprescindível a formação de um órgão colegiado (renovável) com poderes decisórios na cúpula da CBF. Lá se faria presente a imprensa. Calma lá. Falamos da verdadeira e não dos engradados-áulicos que infestaram o continente africano.
Lá também se faria presente a torcida. Por que não? Convenhamos que no derradeiro frigir dos ovos a torcida é a única detentora de legitimidade. Como somos importantes. Lamentável que vivamos a nos esquecer disso. Renderam-nos as loas da paixão e na sequência nos atribuíram o discurso da desrazão. Somos pois, apaixonados e loucos. Cegos, portanto. E nós, servos da imprensa servil, acreditamos.
Mas que nada. Somos críticos e ativos. Queremos que nos ouçam. Queremos participar. E no colegiado de que estamos a falar teremos a legitimidade que tanto falta ao senhor que ocupa o feudo chamado CBF.
E que o novo técnico represente democraticamente as aspirações que os diferentes atores sociais tem acerca daquela que então designar-se-á “a nossa seleção”. Só assim o futebol, esse fundamental e ímpar aspecto da cultura popular, não parecerá um ideia fora do lugar.
É muita utopia? Creio que não. Seja como for, a utopia é um excelente alimento espiritual. E que venham os tempos de saciedade.
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